Obra ‘vênus’, que faz parte da mostra multissensorial – Foto: Ana Pigosso

Anna Costa e Silva apresenta a mostra Tamagotchi_Balé, em cartaz a partir deste sábado (06.05), no Centro Cultural Hélio Oiticica, no Centro do Rio de Janeiro. Com vídeos, performances, esculturas e instalações, a exposição tem curadoria de Gabriela Davies e aborda as relações contemporâneas, as distopias digitais – como a virtualização dos afetos – e o fim do erotismo, através de um ambiente imersivo.

“Era um momento político extremamente sensível, de levante de ideias fascistas e via o papel das redes sociais nesse processo. Observava como todos os nossos afetos e relações passavam agora por big-techs, na mesma medida que nos tornávamos uma mistura de avatares de nós mesmos e de marcas pessoais. As relações afetivas se aproximam cada vez mais de relações de consumo”, relembra a artista.

Para a expo, a artista fez escuta de sonhos, com início em 2018, e se estendeu até 2022. Entre essas narrativas, sentimentos sendo programados, terapeutas sendo trocados por inteligências artificiais, uma pessoa que passava a existir apenas em telas, raízes crescendo nas superfícies como se não houvesse mais chão. Além de cidades destruídas e pessoas viciadas em experiências que aconteciam dentro de óculos de realidade virtual, os chamados VR.

Anna Costa e Silva, artista que expõe no centro do Rio de Janeiro – Foto: Maira Marques .jpg

Pesquisa

Na pesquisa sobre subjetividade neoliberal e a virtualização dos afetos, passou por uma série de novos dispositivos de companhia virtual – um holograma desenhado para ser a esposa perfeita; uma boneca sexual programada para expressar emoções e satisfazer seu dono; a inteligência artificial Lamda, que pode estar se tornando senciente, até chegar ao Ministério da Solidão, criado em 2018 na Inglaterra, a partir da percepção de que a solidão é um problema de estado.

Nesse processo de pesquisa, Anna descobriu também Atafona, uma cidade no litoral norte do Rio, que está sendo engolida pelo mar e que materializa, como cenário, os universos distópicos descritos nos sonhos. Uma praia em ruínas, pedaços de construções na areia – e as raízes aparecendo pela superfície, rumo a lugar nenhum, como num dos sonhos.

Performers

Ela ainda convidou um grupo de performers mulheres para explorar essas narrativas e trazê-las para o corpo, de forma que essas histórias escapulissem de um lugar racional e se tornassem gestos, movimentos, imagens. Junto com Maria Clara Contrucci e Manuela Libman, personagens e coautoras dos textos, criou o vídeo central que dá nome à exposição. Mais três completam a experiência imersiva. Um traz Dora Selva, grávida, realizando uma dança pélvica entre as ruínas de Atafona. Outra, apresenta Dani Camara, um ser avatar que anuncia o apocalipse relacional, transformando palavras de Byung Chul-Han, Jonathan Crary, Liv Stromquist, entre outros, em um videoclipe pop-eletrônico. Por fim, há outro vídeo com Carolina Luísa lendo um poema de sua autoria: Amar é um ato políticoi, também gravado naquela cidade.

Feat.

Anna também convidou Darks Miranda – que aparece como feat da exposição, apresentando uma série de esculturas, que criam uma experiência de entrada nesse mundo onírico-distópico-digital. A exposição conta também com uma instalação composta por uma cama, onde o visitante pode deitar e escutar os sonhos narrados a partir da chamada pública, além de um ritual-performance, ao vivo, conduzido pela artista Dual.

Obra “Escuta de sonhos”, parceria com Darks Miranda – Foto: Julia Thompson


SERVIÇO
Tamagotchi_ Balé
De 6 de maio a 3 de junho
Centro Cultural Hélio Oiticica
Rua Luis de Camões, 68. Centro, Rio de Janeiro
De seg. a sáb., das 10h às 18h.
Entrada gratuita