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Salomão Borges Filho

Lô Borges, cantor, compositor e um dos fundadores do movimento Clube da Esquina, partiu neste domingo (2), aos 73 anos, em Belo Horizonte. Internado desde outubro, o artista deixa uma obra que transcende o tempo — uma sonoridade que uniu melancolia e luminosidade, Minas e o mundo.

Desde muito jovem, Lô parecia traduzir em acordes o silêncio e as montanhas de Belo Horizonte. Com apenas 19 anos, lançou ao lado de Milton Nascimento o álbum Clube da Esquina (1972), uma das obras mais revolucionárias da música popular brasileira. Misturando influências do rock progressivo, do jazz e da bossa nova, o disco inaugurou uma estética sonora e poética que falava de amor, liberdade e pertencimento com uma doçura singular.

Logo depois, veio o lendário disco do tênis — um manifesto de juventude e experimentação que, com o tempo, se tornou cultuado por gerações de músicos e ouvintes. Em cada faixa, Lô revelava um universo de delicadeza e introspecção, uma “mineiridade” que era menos geográfica e mais emocional: o olhar silencioso sobre a vida, o afeto contido, a beleza que habita o cotidiano.

Sua influência ecoa até hoje em artistas, que resgatam essa sensibilidade entre o urbano e o espiritual, entre a poesia e a canção. Lô Borges ajudou a criar não apenas um som, mas uma atmosfera — uma forma de sentir o Brasil.

Sua partida encerra um dos capítulos mais luminosos da música brasileira, mas sua voz continua reverberando como um eco suave nas colinas de Minas.