
Cantora se apresentou no último fim de semana no Festival Música em Trancoso (Foto: Divulgação)
Por Duda Leite, da Bahia*
Alcione está cruzando o Brasil com sua turnê em celebração aos 50 anos de carreira e será o tema do enredo da Mangueira, no Carnaval de 2024 do Rio de Janeiro. “Menino, minha ficha ainda não caiu”, contou a cantora à Bazaar, na pousada Capim Santo, onde ficou hospedada durante a nona edição do Festival Música em Trancoso, no último fim de semana, na cidade paradisíaca ao litoral sul da Bahia. “A Fernanda Montenegro foi convidada para ser enredo e me disse: ‘Só vou aceitar depois que você for’. Não tive como não aceitar”.
Após uma pausa de três anos por conta da pandemia, o evento voltou com uma programação que misturou música erudita, representada pela OSBA (Orquestra Sinfônica da Bahia) sob a batuta do carismático maestro Carlos Prazeres, o pop de Marisa Monte, além do samba da Marrom. A programação agitou o final da temporada de verão na cidade e levou celebridades e millionettes, como Marina Ruy Barbosa, Bruna Lombardi e Fatima Scarpa, para o Teatro L’Occitane – uma arrojada construção desenhada pelo arquiteto luxemburguês François Valentiny.
A primeira vez que a maranhense Alcione esteve em Trancoso foi a convite de Elba Ramalho. “Ótima anfitriã. E vir à Bahia é sempre uma emoção, ainda mais para esse festival. Aqui o povo vem pra te ouvir”. O show da Marrom, que aconteceu em um palco montado na área externa do teatro, com capacidade para até 3 mil pessoas, teve algumas surpresas, como a inclusão a pedidos da chanson Ne Me Quitte Pas, de Jacques Brel, imortalizada por Edith Piaf. “Sempre gostei do idioma. Fui casada com um francês. De tanto ouvir ele falar com os amigos, fui aprendendo algumas palavras. De repente, já estava falando”. Em 2015, a convite do produtor musical André Midani, fez um show inteiramente dedicado às canções francesas, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. “Disse que um dia faria um disco com esse repertório. Estou devendo essa promessa para o meu público. Uma hora dessas eu faço”, conta.
No início da carreira, nos anos 1970, Alcione morou dois anos em Roma, se apresentando em casas noturnas na região do Trastevere. Durante essa temporada, conheceu o Tony Renis, que compôs Grande, Grande, Grande, um dos maiores sucessos da cantora italiana Mina. “Conheci essa música com Tony. Ele ia sempre me ouvir. Um dia (antes), me mostrou essa música antes de entregar para ela. Acredite se quiser. Eu disse: ‘faça isso, vai ser tudo’. Foi uma grande honra para mim. Ela gravou e foi o maior sucesso. Até hoje, canto nos meus shows”.

Marrom levou ao Teatro L’Occitane a turnê dos 50 anos de carreira (Foto: Divulgação)
Apesar de ser conhecida como uma das nossas maiores sambistas, Alcione tem um jeito de cantar muito parecido com o das divas do Jazz e do Blues norte-americano. “Comecei escutando as cantoras de jazz. Ainda muito jovem, tinha um amigo diplomata no Maranhão chamado Antenor Bogéa. Ele sempre gostou muito de me ouvir cantar. Ele me disse: ‘vou te chamar para ir lá em casa ouvir umas cantoras’. Ele me apresentou Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Mahalia Jackson. Foi através dele que descobri essas cantoras”, conta. E dizia: “como pode alguém cantar assim?”. A primeira vez que ouviu Ella Fitzgerald fazer aquele Bebop ficou “doida. A pessoa tem que saber música para fazer aquilo no ritmo e na harmonia da música. Achei muito legal”. Além de cantar, Alcione aprendeu desde cedo a tocar o trompete. “Às vezes, ainda toco nos meus shows”.
Os looks sempre com muito brilho e suas unhas impecavelmente desenhadas são marcas registradas. “Normalmente, eu mesma escolho meus looks”. Você guarda seus vestidos? “Eu guardo. Mas, às vezes, dou para alguém de presente. Gosto de dar minhas roupas para a galera que trabalha na noite, para alguns transformistas (drag queens) que adoram me imitar. Eles fazem um ótimo trabalho. Eu adoro!”. E como faz para cuidar das unhas? “Agora, não estão desenhadas. O desenho requer tempo. Tem dia que eu não estou com paciência, mas tem dia que acordo a fim de algo com muita lantejoula, brilho e cor. Aí fico horas e horas fazendo”. Você sempre gostou de brilho? “Adoro! Gente, eu sou um viado!”, diverte-se.
Em janeiro deste ano, Alcione participou do Festival de Verão em Salvador onde cantou ao lado de Luísa Sonza. “Ela é muito talentosa. Dessas cantoras da nova geração, também sou fã de Iza – ela nasceu pronta para fazer tudo – e de Ludmilla. Ela tem uma sonoridade na voz muito boa. Eu gosto de funk, embora seja mais da vibe do Reggae, que é bem forte no Maranhão. Mas o funk tem uma levada boa. Funk é alegria”.
Quando o assunto é religiosidade, a Marrom é bastante eclética. Católica, espírita e adepta do candomblé e da umbanda e até cantou para o Papa João Paulo II, no Maranhão. “Sempre rezo antes de dormir. Rezo na hora que acordo, antes do show, antes de viajar. Estou sempre com o pensamento elevado. É assim que eu sou”. Essa good vibe pode ser sentida de longe nos palcos por onde se apresenta e, sem dúvida, estará presente na Marquês de Sapucaí em 2024. Vem, Estação Primeira!
*O jornalista viajou a convite da organização do Festival Música em Trancoso.

Programação agitou o fim de semana no destino paradisíaco (Foto: Divulgação)