
Casa fica localizada em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo (Foto: Ruy Teixeira)
A residência que João Batista Vilanova Artigas projetou em 1974 para a família do engenheiro Alfred Domschke, em Santo Amaro, em São Paulo, abre ao público, neste domingo (13.08) para a Aberto 02 – segundo evento presencial da plataforma que integra arquitetura, arte, e design. Ícone da arquitetura paulista, o espaço – que abre ao público pela primeira vez – recebe centena de obras, com ampla diversidade de estilos, temas, gerações e origens e foi restaurada especialmente para a realização do evento com curadoria de Claudia Moreira Salles, Kiki Mazzucchelli e Filipe Assis, idealizador do evento.
“Quisemos escolher obras que fizessem a pessoa sair de casa”, diz Filipe, ao enfatizar a qualidade dos trabalhos selecionados. “Ganhamos corpo tanto nas artes como no design”, acrescenta ele. No segmento secundário, há uma ampla lista de atrações, nacionais e internacionais. Destacam-se Tarsila do Amaral, Sérgio Camargo, Lygia Pape e Cildo Meireles. Além de cerca de 20 trabalhos comissionados, que interagem com o espaço e com outros trabalhos de forma cuidadosa.

Na piscina, obra ‘Furor de peito e remela’ (2022), de Davi de Jesus do Nascimento, e ‘Los Carpinteiros’, de Clavo Dieciocho (2015) | Foto: Ruy Teixeira
A mostra antecipa o burburinho artsy, que deve se expandir no próximo mês, com a abertura da Bienal de São Paulo – de setembro a dezembro. Entre os destaques da atual seleção, estão a tela Saída do Banho, de Edgar Degas, a pintura Torso e Fita Azul, de Suzanne Valadon, uma das versões da escultura However, de Maria Martins; além de um Trepante de Lygia Clark. As obras de Degas e Valadon estabelecem uma interessante sintonia, pelo tema semelhante – o nu feminino –, pela proximidade entre os dois artistas e também por evidenciar a desigualdade de gênero, expressa no prestígio tardio da pintora, que só mais recentemente vêm obtendo prestígio equivalente a seus pares.
Selecionadas por seu ineditismo, excelência, ou relação com o ambiente que as acolhe, as obras interagem, estabelecendo diálogos ao mesmo tempo intensos e subjetivos, definidos em conjunto pelos três curadores.
Se na primeira versão da mostra, realizada em novembro de 2022 na única residência projetada por Oscar Niemeyer em São Paulo, a tônica histórica e a relação entre a obra do arquiteto de Brasília e trabalhos de matriz construtiva foram muito enfatizados, não há em ABERTO 02 um fio condutor mais geral. Predomina agora um conjunto variável de interrelações que potencializam encontros e iluminam a relação recíproca entre as obras e a arquitetura.

Obra sem título (1983), de Ivens Machado, e ‘Ambiente virtual IV'(2002), de Adriana Varejão (Foto: Ruy Teixeira)
A casa
Com características marcantes da obra de Artigas e do movimento que ele liderou, nomeado de Escola Paulista ou Brutalismo Paulista – como o uso do concreto armado aparente, a ênfase na espacialidade contínua e o protagonismo das rampas, marca registrada do arquiteto, presentes, por exemplo, em um de seus projetos mais célebres, o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Mas a residência no Alto da Boa Vista possui algumas especificidades, como seu tamanho amplo (quase 700 metros), uma organização mais íntima e o uso bastante livre e ousado da cor, o que se vê logo na entrada, no vitral criado por ele. Sua conformação também se adequa melhor a uma exposição diversa como essa, com seus amplos espaços organizados em diferentes patamares, interconectados por recortes que permitem ver entre os volumes.

Detalhe da obra de Kentaro Kawabata Batista (2022) | Foto: Ruy Teixeira
Além das obras de arte, as peças de design, em presença mais reforçada, se beneficiam do espaço arquitetônico. O evento ainda marca uma série de lançamentos, de autoria da também curadora Claudia Moreira Salles, de Humberto Campana e, do próprio Artigas. Serão disponibilizados, pela ETEL, três versões de uma estante que o arquiteto desenhou para sua própria família, num jogo cromático e geométrico um tanto mondrianesco, que remete a outras obras da exposição, como as caixas coloridas de Sergio Sister.
A expectativa dos organizadores é repetir o sucesso da primeira edição, que atraiu cerca de quatro mil visitantes, foi indicada pelos principais jornais como uma das melhores exposições de 2022, e teve seus ingressos esgotados rapidamente, o que levou à abertura de dois dias extras, com doação do valor dos ingressos para a Childhood Foundation.

Detalhe do hall, com cimento aparente e um vitral (Foto: Ruy Teixeira)
Serviço
ABERTO 02
De 13 de agosto a 17 de setembro
Rua Comendador Elias Zarzur, 2036 – Santo Amaro, São Paulo/SP
Aberta ao público, de qua. a dom., das 9h30* às 17h (Última entrada: 16h30)
De qua. a sex., R$ 60; sáb. e dom., R$ 80 (máx. de 10 ingressos por pessoa)
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