Por Diogo Rufino Machado
Lorena Comparato, atriz da série “Rensga Hits”, da Globoplay, também é roteirista, diretora, produtora, dubladora e apresentadora – e agora resolveu dar novos passos na carreira por meio da música.
Com uma carreira longa, Lorena – hoje com 32 anos – começou aos 6 e não parou mais. Graduou-se em comunicação, fez intercâmbio nos EUA e cursa mestrado em artes cênicas, cujo tema trata da relação dos artistas com o mercado de trabalho. A artista busca assim dividir suas experiências com pessoas que se interessem pela profissão e enfatiza que as pessoas pensam que é uma vida fácil e glamurosa. Porém, há muito trabalho, frustração, lutas e expectativas quebradas.
Expressa toda a admiração que tem pela irmã, Bianca Comparato, e diz ter realizado um grande sonho ao atuar com ela em outra séria, a “Não Foi Minha Culpa”.
Leia a entrevista completa para Bazaar a seguir:
Muitas pessoas conhecem o seu lado atriz, mas nós sabemos que você é plural (roteirista, diretora, produtora, dubladora, apresentadora e em breve cantora). Como vai ser sua entrada na carreira musical?
Eu fico muito feliz que hoje em dia sou reconhecida como uma atriz plural. Acho que desde muito cedo na minha carreira – que já tem quase 15 anos profissionais – eu entendi que ser uma artista multifacetada iria me dar muito mais trabalho e reconhecimento. Falar de cada trabalho me traz um sentimento bem quente no coração: foram mais de 20 séries em canais e plataformas, 15 longas e curtas e 10 peças de teatro. Para além de atuar, já roteirizei e produzi meus próprios projetos. Dublei comercial internacional em inglês. Já fui jurada do Emmy Internacional algumas vezes. Apresentei TEDx. Fui mestre de cerimônia de eventos. Dirigi esquetes e produzi peças pelo Brasil. Meus trabalhos como atriz me dão muito orgulho, mas também fico contente de ter realizado outras coisas para além da frente das câmeras. Há mais de 10 anos atrás me juntei com Andrezza Abreu, Anita Chaves e Karina Ramil e formamos o núcleo criativo Cia de 4. Nós sempre procuramos trabalhar muito, mas muitas vezes faltando oportunidades, nos juntamos e criamos nós mesmas. Somos atrizes e roteiristas: do E!NoFilterWknd (programa de pílulas de humor no Canal E! – com duas temporadas); criadoras de “Prato Frio” (primeiro podcast de ficção do Spotify no Brasil); da série “Zodíaca de Bolso” (para o Instagram do Hysteria) e do espetáculo “Ricardo” (com direção de Debora Lamm e Carolina Pismel). Nesse momento, a gente está desenvolvendo uma série para uma plataforma de streaming, ainda em sigilo. Em 2021 fiz o thriller de suspense “Lacuna”, de Rodrigo Lages, como protagonista e produtora associada, exclusivo Globoplay. Foi um máximo ter finalmente recebido esse crédito, mesmo sentido que já exercia essa função há mais tempo em outros projetos. Acho que ser plural e exercer várias funções é o caminho de sobreviver como artista no Brasil e com isso, ter uma carreira sólida. Somos autônomos. Como atriz que canta, estou realmente muito feliz com “Rensga!”. Finalmente gostei muito de me ouvir cantar. Eu tento estudar canto há muito tempo, não profissionalmente, mas confesso que o que mais me falta é coragem. Já tinha cantado antes em uma peça infantil chamada “Nadistas e Tudistas”, baseada no livro homônimo do meu pai Doc Comparato e fui até indicada ao prêmio de melhor atriz Zilka Salaberry. Mesmo assim, não acreditava em mim. Eu sonho muito alto. Escrevo música pra mim desde adolescente e sempre tive um ouvido afinado. Música move a minha vida então sonhar em fazer carreira no teatro musical, cantando, é lindo, mas sei que vai precisar de MUITO trabalho e estudo. Cantar certamente é um dom, mas como todo trabalho precisa de muito empenho, investimento e força de vontade. Estou animada com o lançamento da série e espero que liberem todos os clipes e versões das músicas que têm na série – os episódios acabaram, mas tem muita coisa ainda por vir.
Você começou muito cedo (aos 6 anos) e hoje faz mestrado em artes cênicas. De todos os atores e atrizes que já entrevistei você é a primeira a ir tão fundo após a graduação. O mestrado acrescenta o quê, além de conhecimento no seu trabalho?
Comecei a estudar teatro com 6 anos, fiz faculdade de comunicação, intercâmbio nos EUA e hoje estou fazendo mestrado na Escola de Artes Celia Helena. Esse curso é profissional, então leva em consideração o seu trabalho e dia a dia como parte do seu estudo. O mercado é muito difícil e, por isso, a minha pesquisa é justamente sobre trabalho. Baseado na minha experiência, quero dividir com pessoas que estão interessadas nessa profissão o que observei nesses últimos 15 anos – no teatro, cinema e audiovisual. Não sei se considero um guia, um manual, mas com certeza uma companhia pra esse caminho que é sempre tão solitário. Indo justamente contra a ideia de que o mercado é competitivo e egoísta, quero que os artistas deem as mãos, saibam seus direitos e exijam respeito. Pra mim, não há trabalho que se sustente tanto tempo sem estudo e aprofundamento. Acho que as pessoas não têm realmente dimensão de como o estudo abre portas e isso é uma agenda política – deixar o povo ignorante, sem saber o quanto pode avançar com estudo e trabalho duro – pra poder manipular as pessoas do jeito que bem quiser. Como atriz, nunca se sabe o dia de amanhã, então quero estar pronta pra dar aula e também passar o conhecimento a diante. Hoje tenho feito aulas de canto e piano. Se busco excelência, acredito que preciso me aprimorar cada vez mais.
Outra coisa que me chamou muito a atenção e é peculiaridade sua é como você constrói cada personagem. Você investe em estudos comportamentais, físicos, de fala e caracterização. Como é este processo?
Fico MUITO feliz que se interessem pela forma como construo minhas personagens. Stanislavski – grande pensador teatral – (resumindo muito) dizia que havia três formas de chegar em uma personagem: ‘dadas circunstâncias’ (o que está no texto compondo aquela personagem), ‘memória emotiva/sensorial’ (o que você como pessoa já viveu e pode trazer pra cena) e o ‘poderoso SE’ (onde você se coloca no lugar daquela personagem). Sinto que cada uma das minhas personagens, cada cena, cada fala, vem de um lugar completamente diferente e de muitos lugares ao mesmo tempo. Gosto muito de trabalhar com camadas. Composições complexas que vêm de muitas referências de música, livros, observações do cotidiano humano, estudo, até a fisicalidade da personagem, a estética, caracterização e perfume (rs).
Como foi atuar com a sua irmã Bianca Comparato em “Não Foi Minha Culpa”, do Star+. O fato de serem irmãs ajudou ou atrapalhou?
Estar com ela em “Não Foi Minha Culpa” foi a realização de um grande sonho, a gente sempre quis fazer alguma coisa juntas e aliás temos alguns projetos em desenvolvimento, mas ainda sem nenhuma informação que possa contar. Fazer essa série tão necessária foi MUITO emocionante. A série é uma grande denúncia dos números e casos alarmantes de assédio e feminicídios que tem no mundo todo. Esse projeto foi feito em vários países da américa latina e tem um didatismo necessário para tornarmos esses assuntos mais falados e menos velados, com o intuito dessa violência de gênero ser denunciada e alertada. Em 10 episódios, histórias de mulheres são contadas e eu e minha irmã fazemos o primeiro. Nosso episódio mostra duas mulheres: Carol (Bianca) que está finalmente entendendo tempos depois que viveu um relacionamento abusivo e Priscila (eu) que hoje namora o Nando (Armando Babaioff) o violento ex da Carol. Na série não somos irmãs, mas somos mulheres que caíram na lábia do mesmo cara ‘encantador’. Sermos irmãs ajudou demais pelo companheirismo e pela ligação que temos uma com a outra. Nossas cenas não foram muitas, mas foram importantíssimas. Nossas personagens são ligadas durante o episódio todo e ter a Bianca ali perto sempre me deu uma força que eu nem consigo dimensionar. A série é forte e meu sonho era que todo mundo visse pra realmente aprender, denunciar e ajudar mulheres a não passarem por isso nunca mais. Eu e Bianca somos muito diferentes, mas de certa forma nos completamos muito energeticamente. Eu aprendo com ela e ela comigo. Acho isso lindo.