Por Luísa Graça
O universo de Florence Welch é extravagantemente romântico e denso, cheio de simbolismos sombrios. Desde o lançamento de seu primeiro disco, Lungs, de 2009, ela se mostra em imagens fantasmagóricas, sendo consumida em água ou de alguma forma fazendo referências à morte, tal qual uma pré-rafaelita pós-moderna, como muitos gostam de descrevê-la. Seu segundo disco, Ceremonials (2011), foi uma sequência desse sonho de romance meio gótico e febril. No palco, ela é uma verdadeira força, com seus cabelos ruivos soltos e uma figura impossivelmente esguia, geralmente drapeada em figurinos meio ciganos, darks e ousados, de terninhos Miu Miu e Gucci a vestidos Givenchy e Alexander McQueen, fazendo sua dança da chuva hippie (hipster?), muitas vezes com pés descalços, e se jogando no chão enquanto canta.
Seu mais novo trabalho parece ser uma evolução disso tudo, um passo adiante na jornada da cantora, que, dessa vez, se despe de metáforas para tentar encontrar sua silver lining. Depois da turnê de Ceremonials, que passou pelo Brasil em 2012, Florence decidiu tirar uma folga que a ajudou a entender que o sucesso profissional pode ser uma ferramenta para não lidar com uma vida pessoal não tão bem-sucedida. Não trabalhar como artista por um período a forçou a encarar certos demônios. How Big, How Blue, How Beautiful talvez seja o resultado desse período. O terceiro disco tem, sim, a identidade do universo Florence and the Machine, igualmente dramático, mas em um contexto mais natural, cru e suave. A começar pela capa, um retrato em preto e branco, sem grandes intervenções de design e estilo e com uma tipografia mais minimal, um tanto diferente da arte dos álbuns anteriores.
“Acho que sempre lidei com fantasia e metáfora em minha escrita, e as músicas, agora, são muito mais baseadas em realidade”, explica sobre o novo disco. “Em Ceremonials, havia uma fixação com morte e água e uma ideia de escape e transcendência pela morte, mas o novo disco é muito mais sobre tentar aprender a viver e a amar neste mundo, do que tentar escapar dele. O que é bastante assustador, pois não estou me escondendo atrás de nada, porém, era algo que senti que precisava fazer.”
How Big… foi gravado em 2014, com produção de Markus Dravs, que já trabalhou com Arcade Fire e Björk no disco Homogenic, um dos favoritos de Florence. É seu trabalho mais pessoal até hoje. “Queria fazer algo que tivesse calor, que fosse enraizado. Por isso, optamos por voltar a instrumentos, algo que fosse conduzido por banda”, conta sobre a produção que equilibra o orgânico com o eletrônico. Na música- tema do disco, trombetas soam e preenchem o final da faixa de maneira grandiosa – afinal, ainda é o pop monumental tão característico da britânica. “É algo parecido com o amor: uma sessão de metal sem fim que explode no espaço e te leva junto. É isso que a música é para mim. Você só quer extravasar interminavelmente, é o mais incrível dos sentimentos.”