Renata Valente, ou Reah, 40 anos, é uma cantora que vem se destacando na cena nacional. Seu mais recente trabalho, “Bendito Samba”, é genial e promete aparecer nos tocadores digitais por aí. Com influência do pai e da tia, ela começou cedo no mundo da música. Entre Japão e Brasil, Reah já tem quatro discos, um deles gravado em Los Angeles, e o mais novo está sendo feito aqui no País. “Com certeza tive a influência do meu pai [Adelino] sendo DJ com seus montes de discos de vinil… Ali começou o meu sonho. Eu escutava todos eles, era um universo tão grande, e eu pensava se seria capaz de fazer músicas tão boas quanto aquelas”, conta.
Depois dos vinis, ela passou a escutar CDs e MDs, quando ainda nem havia no Brasil, sua tia Márcia Froeming, que mora no Japão, trazia de presente para ela. Escutava sem parar. “O primeiro CD foi do Eric Clapton, o “Unplugged”, e eu, ao ouvir, pensava que queria tocar violão como aquilo que escutara.” Foi o que fez, com oito anos de idade passou a pedir um violão, queria aprender música de Vinicius de Moraes para tocar para a tia, que gosta muito do trabalho do artista. Acabou ganhando um violão com nove anos, dali em diante, foi só crescendo como instrumentista e compositora.
“Como eu era muito pequena, escolhia músicas mais fáceis para tocar e improvisava algumas, pois eu ainda não tinha a técnica. Comecei a tocar músicas mais simples de Vinicius de Moraes, sobretudo porque a minha tia gostava muito. Os meus pais se separaram bem nessa época, e acho que a música me ajudou muito nesse processo, era uma forma de eu me descobrir.” Ela ainda não tinha a música como profissão, mas se dedicava ao violão, o que posteriormente se estendeu para guitarra, baixo e bateria. Teve professores de música, mas foi como autodidata que ela se revelou. “Eu sempre tive um apreço muito grande pela música, mas não achava que justamente isso seria a minha profissão. Eu estudava muito, nessa época, porque se eu não fosse bem na escola o castigo era tirar o violão”, diz.
Com 15 nos foi fazer intercâmbio em Ohio, nos Estados Unidos, e a casa da família onde eu foi morar não permitia tocar instrumentos em casa, então ela foi para a igreja, onde podia tocar. Ia cinco vezes por semana só para poder tocar. Como tinha facilidade para tirar músicas “de ouvido”, acabou entrando para a banda da igreja e da escola, simultaneamente. “Eu tinha facilidade para tirar as música “de ouvido” porque tive um professor que me ensinou primeiro a escutar música, para depois aprender a tocar.” E foi nesta época que começou a compor.
Quando voltou para o Brasil dos Estados Unidos, sua vontade era a de ir para o Japão, “porque o meu universo musical estava muito ligado àquele país”. Hoje, ela tem 23 anos de Japão em seu currículo, onde aprendeu valores como respeito e disciplina. Lá também trabalhou como professora de inglês, telefonista e locutora de rádio. Sua habilidade para a música se refletiu também no aprendizado de idiomas, conseguiu falar rápido o japonês, com sotaque de Osaka, o que lhe garantiu oportunidades de trabalhar como instrumentista e vocalista em bandas japonesas. “Minha carreira começa mesmo no Japão tocando nas ruas. Depois comecei a procurar em revistas anúncios de quem precisava de vocalista, baixista ou guitarrista. E acabei entrando em duas bandas, uma como baixista e a outra, como cantora.” Reah tocava onde via chance: nas ruas, festas de fim de ano, bares, restaurantes.
Teve a a sorte de conhecer um empresário de uma gravadora que precisava de mais umas duas pessoas para fazer parte do portfólio independente. E ela ganhou a oportunidade e seu primeiro visto de trabalho. “Na época eu tinha 20 música, eles precisavam de seis, fiz uma audição e fui contratada, passei a fazer pocket shows, consegui seis meses para trabalhar em uma rádio. Nessa época eu tinha 22 anos, foi quando gravei meu primeiro disco. Como na rádio eu tinha um programa que divulgava as bandas indies, eu pude ajudar muitos amigos que tocavam rock independente. Nesse programa de rádio eu tive muita oportunidade”, conta.
De volta ao Brasil – mas sempre voltando para o Japão, país que considera sua segunda casa -, Reah lançou “Bendito Samba”, música gravada e produzida em Salvador, na Bahia. “O samba tem muitas vertentes, isso me encanta, é demais como podemos pegar qualquer música e transformá-la em um samba. ‘Bendito Samba’ é uma música moderna e ao mesmo tempo atemporal, feita a três mãos.”
Até o fim deste ano, Reah pretende lançar sua turnê, que deve começar por Curitiba, no Paraná, cidade onde se formou em jornalismo. Para ela, Curitiba tem uma cena interessante para artistas independentes e trabalhos autorais. “Eu gostaria de começar por Curitiba, sou de Maringá, mas Curitiba porque estudei lá, fiz jornalismo na PUC-PR, e fiz cultura japonesa no Japão. Culturalmente falando, Curitiba tem bastante espaço para se começar uma turnê, mas pretendo viajar o Brasil, pelo menos uma vez em cada estado eu vou querer estar.”
Reah é um nome para ficar de olho, e “Bendito Samba” nos tocadores de música. Vale demais a investida, pode apostar.
“Conforme o tempo foi passando eu fui me tornando uma artista menos complexa, porque agora eu sei o caminho das pedras. As mensagens que recebo de ‘Bendito Samba’ é que o meu trabalho sempre evolui, que não deixo a desejar na qualidade, e isso me deixa muito feliz. Eu acho que a arte é o caminho mais puro de cura que existe.”