
Obra Beija-Flor, da pintora Frida Kahlo. Pintura influenciou a criação de um livro infantil sobre a artista. Foto: divulgação
Por Ná Vianna
Ninguém nasce sabendo das coisas, mas há um caminho mágico para o conhecimento que pode enriquecer as primeiras experiências artísticas das crianças e ele começa na literatura. As editoras brasileiras têm bons catálogos de livros dedicados à introdução da arte no universo infantil e há opções para todas as idades. Para apresentar Picasso e Van Gogh às crianças não é preciso ter à disposição o Museu do Louvre ou o MoMA, em Nova York. A livraria da esquina pode ser uma alternativa produtiva capaz de enriquecer a experiência real e futura diante da Guernica ou da Luz Estrelada. A coleção Artistas Famosos (Callis) convida os pequenos de forma leve e divertida a passear pela vida e obra de gente como Miró, Picasso e Matisse, mesma proposta da série Grandes Mestres (Ática), que tem a vantagem de explicar a influência dos nomes mais importantes da história da arte internacional na produção brasileira.
Como todo artista já foi criança, e na infância fez arte que não era exatamente aquela destinada às galerias, os livrinhos da coletânea Crianças Famosas apostam na identificação com os minileitores ao narrar a infância dos mestres de forma descomplicada. Ali se aprende que Aleijadinho nasceu escravo e com uma deformação na mão, e que o menino Portinari desenhava no chão de terra desde muito cedo. As artes plásticas dividem espaço com a música e há títulos dedicados a Beethoven, Chopin, Villa-Lobos e Chiquinha Gonzaga.
A biografia é uma forma de fácil interesse para o time kids, mas não o único caminho. A criatividade dos autores segue muitas bifurcações. Em O Menino que Mordeu Picasso (CosacNaify), o fotógrafo inglês Antony Penrose conta como conheceu o pintor espanhol na infância. O norte-americano Keith Haring convidou crianças para interpretarem seu próprio trabalho em Ah, Se a Gente Não Precisasse Dormir (CosacNaify) e as figuras que aparecem nos quadros de Frida Kahlo ajudam a ilustradora espanhola Ana Juan a mergulhar no universo da pintora mexicana em Frida (CosacNaify). Também é importante fazer a criança entender como se dá a construção do valor artístico de uma obra. O que faz de um Bruegel um Bruegel? tem o mestre flamengo como personagem, mas a coleção da CosacNaify tem títulos dedicados a Goya, Rembrandt, Picasso, Degas, Van Gogh e Monet. O enredo das bienais no Brasil é tema de De Dois em Dois, de Edgard Bittencourt, Maria do Carmo Carvalho e Renata Sant’Anna. Já Kátia Canton, autora de livros infantis e especialista em arte-educação, escolheu falar de temas recorrentes na arte e na vida do artista. Beijo de Artista investiga por que o ato de beijar é tão presente nas pinturas e nas esculturas antigas e Espelho de Artista conta como o autorretrato atravessa a história da arte desde os tempos pré-históricos.
Para Kátia, um bom livro de arte para as crianças serve também para os adultos, mas é preciso prestar atenção em alguns detalhes na hora de selecionar. Interação, elementos lúdicos e, sobretudo, reprodução impecável são indispensáveis. As cores e as formas devem ser fiéis aos originais. “A construção do conhecimento artístico é feito com a participação do leitor. Tem que ter uma relação tátil e visual”, garante Kátia. “Conhecimento de arte não vem pronto, ele lida com a subjetividade, então tem que ter ludicidade. Boa parte da iniciação artística no Brasil é feita pelos livros porque nem sempre se tem acesso aos museus. O livro tem o papel de mediador entre o leitor e a arte.”