
Sarah Jessica Parker como Carrie Bradshaw, em Sex and The City – O Filme (2008) – Foto: reprodução
“Uma mãe”, é o que muitos brincam quando se trata de Carrie Bradshaw, protagonista da série “Sex and The City” e que agora dará seus últimos passos com os saltos agulha da Manolo no último episódio do spin off “And Just Like That”.
Dizer adeus nunca é fácil, especialmente a personagens que — querendo ou não — fizeram parte da sua vida. A amizade entre Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte moldou uma geração de mulheres em vários sentidos, não só na moda, ou como o próprio nome da série dá o spoiler, sexo.
As protagonistas erravam — e muito, tentavam, fracassavam, se apaixonavam, traíam, caíam, suas Fendi baguette eram roubadas bem no coração de Nova York, que diga-se de passagem, era também um dos protagonistas da série. Mas, o mais bonito por assim dizer, era ver elas crescendo e ver que a amizade delas era na verdade, a grande história de amor da série.

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E então me pergunto: quando uma personagem se torna mais real que a própria realidade?
Carrie Bradshaw não é apenas uma personagem — ela é um fenômeno antropológico disfarçado de colunista viciada em Cosmos. Para a Geração Z, que cresceu assistindo reruns no streaming enquanto scrollava no TikTok, Carrie se tornou algo quase místico: a mulher que ousou fazer perguntas inconvenientes sobre amor, sexo e sapatos caríssimos em plena era pré-Instagram.
Sim, ela era problemática — quem mais gastaria o dinheiro do aluguel em um par de Manolos? Mas talvez seja exatamente isso que a torna tão humana. Carrie nunca foi a mulher perfeita que fingimos ser nas redes sociais. Ela era ansiosa, cometia os mesmos erros repetidas vezes e, francamente, tomava decisões questionáveis (Big, anyone?).

Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker, em “Sex and the City” – Foto: Getty Images
Os Relacionamentos: Um Manual de Como (Não) Amar em Nova York
Falemos sobre Big — o homem que transformou uma geração inteira de mulheres em detetives de relacionamento. Quantas de nós não analisamos cada mensagem, cada silêncio, cada “hey” seco como se fosse um enigma cósmico? Carrie nos ensinou que é possível amar alguém por décadas mesmo quando essa pessoa te trata como plano B. Romântico? Discutível. Realista? Absolutamente.
Depois veio Aiden — o homem perfeito no papel que ela conseguiu sabotar com maestria digna de um Oscar. Ele representava tudo que uma mulher “deveria” querer: estabilidade, carinho, um homem que realmente a via. Mas Carrie nos mostrou uma verdade inconfortável: às vezes o que é bom para você no papel não necessariamente acende aquele fogo interno. E isso está okay admitir.
E quem poderia esquecer Aleksandr Petrovsky? O russo que quase a fez abandonar Nova York — e suas amigas — por arte e caviar em Paris. Um relacionamento que nos ensinou que grandes gestos românticos às vezes vêm com pequenas letras: o preço pode ser sua própria identidade.
As Amizades: O Verdadeiro Love Story
Mas sejamos honestas: os homens iam e vinham, mas as amigas eram para sempre. Charlotte, com seu otimismo quase agressivo e sua busca incansável pelo príncipe encantado, nos ensinou que está tudo bem acreditar em finais felizes mesmo quando todo mundo te chama de ingênua. Miranda, a advogada cínica que escondia um coração romântico sob uma armadura de sarcasmo, mostrou que vulnerabilidade e força podem coexistir. E Samantha — ah, Samantha — a mulher que viveu sua sexualidade sem pedir desculpas numa época em que isso ainda era revolucionário.
Juntas, elas criaram algo raro na televisão: uma sororidade real, com conflitos reais. Elas julgavam as escolhas umas das outras, brigavam por homens (lembram do episódio da Samantha e Charlotte?), se decepcionavam mutuamente. Mas sempre voltavam. Porque verdadeiras amizades sobrevivem às tempestades que destroem relacionamentos românticos.
E a verdade é que Carrie se tornou nossa terapeuta não-licenciada favorita
Enquanto outras séries nos vendiam a fantasia da mulher que “tem tudo sob controle”, Sex and The City nos entregou quatro mulheres gloriosamente bagunçadas tentando decifrar os códigos impossíveis da vida adulta. Para a Geração Z — que vive entre a pressão de parecer perfeita no Instagram e a ansiedade existencial de um mundo em colapso — Carrie ofereceu algo mais valioso que conselhos: ofereceu companhia.
Ela normalizou a terapia antes da terapia virar trend no TikTok. Falou sobre dinheiro quando era tabu — quem não se identificou com ela checando o extrato bancário depois de uma shopping session? Questionou se realmente precisávamos de homens numa época em que isso soava quase herético. E, principalmente, mostrou que está tudo bem não saber o que diabos você está fazendo aos 30, 40, ou 50 anos.
Mas sejamos honestas: Carrie também nos ensinou algumas lições questionáveis. Como gastar sua herança em sapatos ao invés de investir num apartamento (okay, era Manhattan, mas mesmo assim…). Como perseguir homens emocionalmente indisponíveis com a dedicação de um stalker profissional. Como transformar cada relacionamento fracassado numa coluna — algo que, ironicamente, a Geração Z faz naturalmente nas redes sociais.
O verdadeiro legado de Carrie não está nas suas escolhas sempre impecáveis (spoiler: elas não eram), mas na sua coragem de fazer as perguntas certas. Em plena era do politicamente correto, ela nos lembrou que é okay ser contraditória, vulnerável e, sim, um pouquinho narcisista. O último episódio de “And Just Like That” pode estar chegando, mas as lições permanecem. Como Carrie diria digitando em seu laptop vintage: “Não conseguimos ajudar mas nos perguntamos… será que alguns amores — e algumas amizades — são verdadeiramente eternos?”
Porque, no final das contas, não são os finais felizes que nos marcam — são as amigas que nos ajudam a sobreviver aos capítulos confusos. E isso, queridas, nunca sai de moda. Afinal, como diria a própria Carrie: “Maybe the real Manolo Blahniks were the friends we made along the way.”