Dalton Costa e Maria Amélia, entre as obras de seu acervo no Karandash, que soma mais de duas mil peças – Foto: Carlos Davi

Por Regina Galvão

Muitos interesses em comum uniram a alagoana Maria Amélia Vieira e o goiano Dalton Costa. Juntos desde os anos 1980 como casal e sócios, ambos são artistas, colecionadores desde a juventude e donos da galeria de arte popular mais longeva do Nordeste: a Karandash.

Sediado na casa onde a mãe de Maria Amélia nasceu, no centro de Maceió, o espaço contempla um acervo invejável, com obras de Nino (1920-2002), Manoel da Marinheira (1917-2012), Resendio, Fernando Rodrigues (1928- 2009), Véio, Irineia, Antonio de Dedé (1957-2017), Jasson e tantos outros. Muitos foram revelados pela dupla. “Viajávamos de carro para o sertão, nos fins de semana, em busca de artistas. Parávamos nas estradas, nas praças e perguntávamos às pessoas se conheciam alguém que fazia bonecos de madeira ou algo assim”, conta Dalton.

Fundada como galeria de arte contemporânea, a Karandash – que significa lápis, em russo – ganhou o formato atual por recomendação da arquiteta pernambucana Janete Costa (1932-2008). “Ela colocou muitas das minhas cerâmicas e das pinturas e esculturas de Dalton em seus projetos. Enquanto isso, via que nossa coleção de arte popular crescia, tomando conta da loja, do nosso apartamento, dos depósitos. Janete, então, sugeriu: ‘Façam uma galeria em que essas peças de arte espontânea dialoguem com a de vocês’”, relembra Maria Amélia. A arquiteta também contribuiu para a Karandash se tornar conhecida no Sudeste, recorrendo várias vezes ao acervo dela para realizar exposições aqui e no exterior.

“Alagoas era invisível, ninguém olhava para nossos artistas. Hoje, mais de 90% da nossa clientela é do Sudeste”, afirmam. Um desses clientes é o arquiteto Arthur Casas, primeiro a incluir uma cadeira de Fernando Rodrigues, feita com troncos e raízes da caatinga, na Ilha do Ferro, em uma mostra, em 2009. “Foi o start para a Ilha se tornar conhecida.” O povoado de Pão de Açúcar, às margens do São Francisco, é parada frequente do casal há 30 anos. Ali, mantém três casas de moradia e aluguel, o barco-museu Balanço das Águas, que navega pelo Velho Chico levando arte popular aos moradores das cidades ribeirinhas, e muitos amigos. “As portas de nossa casa estão sempre abertas, a toda hora do dia, para conversar.” Proza que costuma se estender para o almoço ou o jantar, preparado pelo casal que soube unir arte com paixão – das mais duradouras.