
Equipe conceitual da 36ª Bienal de São Paulo, da esq. para a dir.: Keyna Eleison, Alya Sebti, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, Henriette Gallus, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza – Foto: João Medeiros / Fundação Bienal de São Paulo
O título da 36ª Bienal de São Paulo pode te soar conhecido – e, talvez, seja: “Nem todo viandante anda estradas / Da humanidade como prática” (“Not All Travellers Walk Roads / Of Humanity as Practice”) foi extraído de um poema de Conceição Evaristo, chamado “Da calma e do silêncio”. Segundo o Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador geral desta edição, a obra da poeta afro-brasileira sempre o acompanhou e, quando a equipe chegou no conceito curatorial do evento, o trecho resume com perfeição o trabalho da equipe.
Nesta quinta-feira (24.10), a Fundação Bienal de São Paulo reuniu a imprensa para apresentar as primeiras informações da exposição. No palco, Ndikung apresentou sua equipe de cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além da calculadora at large Kenya Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus. Entre tentativas de português e diferentes sotaques da língua inglesa, o time conseguiu deixar os espectadores ansiosos pelo o que vem pela frente. Pela primeira vez, o evento ganha quatro semanas adicionais, sendo apresentada gratuitamente ao público entre 6 de setembro de 2025 e 11 de janeiro de 2026. A decisão visa aumentar o alcance da amostra, que poderá ser apreciada durante o período de férias escolares.
O tema
“Em uma época em que os seres humanos parecem ter perdido contato com o que significa ‘ser humano’; de agravamento de crises sociopolíticas, econômicas e ambientais, parece urgente convidar artistas, acadêmicos, ativistas e outro profissionais da cultura ancorados em uma ampla gama de disciplinas para se juntarem a nós na reformulação do que a humanidade poderia significar e na conjugação da humanidade”, explica o Prof. Dr. Ndikung sobre o tema que rege a edição.
A proposta central é um convite para pensarmos em humanidade como um verbo, uma ação, uma prática viva. Para isso, a escuta permeia a curadoria da edição, que se divide em três eixos. A metáfora do estuário (onde diferentes correntes de água se encontram e criam um espaço de coexistência) é o guia do projeto curatorial, que se inspira nas filosofias, paisagens e mitologias brasileiras.
O curador geral afirma que a mostra visa abordar o assunto pelo viés dos encontros, além da busca para colocar alegria, beleza e suas poéticas no centro das forças que mantém nossos mundos nos eixos. “Esse projeto não apenas reafirma o papel da Bienal como espaço de reflexão e diálogo sobre as questões mais urgentes de nosso tempo, mas também demonstra o compromisso institucional da Fundação em promover a produção artística de forma que seja acessível e relevante para os mais diversos públicos”, afirma Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Os três eixos
Com um tema tão profundo, o projeto de pesquisa da edição se divide em três eixos (ou fragmentos), sendo o primeiro uma defesa da reivindicação do espaço e tempo, uma busca por desacelerar e prestar atenção aos detalhes e outros seres que constituem o ambiente.
Já o segundo eixo se baseia no poema “Une conscience en fleur pour autrui”, do haitiano René Depestre, e convida o público a se ver no reflexo do outro, como um questionamento do que vemos quando olhamos para nós mesmos.
Por fim, o terceiro eixo se debruça sobre os espaços de encontros, como os estuários – que unem não apenas a água doce e a salgada, mas também o encontro do chamado Novo Mundo com as pessoas escravizadas sequestradas da África. Por isso, o último fragmento reflete sobre colonialidade e suas ramificações na sociedade atual.
Convergências globais
Outra novidade desta edição são as Invocações, encontros com poesia, música, performance e debates que ecoam as ideias centrais da exposição antes que ela aconteça. O ciclo incluirá conversas, palestras, oficinas e performances em quatro localidades: Marrakech (Marrocos), Les Abymes (Grande-Terre, Guadalupe), Zanzibar (Tanzânia) e no Japão, entre o fim de 2024 e o início de 2025.