por Anna Paula Buchalla

A perfumista  Christine Nagel - Foto: Divulgação

A perfumista Christine Nagel – Foto: Divulgação

Como traduzir o espírito Hermès em um frasco de perfume? Essa é a missão, desde o início de 2016, de Christine Nagel, uma das principais perfumistas do mundo e o nariz “in house” da maison. Sua assinatura está por trás de dezenas de criações para Jo MaloneJimmy Choo, Christian Dior e Dolce & Gabbana. Na Hermès, ela recebeu os créditos por sucessos imediatos como Eau de Rhubarbe Ecarlate, Galop d’Hermès e, agora, o novíssimo Twilly d’Hermès.

Tendo a missão de trazer à marca, com forte herança tradicional equestre, o espírito de inovação e liberdade da mulher moderna, Nagel quis criar uma fragrância única, unindo tradição e modernidade, em que uma pudesse beber da fonte da outra. Seu foco nesta mais recente criação são as millenials: “mulheres jovens, ativas, que fazem tudo ao mesmo tempo. Assim como suas mães, elas usam o carré (lenço) da Hermès, mas não necessariamente amarrado ao pescoço e, sim, de formas inusitadas – sobre o busto, como cinto ou em volta do pulso”, explicou a perfumista.

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Ao concentrar o novo perfume em três ingredientes, gengibre, sândalo e tuberosa, ela criou um blend com toque oriental cujo resultado é simplesmente espetacular. Um cheiro inusitado, altamente energético, elegante e jovem ao mesmo tempo, mas que pode ser usado por mulheres de todas as idades. Bazaar conversou com Nagel em sua passagem por São Paulo para o lançamento do novo perfume. Ela fala sobre os vários aspectos de uma fragrância, construções olfativas e suas inspirações ao criar Twilly d´Hermés:

Como definir o espírito Hermès em um frasco de perfume?
A Hermès tem uma linda e longa história e minha inspiração já começa daí. Como perfumista, minha missão é chegar a uma fragrância que traduza a casa de criação. Mas ao mesmo tempo em que a marca tem essa forte tradição, há também um lado de modernidade, criatividade que busquei resgatar em Twilly. Antes de ingressar na Hermès, eu tinha a imagem de uma maison evidentemente muito bonita, mas extremamente clássica. Mas, uma vez lá dentro, descobri muitas cores, sonhos, muita alegria. Acho que essa é uma faceta que não identificamos imediatamente, mas que está nas minhas criações. No caso de Twilly d’Hermès, tracei um paralelo com o que vejo hoje das jovens mulheres, ou das meninas. Elas nunca estão sozinhas, fazem tudo juntas, sempre andam em bando.

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O que você descobriu ao observar as millenials?
Eu percebi que essas meninas não abandonaram certos códigos tradicionias. Se elas podem ter um carré Hermès, seja herdado de sua avó ou comprado em um mercado, eles vão usá-lo, mas de um jeito totalmente diferente: amarrado em volta do busto, como um cinto, como um porta-chaves, enrolado nos pulsos. Então pensei: por que não oferecer a elas algo com um toque de tradição, mais com modernidade e criatividade?

O cheiro de Twilly d’Hermès é surpreendente. O que torna o perfume tão especial?
Eu queria fugir dos aromas doces e caramelizados e busquei algo mais oriental. Pesquisei um tipo específico de gengibre, com raízes frescas, que aqui foi usado em abundância. Nunca antes ele havia sido usado nessas quantidades, mantendo o frescor. Foi algo que fiz pela primeira vez na perfumaria. Juntei a ele a tuberosa, que não é exatamente uma flor bonita, mas se destaca em qualquer vaso. Ou seja, não é indiferente. Normalmente, ela é usada em perfumes bem femininos, mas me dei conta de que, se usada de forma moderada, daria esse toque de “menina”. E, por fim, usei sândalo, um tipo de madeira muito frequente nos aromas da Hermès, mais leitosa e com um toque “carnal”. O resultado é uma fragrância jovem, com espírito de liberdade.

Como é seu processo de criação?
Ele começa com uma tela em branco, o que é ao mesmo tempo assustador e altamente desafiador. Eu começo todas as manhãs com o cheiro dos aromas que trabalhei no dia anterior. À noite, pulverizo as fragrâncias em tiras de tecido e, no dia seguinte, vou senti-las secas para só depois sentir na pele. Se você entrar no meu laboratório, vai ver que uso adesivos de diferentes cores nos braços, para testar os mais variados aromas na minha pele. Curiosamente, não uso perfume com muita frequência porque minha pele é meu objeto de trabalho e ela deve estar livre para testar novas fragrâncias.

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Toda mulher deve ter seu “perfume-assinatura”?
Eu acredito que um perfume tem a ver com um momento. É algo que vai mudando ao longo dos anos. Eu mesma já mudei várias vezes as minhas preferências. Mas o fato é que muitas vezes ganhamos um perfume em datas especiais, como aniversário, mas usamos algumas vezes e nunca mais. Só deixamos na nossa pele aquilo que realmente nos agrada. Essa liberdade de escolher é essencial.

Você já criou perfumes icônicos. Tem um preferido?
O meu perfume preferido é sempre aquele em que estou trabalhando no momento. Eu simplesmente me apaixono, independente de ser ou não um sucesso comercial. Uma vez finalizado, eu já me apaixono pelo próximo. Cada um corresponde a uma era, um lugar. Mas se tem um perfume que sempre me surpreende e ainda me acompanha é o Bois des Iles, um frasco bem antigo da Chanel.