
Fora de Controle – Foto: Divulgação
Por Paula Jacob
A partir do dia 27 de novembro, o 16º Festival de Cinema Francês do Brasil toma conta da programação de diversas salas de cinema por todo o país. Com uma seleção de 20 filmes exibidos em festivais internacionais, como Cannes e Veneza, a curadoria deste ano faz um convite para a audiência conhecer de perto a variedade de temas e recortes da produção cinematográfica contemporânea, marcada por comédias, dramas, thrillers e até animação.
A programação ainda combina nomes consagrados da cena francesa, como François Ozon e Valérie Donzelli, com talentos da nova geração, entre eles Amélie Bonnin. Isabelle Huppert, convidada de honra, Omar Sy, Vanessa Paradis, Pio Marmaï, Bastien Bouillon e Roschdy Zem também são alguns nomes que se destacam nas produções. Aqui, selecionamos 8 filmes que achamos valer a pena assistir:

O Estrangeiro – Foto: Divulgação
O Estrangeiro
Ousado como de costume, François Ozon encara o desafio de adaptar o clássico de Albert Camus, L’Étranger (1942), e recria a atmosfera árida da Argélia dos anos 1930. Meursault, um homem apático, guiado apenas pela lógica fria do cotidiano, atravessa a vida como espectador, indiferente à morte da mãe, ao amor possível e às convenções sociais. Essa ausência de afeto o conduz a um assassinato que expõe o peso do colonialism. Ozon adiciona à complexidade literária a sua própria história familiar ligada à Argélia. O resultado é um filme de um elegante desconforto sobre o sentimento de deslocamento – de si e do mundo.

A mulher mais rica do mundo – Foto: Divulgação
A Mulher Mais Rica do Mundo
Isabelle Huppert estrela como Marianne, herdeira bilionária cuja vida perfeita desaba quando um fotógrafo jovem e ambicioso entra em seu círculo íntimo. O encontro acende uma relação tão platônica quanto envenenada, despertando rivalidades familiares e desconfianças. Entre mansões impecáveis, olhares calculados e um mordomo que sabe de tudo, o filme é livremente baseado no caso Bettencourt, que envolveu a herdeira do império L’Oréal. Apesar da estética pomposa, o diretor Thierry Klifa está interessado em mergulhar no brilho frágil do privilégio.

Mãos à obra – Foto: Divulgação
Mãos à Obra
Inspirado no livro À pied d’œuvre, de Franck Courtès, este drama introspectivo acompanha a jornada de um fotógrafo que abandona a estabilidade da carreira para perseguir um sonho antigo: escrever. O que poderia soar como uma reinvenção se torna um mergulho inesperado na precariedade, revelando o preço (material e emocional) da liberdade criativa. Dirigido com extrema honestidade por Valérie Donzelli, o filme observa esse homem movido por uma paixão sem glamour, guiado apenas pela necessidade íntima de criar. A cineasta ainda toca em questões importantes como a uberização do trabalho e a falsa ideia contemporânea de liberdade.

O Segredo da Chef – Foto: Divulgação
O Segredo da Chef
Filme de abertura do Festival de Cannes 2025, O Segredo da Chef transforma o retorno à cidade natal em uma jornada afetiva com música boa e uma narrativa permeada por segundas chances. Cécile (Juliette Armanet), jovem chef em ascensão prestes a inaugurar seu restaurante em Paris, precisa pausar seus sonhos quando o pai adoece. Mas não é só ele que ela precisa encarar: antigos amigos e afetos estagnados também precisam de atenção para que ela, enfim, possa encarar novos desafios. Unindo carisma e despretensiosidade, Amélie Bonnin dirige um cotidiano com gosto agridoce, que mostra a força das escolhas (e como elas nos transformam).

Fanon – Foto: Divulgação
Fanon
Jean-Claude Barny transforma a vida do icônico pensador anticolonial Frantz Fanon em um retrato cinematográfico profundamente humano. Ambientado na Argélia dos anos 1950, o filme acompanha Fanon no momento em que sua atuação como psiquiatra se choca com a violência estrutural do colonialismo, abrindo caminho para a consciência política que marcaria sua obra. Misturando estética autoral, pulsação caribenha e rigor histórico, Barny constrói um drama tenso e sensorial, em que dilemas éticos, tensões sociais e poesia visual se entrelaçam. Longe de ser apenas uma cinebiografia, Fanon dialoga com debates contemporâneos sobre raça, poder e memória – que ilumina, inclusive, as urgências do presente.

13 dias 13 noitas – Foto: Divulgação
13 dias, 13 noites
Inspirado em eventos reais, este filme transforma a queda de Cabul em um thriller sobre coragem e sobrevivência. No centro da história está o comandante Mohamed Bida (Roschdy Zem), responsável por proteger a Embaixada da França enquanto multidões de afegãos buscam refúgio no último bastião possível. O diretor Martin Bourboulon recria essa travessia desesperada rumo ao aeroporto com grande escala visual, mas sem perder de vista os gestos íntimos de medo, solidariedade e resistência. Entre jornalistas, voluntários e famílias separadas pelo desespero, 13 dias, 13 noites revela um retrato de um mundo em colapso, onde cada decisão pode significar vida ou morte.

O apego – Foto: Divulgação
O Apego
Sandra, mulher independente e pouco afeita à maternidade, vê sua rotina virar de cabeça para baixo quando passa a cuidar temporariamente do filho da vizinha — e, pouco a pouco, cria laços com esse núcleo fragilizado. Com sensibilidade, Carine Tardieu observa afetos que se constroem sem alarde: tensões, silêncios, pequenas alegrias e vínculos que se reinventam. Valeria Bruni Tedeschi brilha em um dos papéis mais íntimos de sua carreira, guiando um filme que fala de luto, acolhimento e como novas formas de família podem nascer do imprevisto

Fora de Controle – Foto: Divulgação
Fora de Controle
Anne Le Ny transforma um drama conjugal em um thriller sobre insegurança e obsessão. Após 15 anos de casamento, Marie e Julien veem sua vida pacata ruir quando a antiga paixão dele ressurge. Tomada pelo ciúme, Marie se envolve com um colega de trabalho, mas esse jogo de sedução logo passa a ter contornos perigosos. A cineasta observa com precisão o desgaste da rotina e as fantasias que alimentam decisões por impulso. Com Elodie Bouchez em um desempenho visceral e Omar Sy trazendo carisma e vulnerabilidade, o filme explora a fragilidade dos vínculos e o abismo que pode se abrir a partir de um único deslize.

