
Marina Sena sente falta das cores da terra do lugar onde nasceu. Natural de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, ao construir seu som e imagem usa até a textura do ar para descrever suas memórias afetivas ao dar forma à persona artística. A cantora se prepara para alçar voo solo depois de emprestar sua voz às bandas Rosa Neon e A Outra Banda da Lua. “Tenho muita saudade da minha casa o tempo inteiro”, conta à Bazaar.
Não é explícito, mas todo esse sentimento retrata suas origens e certo regionalismo de quem, hoje, vive em Belo Horizonte. “Não estou falando da terra ou do pequi, mas as palavras, melodias e ritmos têm a ver com o norte de Minas, o lugar de onde vim”. Em processo de finalização, o álbum de estreia – intitulado “De Primeira” -, será lançado agora em agosto e conta com 10 faixas. O nome vem de uma frase que costumava ser dita pela avó Estelina: “de primeira, as coisas eram diferentes.”
As músicas do álbum vêm sendo escritas ao longo da vida, com olhar bastante íntimo. Têm a ver com sua personalidade, e estavam guardadas para este debut solo – algo que sempre quis e nunca escondeu dos antigos companheiros. “Compus para todas as bandas, mas essas sempre guardei. Nem mostrava.”
Para ela, a melhor parte da independência nesse percurso é não ter de ponderar as ideias, seja na musicalidade ou até em um post nas redes sociais. “Gostoso demais”, diverte-se. Apesar de rápido, o processo entre as bandas foi enriquecedor. Tanto para respeitar a opinião alheia quanto para negociar e ceder quando não tinha mais argumentos. “Aprendi a conviver”, detalha.
O sucesso meteórico do Rosa Neon, por exemplo, os catapultou a uma turnê internacional antes mesmo do Brasil e até indicação ao Prêmio Multishow de Música Brasileira como Revelação do Ano em 2020. Mas encerrou as atividades em maio passado. “Com a pandemia, tudo parou, a gente não se encontrava. A coisa da equipe vai esfriando e você fica mais focado (em si). Os processos individuais afloram mais porque é o único jeito de se expressar”, argumenta.
Com letras sobre sua recém-descoberta força feminina afugentando relacionamentos tóxicos, o álbum é um recado para quem for amá-la: encare essa potência! “As pessoas vão entender o meu rolê. Não é só para dançar. Tem muita letra, e vai influenciar seu sentimento sobre a música”, explica. “Às vezes, é preciso sair de uma relação porque não se vê mais nada na frente.”
O disco foi feito à distância, em parceria com o produtor paulista Iuri Rio Branco. Eles só foram se conhecer, recentemente, depois de todo o trabalho gravado. Há dois singles lançados até agora. O carro-chefe “Me Toca” – que entrou no top 50 das músicas virais no Spotify Brasil e a levou a outdoors da campanha “Artista Radar” da plataforma de streaming, em maio -, e “Voltei Pra Mim”, com direito a clipe supersexy, recheado de remelexos em cima de uma moto.
Ainda por vir, “Temporal” é uma de suas faixas favoritas pela pegada introspectiva. Outra com lugar garantido na tracklist é a composição “Seu Olhar”, de sua autoria e gravada por Otávio Cardoso com participação de Hélio Flanders (Vanguart), dando sua própria interpretação. Mas ela promete outros ritmos e melodias chicletes, visitando diferentes partes do Brasil, de samba a axé, com uma vibe bem solar.
As composições de Marina costumam vir em momentos inusitados e ela nem sempre está preparada. “Quando está muito propício, com cama e velas, ou fogueira com violão, não faço. Nesse ambiente, vou querer curtir e não fazer música”. Surgem de repente, como quando está atrasada para um compromisso, e tem de cuspir as estrofes em 15 minutos. Depois, pena porque fica seis meses sem inspiração. Logo vem mais três e o ciclo se repete. “Em uma relação heterossexual, a gente tem uma visão muito masculina do amor e do ciúme, onde a mulher não tem uma participação. Esse disco traz esse protagonismo. É a visão dela sobre o amor”, conta.
Quando passou na seletiva do “The Voice Brasil”, aos 17 anos, Marina largou a escola e contou com apoio da família para seguir seu sonho. Sua força está na voz agreste, anasalada, aguda, inspirada nas lavadeiras e nas mulheres que cantam em igrejas. Cavando seu espaço no pop nacional, não gosta de nada que não a complete e se diz bastante eclética. “Amo e ouço todo dia Duda Beat, Anitta, assim como escuto Edu Lobo, Zé Vaqueiro, Gusttavo Lima“.
Marina é uma luz iridescente com seu pop alternativo dançante, regado a muito regionalismo – e cantando sobre vários tipos de amor. Em seu repertório, cabe todo mundo.