Yussef Dayes – Foto: Divulgação

Yussef Dayes – Foto: Divulgação

Yussef Dayes pronúncia seu amor pela música de uma maneira linda e íntegra. Multi-instrumentista, compositor e produtor, ele ganhou reconhecimento na dupla Yussef Kamaal ao lado do tecladista Kamaal Williams. A fusão de jazz, funk e eletrônica da banda ganhou atenção e amor do público da crítica.

No dia 8 de setembro desse ano, ele lançará o seu primeiro álbum solo: Black Classical Music. O projeto conta com 19 faixas, tendo a bateria potente de Dayes em destaque além de instrumentos de corda, teclas, saxofone, percussão e participações especiais de Chronixx, Jamilah Barry, Elijah Fox, Shabaka Hutchings, Miles James, Sheila Maurice Grey, Nathaniel Cross e Theon Cross.

Em conversa exclusiva com a Bazaar, o talentoso músico contou um pouco do seu amor pela música, a influência da internet na indústria e o que podemos esperar do seu primeiro álbum. Leia a baixo:

Você é um músico multi-instrumentista. Quais são todos os instrumentos que você toca?

Bateria e percussão são os principais instrumentos. Ultimamente tenho usado minha voz nas gravações. É como backing vocals, mas talvez um dia isso também se torne algo mais proeminente. Eu toco um pouco de piano, não em um nível avançado, só o suficiente para criar brincar um no sintetizador.

Como ser um músico multi-instrumentista influencia a sua abordagem? Você costuma começar com um instrumento específico?

Começo com a bateria na maioria das minhas gravações porque é por ela que as pessoas me conhecem, então isso é o que inicialmente chama minha atenção. Às vezes pode ser algo no piano, começo a criar uma melodia, e isso pode inspirar outros instrumentos. Às vezes, nem precisa de outros sons. Então, é o que for. O que estou sentindo no momento é a vibe.

Como seu amor pela música começou? É algo que você sempre sentiu ou veio por meio de sua família ou amigos?

Eu venho de uma família musical, então a música sempre foi tocada em casa. Eu toco bateria desde o quanto eu me lembro. Estava no meu ambiente. Quando você é criança, você faz isso porque é divertido e você gosta. Você não pensa que, quando crescer, vai levar isso mais a sério.

Você já quis se rebelar contra sua família e simplesmente não tocar música de jeito nenhum?

Eu tive meus momentos, mas se eu não praticasse por uma semana ou duas, meu pai já falava: “Vou jogar a bateria fora se você não praticar mais”. Eu amo tocar bateria. A música é a minha vocação, sempre foi uma paixão. Quando é criança, quer brincar com seus amigos, e não é como se eu não fizesse isso, mas dediquei tempo à música para melhorar. A música era o chamado. Não era uma obrigação. Era algo que eu queria fazer.

Todo mundo fala sobre o termo “Novo Jazz”. O que você pensa sobre isso? Como você o descreveria?

Eu sei que essas categorias ajudam as pessoas a entenderem, mas não sou uma pessoa de classificar. Se estou ouvindo Bob Marley e The Wailers e depois vou ouvir Miles Davis e Herbie Hancock, sinto que sou atraído pelo sentimento da música e não necessariamente os gêneros musicais. Acho que isso coloca limites até onde você pode ir com o som. Gosto de curtir todos esses gêneros diferentes. Tenho certeza de que as pessoas vão chamar minha música de “novo jazz”, mas não acho que isso realmente represente o que estamos fazendo. Muitos gêneros estão conectados e são de alguma forma relacionados. Acho que é por isso que chamei este álbum de “Black Classical Music” – para dar um termo diferente. O jazz não se encaixa mais no que estou tentando fazer. Não é para menosprezar o tradicional, é simplesmente que não é a forma como aprendi. Eu entendo que vivemos em um mundo que gosta de dar termos às coisas, mas não posso ficar limitado a essa única categoria.

O que você acha dessas tendências de criar música especificamente para o TikTok? Músicas rápidas e cativantes feitas principalmente para se tornarem uma tendência em um vídeo de 30 segundos?

Há um público inteiro lá, eu quero que minha música seja inclusiva para todos. Não estou limitado a uma única plataforma ou algo do tipo, mas sinto que tenho dois lados, onde um quer aprender a criar esses vídeos rápidos, e o outro quer fazer uma faixa de 20 minutos. Quero fazer minha arte livre dessas limitações, ao mesmo tempo, às vezes quero que as pessoas se envolvam com ela. Se houver uma maneira de fazer ambos, mesmo que seja um conteúdo mais curto que possa levar o público a uma peça maior, é claro que estou aberto a tentar.

Você estaria disposto a criar um desafio de dança para uma de suas músicas?

Claro. Costumava fazer pequenas competições e dar alguns de meus instrumentos para outros bateristas como prêmio; e sempre recebo vídeos de pessoas fazendo versões de músicas minhas, e eu adoro isso. Acho isso muito legal, é uma coisa linda.

Como você acha que as características únicas de sua música podem ressoar com o público mais jovem e capturar o interesse deles, especialmente em um mundo dominado por gêneros modernos?

Para mim, é importante ter um catálogo diversificado. No final do dia, há muita tecnologia digital e IA acontecendo, e acho que as pessoas, até mesmo o público mais jovem, vão querer que coisas da vida real aconteçam. Você quer ir a um show, quer vivenciar coisas.

Você tem alguma ideia de como será o futuro da música?

Não sou vidente, mas ainda vejo músicos mais jovens pegando a bateria, tocando guitarra, o piano e usando as suas vozes. Os instrumentos sempre serão a base, esperançosamente não teremos pessoas sufocadas por esse mundo das redes sociais, onde você está fazendo sua música só para lá. Espero isso para mim também. Se eu entrar no estúdio pensando que vou fazer uma música de três minutos e que ela será apenas para streaming, já estou no estado mental errado. Precisamos nos preocupar com o que temos a dizer e não com o que o externo diz.

Quais são os temas do seu primeiro álbum, “Black Classical Music”?

Eu só queria compartilhar um pouco sobre minha jornada até este ponto. Quero dar às pessoas uma visão do bom e do ruim da vida, do que eu vivenciei e da música com a qual cresci.

Você pode falar um pouco sobre o título do álbum: “Black Classical Music”?

O título do álbum surgiu perto do final do processo de gravação. Eu estava lendo muitos livros e assistindo a documentários de alguns dos meus músicos favoritos. Isso me fez questionar por que estamos chamando eles de música clássica. Senti que isso é limitante. Chamar o que estou fazendo de música clássica parecia uma maneira legal de mostrar respeito a uma linhagem de músicos dos quais fui inspirado – Stevie Wonder, Nina Simone, Sade, Lauryn Hill, Miles Davis… Eu queria que fosse uma homenagem, mas também neste álbum há uma variedade de gêneros diferentes. Pareceu uma maneira legal de resumir este capítulo, porque você pode interpretá-lo como quiser.

Você sente que o som pode servir como cura? Não apenas ao ouvir outros artistas, mas ao fazer música.

100%. A música e o som têm poder. Quando estou na bateria, me sinto livre. Não penso em nada. Estou focado naquele momento e toco como se pudesse ser a minha última vez. Isso me permite não pensar em outras coisas. A música pode ajudar você a tirar do peito o que está te incomodando e colocar isso no mundo.

Qual é a mensagem que você espera que as pessoas entendam do seu álbum?

Não posso dizer às pessoas o que fazer ou pensar, mas espero que elas possam ter algum tipo de cura com o que fiz. É um pedaço do meu coração. Não é automatizado, são músicos reais tocando juntos ao vivo. Sinto que estou adicionando algo bom ao mundo. Não estou aqui para fazer arte que seja segura, algumas pessoas podem não gostar. Mas eu amo.