
Princess Diana em 1993 em Wimbledon – Foto: Getty Images
A história de Wimbledon, o torneio de tênis mais antigo e prestigiado do mundo, entrelaça-se há mais de um século com a trajetória da monarquia britânica. Desde a primeira visita oficial de um monarca ao All England Lawn Tennis and Croquet Club, em 1907, até a presença constante da princesa de Gales na Royal Box, o envolvimento da realeza transformou Wimbledon em algo que vai além do esporte: tornou-se uma verdadeira cerimônia nacional britânica.
Fundado em 1877, Wimbledon é o único Grand Slam disputado na grama e se destaca por um rigoroso código de etiqueta, tradição e protocolo. Nesse cenário formal, a presença real sempre foi mais do que simbólica: serviu para reforçar o prestígio do torneio, consolidando-o como um pilar da identidade cultural britânica.
A conexão entre Wimbledon e a realeza começou quando o então príncipe de Gales, futuro George V, e sua esposa, Mary, assistiram a partidas em 1907, a convite do secretário do clube, George Hillyard. Pouco depois, George V tornou-se o primeiro patrono real do All England Club, formalizando uma relação que viria a atravessar gerações.
Em 1922, foi inaugurado o Royal Box — uma tribuna de honra com cerca de 80 assentos, destinada à realeza e seus convidados. Desde então, o espaço tornou-se um dos pontos centrais da cobertura midiática do torneio. O protocolo é rígido: traje formal, comportamento contido e reverência aos membros da família real. Até 2003, os tenistas eram obrigados a se curvar diante do box quando havia presença de um membro da realeza.

Até 2003, os tenistas eram obrigados a se curvar diante do box quando havia presença real – Foto: Getty Images
A história reserva ainda episódios singulares. Em 1926, o então duque de York, futuro rei George VI, competiu na chave de duplas masculinas. Perdeu na estreia, mas entrou para a história como o único membro da realeza a disputar oficialmente uma partida no torneio — algo jamais repetido.
Ao longo das décadas, a entrega dos troféus por membros da realeza tornou-se um dos rituais mais emblemáticos de Wimbledon. No entanto, a rainha Elizabeth II, embora tenha sido patrona do clube por boa parte do século XX, compareceu ao torneio apenas quatro vezes. Sua presença mais marcante foi em 1977, no centenário do evento, quando entregou o troféu à britânica Virginia Wade. Depois disso, só voltou a Wimbledon em 2010, quando conheceu jogadores como Serena Williams e Roger Federer. A longa ausência, de mais de 30 anos, nunca foi totalmente explicada — o que sempre alimentou a aura de seletividade da monarca sobre onde e quando se fazia presente.

Em 24 de Julho de 2010, a rainha Elizabeth II compareceu ao torneio – Foto: Getty Images
Em contraste, seu primo, o príncipe Edward, duque de Kent, teve papel fundamental: presidiu o All England Club por mais de cinco décadas (1969–2021) e tornou-se o recordista na entrega de troféus em Wimbledon — mais de 350 premiações ao longo de sua atuação.
Nos últimos anos, esse papel passou para Kate Middleton, princesa de Gales, que assumiu o patronato do clube em 2016 (função oficializada em 2017), após a retirada progressiva de Elizabeth II das funções públicas. Apaixonada por tênis — e conhecida por já ter treinado com Roger Federer —, Kate se tornou um dos rostos mais associados a Wimbledon na era contemporânea. Sua atuação nas cerimônias de premiação e sua presença constante nas arquibancadas reforçaram seu papel simbólico como embaixadora do torneio.

Kate Middleton e Carlos Alcaraz – Foto: Getty Images
Em 2023, foi ela quem entregou o troféu a Carlos Alcaraz, após a histórica vitória sobre Novak Djokovic. E, em 2025, mesmo em meio ao tratamento contra um câncer, Kate surpreendeu ao comparecer à final masculina, sendo ovacionada de pé pelo público — um gesto que reafirmou seu compromisso com o torneio e com seu papel público.
Outros membros da realeza também mantêm presença frequente: o príncipe William, a princesa Beatrice, os duques de Gloucester e, mais recentemente, Sarah Ferguson, duquesa de York, que retornou ao Royal Box em 2025 após 37 anos afastada do torneio. Sua ausência refletia, em parte, o distanciamento da vida pública após o divórcio do príncipe Andrew nos anos 1990, além de escândalos que a afastaram da esfera oficial da monarquia. Sua reaparição foi amplamente comentada como um sinal de reconciliação simbólica com as instituições reais.
Além da tradição, Wimbledon também cumpre um papel social importante. Parte da receita do torneio é destinada a instituições beneficentes, muitas delas associadas à família real. O All England Club realiza eventos de arrecadação com participação da realeza, ampliando o impacto social do torneio no Reino Unido.
Mais do que um evento esportivo, Wimbledon é um ritual. E a família real é parte essencial desse teatro, onde cada gesto — seja uma reverência, uma ausência calculada ou uma aparição histórica — carrega camadas de significado. Entre tradição aristocrática e espetáculo contemporâneo, Wimbledon permanece como um palco onde a monarquia britânica reafirma sua continuidade, seu simbolismo e sua conexão com o imaginário nacional — mesmo longe de Buckingham.
.