Gianni e Donatella Versace – Foto: Divulgação/Versace

A história da Versace é marcada por luxo, ousadia e reinvenção — mas também por tragédia e resiliência. À frente desse império esteve Gianni Versace, um dos maiores estilistas do século 20, cuja visão estética mudou os rumos da moda para sempre. Ao seu lado, desde sempre, esteve Donatella Versace, irmã, musa e, depois da tragédia, guardiã do império.

Gianni nasceu em 1946, em Reggio Calabria, no sul da Itália, e cresceu entre linhas e tecidos no ateliê de sua mãe costureira. Com talento precoce e espírito inquieto, mudou-se para Milão e fundou, em 1978, sua própria marca. Foi aí que o mundo conheceu a Versace: extravagante, sensual, inspirada na mitologia grega, na opulência do barroco, na rebeldia punk e na cultura pop.

Seus desfiles eram acontecimentos. Ele foi pioneiro ao transformar modelos em supermodelos e estilistas em celebridades. Criou figurinos para Madonna, Elton John, Michael Jackson, Tina Turner e para o balé e a ópera. Trouxe o corpo para o centro da moda com ousadia, celebrando a liberdade como um ato estético e político.

Donatella e Gianni Versace – Foto: Divulgação/Versace

Mas tudo mudou em 15 de julho de 1997, quando Gianni foi brutalmente assassinado em frente à sua mansão em Miami Beach, a icônica Casa Casuarina. Era manhã, e ele havia acabado de voltar de sua caminhada até uma cafeteria próxima. Dois tiros à queima-roupa — um na cabeça, outro no pescoço — o derrubaram nas escadarias da própria casa. O autor do crime era Andrew Cunanan, um serial killer americano de 27 anos, já procurado pelo FBI por outros quatro assassinatos cometidos em uma espiral de violência sem explicação clara. A polícia jamais descobriu com certeza o motivo do ataque. Cunanan se suicidou oito dias depois, deixando para trás apenas teorias e comoção.

A morte de Gianni foi um choque profundo. Seu funeral, em Milão, reuniu figuras como Lady Diana, Naomi Campbell e Elton John, todos em lágrimas. Mas, do luto, nasceu também um novo capítulo.

Donatella, até então vice-presidente criativa e colaboradora íntima do irmão, assumiu a direção da marca em um momento delicado. Sob o olhar desconfiado da indústria, ela provou que não era apenas uma extensão de Gianni, mas uma força criativa com visão própria. Comandou coleções que mantiveram o DNA exuberante da Versace, mas o adaptaram à nova geração: menos literal, mais afiada, ainda provocante. Tornou-se, ela mesma, um ícone de estilo, conhecida por sua imagem inconfundível — loira platinada, bronzeada, irreverente — e por sua capacidade de manter viva uma marca que nasceu com tanto brilho e quase se apagou na dor.

Donatella Versace – Foto: Reprodução / Instagram @donatella_versace

Em 2018, a família Versace vendeu 100% da empresa para o grupo americano Capri Holdings — também dono de Michael Kors e Jimmy Choo — por cerca de US$ 2,1 bilhões. A venda foi estratégica, com Donatella permanecendo à frente da direção criativa. Mas o império ainda teria mais um movimento surpreendente: em 2025, o grupo Capri foi adquirido pela Prada Holding, liderada por Miuccia Prada e Patrizio Bertelli. Assim, a Versace voltou simbolicamente ao controle italiano — um retorno às origens mediterrâneas de um nome que sempre representou mais que moda: representou poder, drama, desejo e arte.

Hoje, a marca segue como um dos pilares da moda global. Gianni é lembrado como um mestre que desafiou convenções, que transformou o vestuário em afirmação, espetáculo e emoção. Donatella, como a mulher que manteve esse império de pé — com coragem, talento e fidelidade àquilo que o irmão acreditava.

Versace não é apenas uma marca. É uma história de beleza e tragédia, de dor e permanência. Um lembrete de que até mesmo sob os holofotes mais brilhantes, há sombras — mas que da escuridão, pode surgir ainda mais força. E que o verdadeiro luxo não está só nas roupas, mas na capacidade de resistir, reinventar e permanecer inesquecível.