Foto: Divulgação

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Por Juliana Resende

Cate Blanchett não cora nem gagueja quando rouba a cena, mesmo com maquiagem discreta e look escritório, na entrevista sobre o filme Carol, antes da première europeia, no último London Film Festival. Ao contrário. Está segura e afiada como nunca e só pensa “naquilo”: colocar todo seu talento a serviço da temática do longa. Carol, primeiro filme-bomba do ano, que estreia no Brasil semana que vem e tem cinco indicações ao Globo de Ouro 2016, é sobre o amor entre duas mulheres. Isso nos anos 1950.

Não bastasse o escândalo para a época, elas pertencem a mundos bem diferentes. Cate vive a personagem-título: dona de casa sofisticada de meia-idade, entediada com o fim do casamento, que conhece uma moça mais jovem em uma loja de departamentos em Nova York, na véspera de Natal. Carol e Therese (Rooney Mara, tímida balconista) sentem uma intensa atração uma pela outra e se apaixonam. A coisa não é tão simples. E dá muitas voltas sob o belo enquadramento do diretor Todd Haynes e os luxuosos figurinos de Sandy Powell (que vestiu Cate em Cinderela e O Aviador). Mas, apesar de todos os tabus sociais, elas acabam ficando. “Poderia acontecer com qualquer uma de nós”, Cate vai logo dizendo, descartando qualquer aura de excepcionalidade no tema.

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Carol é adaptação do romance The Price of Salt, de Patricia Highsmith (que a L&PM está relançando em português com o título do filme). Publicado em 1952, o livro fez sucesso entre mulheres por causa de seu conteúdo e final libertadores. A autora (gay), sob o pseudônimo de Claire Morgan, recebia milhares de cartas de gente agradecendo por ela escancarar o assunto e pedindo conselhos.

Blanchett não vê o fato de o filme ter sido feito só agora como “parte de uma agenda política” atual. Para ela, “histórias de amor são atemporais e universais. E Carol é uma coisa assim, meio ‘Julieta e Julieta’”. O filme não é o primeiro nem será o último do gênero, mas tem tudo para virar um clássico da filmografia lésbica, mesmo que Cate insista no acaso da relação entre ambas as mulheres nessa história e nesse contexto.

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Além do mais, a química entre as duas atrizes na tela impressiona. “Como isso se tornou possível? Houve alguma preparação especial?”, foi perguntado na entrevista da qual Bazaar participou, em Londres. Cate se dirige a Rooney Mara, numa ironia bem colocada: “Sweetheart?”. Rooney, que é bastante na dela ao vivo, solta o verbo: “Química é uma coisa que ou você tem ou não com alguém. Não é possível fabricar. Foi fácil para nós. Pelo menos para mim foi. Minha personagem constrói seu amor por essa mulher durante todo o filme e, quando parte para a ação, há tensão sexual o suficiente para ser descarregada”. Cate emenda: “Igualzinho comigo”.

Blanchett insiste que a intenção de Carol não é riscar fósforo na faísca da militância LGBT: “Se o filme tivesse sido feito há dez anos, poderiam dizer que seria um libelo político. Mas acho que, no contexto contemporâneo, quando relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo estão sendo discutidos e aceitos em tantos países – em uns mais do que em outros –, parece-me que avançamos bastante”. E frisa: “A história não é sobre lésbicas. É sobre amor. Deve ser compreendida e apreciada assim”.

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