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No coração do Bixiga, em São Paulo, um sobrado de três andares abriga mais do que tecidos, croquis e adereços — ele guarda a pulsação viva do Teatro Oficina. Fundada por nomes como Zé Celso, Renato Borghi e Amir Haddad, a companhia, ícone de resistência e experimentação cênica, encontra na Casa de Acervo.Oficina um espaço dedicado à memória, à criação e à continuidade de um patrimônio que moldou a história do teatro brasileiro.

Inaugurada em 2023, a Casa de Acervo.Oficina reúne mais de 3 mil peças que atravessam três décadas de produções históricas — de Hamlet (1993) e Cacilda! (1998) a Os Sertões (2000–2007), O Rei da Vela (2017), Roda Viva (2018), Esperando Godot (2022) e Mutação de Apoteose (2023/2024). Agora, com o apoio do ProAC 38/2024, o espaço dá início ao Plano de Preservação e Catalogação do Acervo do Teatro Oficina, um projeto que se estende até março de 2026 e marca um novo capítulo na difusão e salvaguarda dessa memória coletiva.

“Preservar esses figurinos é preservar parte da identidade cultural e histórica do teatro brasileiro”, explica Elisete Jeremias, diretora de cena e diretora-geral da Casa de Acervo.Oficina. À frente de uma equipe formada por artistas, pesquisadores e estudantes das áreas de moda, biblioteconomia e museologia, Elisete conduz o trabalho que une o rigor técnico à paixão artística — uma síntese fiel à filosofia do Oficina.

Confira algumas imagens do acervo

Entre os eixos do projeto estão a preservação e conservação do acervo têxtil, com oficinas ministradas pela restauradora Cláudia Nunes, referência internacional que já trabalhou em projetos no Brasil e no exterior. Há também a catalogação de figurinos pela plataforma digital Tainacan, desenvolvida pela UnB em parceria com o Ibram, que permitirá o acesso público e gratuito ao acervo — uma democratização inédita dessa herança cultural.

“Ao digitalizar e catalogar cada peça, estamos deixando um bem cultural para o futuro”, afirma Victor Rosa, ator do Oficina e coordenador-geral do acervo. “Esses registros poderão ser consultados por estudantes, pesquisadores e artistas, enriquecendo o estudo da linguagem teatral e estética da companhia.”

Além da parte técnica, o projeto prevê melhorias estruturais na casa — com adequações de segurança, prevenção contra incêndios e criação de espaços de trabalho — e iniciativas de difusão como entrevistas audiovisuais com figurinistas, criadores e atores que marcaram a trajetória da companhia, disponíveis no canal do YouTube da Casa de Acervo.Oficina.

No Instagram @casadeacervo.oficina, o público pode acompanhar os bastidores da catalogação, ver de perto peças históricas e compreender a complexa teia de trabalho coletivo que sustenta o projeto.

Afinal, o Teatro Oficina sempre foi mais do que um palco — é uma usina antropofágica onde artistas criam, costuram, organizam e reinventam continuamente sua própria história. E a Casa de Acervo.Oficina é a extensão natural dessa energia: um espaço de resistência, beleza e memória em constante mutação.

Para contribuir com a manutenção da Casa de Acervo.Oficina, doações podem ser feitas via Pix: casadeacervo.oficina@gmail.com