
Karen Bachini Beauty – Foto: Leca Novo
Nos últimos anos, nos acostumamos e nos adaptamos à tendência clean girl, que dominou o cenário da beleza e da moda. Maquiagem minimalista, pele impecável e cabelos sempre bem alinhados foram, em grande parte, influenciados por celebridades como Sofia Richie, Hailey Bieber e outras it girls, digamos, comportadinhas (pelo menos na aparência). Parece que o movimento dá sinais de cansaço e, em seu lugar, ousadia e irreverência ganham espaço. A inspiração bebe de várias fontes: do surrealismo, que completa seu centenário este ano, a um súbito encantamento por filmes de terror, passando pelas influências do punk que vibram por aí. A estética tem algo de caótica, é, na maioria das vezes, estranha, mas deliciosamente divertida.
Expliquemos: com o retorno da música e do visual emo, resgatados pela Gen Z e reverenciados pelos antigos fãs em um claro flerte com a nostalgia, impulsionou-se uma nova onda de roqueiros emotivos, a exemplo dos que fizeram sucesso nos anos 2000. Já no cinema, os últimos filmes de terror, drama e suspense, com suas maquiagens e efeitos especiais impressionantes, ganharam os holofotes. Obras como Pobres Criaturas, A Substância, Alien: Romulus, O Pinguim, Longlegs, entre tantas outras, escancaram o diferente, quase esquisito, como parte do show.
No mundo real, também muito influenciado por Hollywood, maquiadores ganharam passe livre para criar. A drag queen e make-up artist Alexis Stone conquistou reconhecimento por suas transformações com o uso de próteses nos dentes, perucas e outros efeitos especiais. Após se caracterizar de Miranda Priestly, personagem de O Diabo Veste Prada, Jennifer Coolidge, Glenn Close, entre tantos outros artistas (já foram mais de 250 celebridades homenageadas), no último desfile da Balenciaga, em Paris, Alexis viveu Jack Nicholson por um dia. A produção, extremamente fiel e detalhada, impressionou. Se, na fila A, pode haver flertes com o imaginário e o exagerado, nas passarelas, tudo também pode acontecer. Nas últimas semanas de moda, nacionais e internacionais, lábios pretos, unhas extremamente elaboradas, piercings, acessórios para o rosto, próteses dentárias, lentes de contato, sobrancelhas descoloridas e cabelos curtos e bagunçados marcaram presença.
Para o maquiador Helder Rodrigues, essa estética estranha é praticamente um movimento político. “Maquiagem é liberdade, está ligada a vontades e desejos. Essas tendências são um convite para as pessoas ousarem e se divertirem. E, justamente por isso, carregam nelas uma leveza, apesar do visual pesado”, afirmou. Novos produtos de beleza já seguem a tendência de atitude mais rebelde e livre, seja nas cores, texturas ou na forma de aplicar. A começar pelas maquiagens que mudam de cor conforme o PH da pele, que trazem um quê de exclusividade. Camaleônico é também o Black Honey, batom da Clinique que vai do intenso ao translúcido. Famoso no TikTok por deixar os lábios com efeito “borrado”, a linha acaba de ser ampliada no Brasil, agora com lápis para os olhos, blush, lip oil e gloss. Marcas de influencers como Bruna Tavares e Karen Bachini também investiram em cores fortes e acabamentos inusitados. Nos olhos, o esfumado segue tendo seu lugar ao sol, mas os cílios ganharam máscaras em tons como bordô e até branco. No quesito visual esquisito, a maquiadora britânica Isamaya Ffrench segue sendo referência. Em sua marca de make homônima, os produtos têm cores holográficas e texturas diferentonas. Mas nada se compara ao visual das embalagens, algumas com formatos de pênis. O autêntico estilo Y3K, que remete ao ano 3000. Olhando para o futuro a longuíssimo prazo, o feio pode ser belo e vice-versa. Por que não?