Cantora Ruby – Foto de Yasmin Dib, beleza por Max Weber, cabelo por Vixe com aplicação de Styllus Vanessa e Virginia, stylist de Theodoro Cochrane, direção de arte de Vinícius Fragoso e joias de Brennheisen

Com sotaque arrastado que não esconde suas raízes mineiras, a fala rápida e a mente ágil da cantora e compositora Camila Gomes encanta e conquista quem logo para para trocar meia dúzia de palavras com a artista.

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Aos 26 anos, depois de largar a faculdade de Direito e ir em direção a seu sonho no mundo musical a partir de vídeos caseiros nas redes sociais, Ruby é hoje uma das apostas da música pop nacional.

Contratada pela gigante Universal Music, seu som transita entre o pop radiofônico e o R&B potente, que vem de sua vivência em bancos e corais da igreja evangélica de que seus pais são pastores. Antes do Brasil conhecê-la, quem primeiro deu sua visão e oportunidade foi o produtor carioca Papatinho, bastante conhecido na cena do trap e do rap nacional.

Até agora, singles de Ruby já soam nos fones de ouvidos nas principais plataformas de música do País. Seus últimos lançamentos foram “UHLALA” e “Dentro de Mim“, mas, já para março, estreará seu primeiro EP chamado “50 Tons de Preta“.

Em conversa com Bazaar, a artista fala (muito!) sobre seu EP de estreia, sobre suas raízes e seus sonhos no mundo musical, conta de onde busca referências e quem inspira seu som e revela entender a importância que tem de ser uma artista preta que já inspira outras garotas como ela.

Cantora Ruby – Foto de Yasmin Dib, beleza por Max Weber, cabelo por Vixe com aplicação de Styllus Vanessa e Virginia, stylist de Theodoro Cochrane, direção de arte de Vinícius Fragoso e joias de Brennheisen

Me conta um pouco sobre você: idade, onde nasceu, sua infância, família. Para nos conhecermos e o público te conhecer!

Sou natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, tenho 26 anos e comecei a cantar com 3 anos, na igreja. Cantei até os 18 anos na igreja. Quando fui para faculdade, escolhi fazer o curso de Direito. Minha intenção era me formar e fazer um concurso público para delegada federal. Quando estava cursando o quinto período, notei que aquilo tudo não estava me preenchendo. Sentia o que me fazia sentir bem, vibrar e um propósito era quando estava cantando. Me propus, então, a trancar a faculdade por um ano e tentar uma vida na música. Estava completamente perdida no começo, não sabia quem procurar. Nessa época, não tinha consciência do tanto de gente que trabalhava por trás. Resolvi, então, postar vídeos cantando músicas autorais nas minhas redes sociais. Fui ganhando público e as pessoas iam me engajando. Em junho de 2018, o Papatinho, um grande produtor do Rio, me mandou mensagem perguntando se eu queria cantar profissionalmente. Estava ali indo para o sétimo mês do ano que eu havia me dado para dar certo na música. Ele me convidou para ir ao Rio gravar com ele. De cara, achei que fosse mentira, mas topei e pedi para meu irmão ir comigo. Mineiro é desconfiado, né? Não sabia nada sobre, não conhecia ninguém. Comuniquei que ele ia comigo! E fomos! Viajei com meu irmão mais velho e fiquei uma semana por lá gravando. Gravei umas cinco músicas, e três delas foram lançadas. Por meio delas, a gravadora Universal Music Brasil me conheceu e fui contratada por eles. Entrei no final de 2019. Foi um processo demorado até eu, de fato, ingressar na gravadora, mas fiquei muito feliz porque consegui um contrato grande quando resolvi dar as caras e ir atrás dos meus sonhos.

Você comentou acima que cresceu em ambiente evangélico. Qual sua relação com espiritualidade?

Sou muito espiritual. A espiritualidade faz parte do meu dia, de uma forma muito intensa, principalmente pela minha base evangélica. Meus pais são pastores e tudo mais. A espiritualidade está presente por essa influência familiar.

Essa influência familiar é só espiritual ou musical também?

Meu pai sempre gostou muito de música, mesmo com a rotina intensa dele na igreja e os cantos de louvores que ele ouvia por conta dela. Ele tem uma coleção de vinis e CDs que são da década de 1970, 1980 e 1990 e quase todos são de música preta norte-americana, indo de Nina Simone, Pink Floyd e muitas outras coisas. É bem eclético e eu tinha contato com esse outro tipo de música em casa. Ele colocava no ambiente e a gente vivia. Tinha o contato com a black music em casa e, na igreja, era algo mais R&B e vocal. Tudo isso é muito referência para mim até hoje. Gosto de pegar de vários lugares meus pensamentos. Tudo que eu faço tento ter essa multiplicidade de referências. Gosto de explorar todas as possibilidades para entregar algo completo na minha música.

E como você acredita que toda essa sua vivência na igreja contribuíram para suas referências musicais? E hoje em dia, quem mais você se inspira?

Da minha vivência na igreja, vem a forma de cantar. De outras cantoras, busco tudo de Nina Simone, por ela fazer um crossver incrível entre a música, a arte, o ativismo. Ela foi uma cantora que trouxe a negritude de uma forma muito real e isso me bate tanto, que nem sei dizer. Ela reflete para mim o que um artista deve ser uma ponte de algo maior, não apenas um fim. Ela é uma referência de estilo de vida. Rihanna e Beyoncé vem para completar a tríade. Sou uma mulher negra, de pele clara, e as duas se encaixam exatamente neste padrão. Quando comecei a gostar dos meus traços, fiquei vidrada por elas.

Cantora Ruby – Foto de Yasmin Dib, beleza por Max Weber, cabelo por Vixe com aplicação de Styllus Vanessa e Virginia, stylist de Theodoro Cochrane, direção de arte de Vinícius Fragoso e joias de Brennheisen

Seu último lançamento foram os singles “UHLALA” e “Dentro De Mim”, que faz parte do EP “50 Tons de Preta”. Me conta um pouco sobre este EP?

O nome inicial deste EP era “Dor e Prazer”, porém este nome é muito forte. Não sabia se as pessoas iam entender de uma forma tão objetiva. Então, acredito que “50 Tons de Preta” sintetiza toda a ideia de uma forma legal, pensando no nome da franquia, levantando a ideia do prazer e do fetiche. Mas, para mim, o nome é múltiplo porque me sinto assim. Sinto que mudo toda hora de estética. Não tenho várias personalidades diferentes, mas transito em vários lugares e isso interfere no modo que eu me posiciono.

E como e quando este seu trabalho vai chegar aos nossos fones de ouvidos?

Este EP sairá agora em março. Tem oito músicas dentro do EP, sendo seis delas produzidas pelo DJ Tai e Arthur Marques, que são dois produtores do Rio de Janeiro. A pegada das faixas vai do pop ao R&B, literalmente. A faixa “Dentro de Mim”, que já estreou, eu acredito ser a mais pop e a última, que se chama “Fire”, é a mais R&B e é a única que eu não compus. Todas tem a sonoridade vindo da black music.

Ser espelho e referência para outras meninas pretas que te acompanham bate como por aí?

Já parei para pensar várias vezes nisso e cheguei a conclusão que, se existesse uma máquina no tempo, pudesse voltar na infância e me visse dessa forma, nunca acreditaria que era eu. Não ia acreditar que me transformei em uma mulher forte. Uma mulher que gosta de si. Consigo me olhar no espelho e amar meus traços, com a minha estética. Quando recebo mensagens de meninas, principalmente de garotas pretas, fico feliz demais e entendo todo o meu lugar. É muito importante e muito forte. Traz um peso de responsabilidade porque quero dar uma referência construtiva. Tenho muita responsabilidade e gratidão.

E para finalizarmos, além do EP, o que você está programando de lançamentos para este ano?

Esse semestre vou lançar meu EP e, no outro, penso em lançar singles e já começar a trabalhar no meu primeiro álbum de estúdio.