De sucessos de bilheteria como “Parasita”, de Bong Joon Ho, ao posto de número um nas paradas de música – caso de “Cupid” da banda de K-pop Fifty Fifty. Se você não é um fã enlouquecido, certamente já consumiu algum hit que partiu da Coreia do Sul. Com um nível de influência já comparável à da cultura norte-americana, o país tem se mostrado onipresente no entretenimento. Mais: tem se transformado rapidamente em uma das maiores potências culturais do mundo.
E essa febre tem um nome, Hallyu, ou onda coreana. Termo sucinto que descreve a imensa e complexa popularidade da cultura sul-coreana na música, na televisão, no cinema, na beleza – e até nos looks inspirados na estética K, que caíram no gosto da geração Z. Pense em calças de alfaiataria, blazers e coletes, saias curtinhas, plissadas, estampas xadrezes e cores neon. Para completar, bucket hats e meias longas.
Hallyu surgiu no final dos anos 1990, quando o pop coreano começou a ganhar reconhecimento internacional. A popularização total veio, contudo, nos anos 2000. Lembra da febre que foi o hit “Gangnam Style”, do PSY, em 2012? Aquilo foi só o começo.
Em uma conversa com Bazaar, Corina Chan, especialista em tendências na WGSN Asia-Pacific, empresa que analisa trends de comportamento e consumo, definiu essa ascensão coreana como “meteórica”. “Uma das forças matrizes por trás do surgimento e crescimento da Hallyu é seu ecossistema integrado”, explica. “Os principais conglomerados gerenciam todos os aspectos do entretenimento – música, vídeo, filme, distribuição e relações públicas, facilitando o lançamento de conteúdo simultaneamente.” Essa sinergia começa a seduzir fãs e fazê-los procurar mais facetas e conteúdos que têm a ver com aquilo que eles já consumiram.
As redes sociais facilitaram essa quebra de barreiras culturais e linguísticas. Milhares de jovens não só conseguem acessar o conteúdo de seus cantores prediletos de K-pop como, pasmem, entendem e comentam as trends com pessoas de qualquer lugar do mundo. “As indústrias criativas da Coreia do Sul realmente tornaram o país um criador de tendências”, comenta. “A influência da Hallyu vai além da música e do entretenimento, atingindo setores como turismo, gastronomia e moda”, diz.
Com mais turistas indo para a Coreia do Sul e celebridades coreanas como Jennie, do BLACKPINK, prestigiando eventos de fortíssima expressão como o MET Gala (ela, aliás, estava esplêndida em um Chanel), fica claro que a onda deixou sua marca globalmente.
No meio do furacão de hipervalorização da cultura coreana, surgem nomes como o de Nara Kim, uma influencer com 200 mil seguidores no Instagram, que encanta com seus looks de estética diversificada e única. “Eu não crio conteúdo com o objetivo de deixar estampado na minha cara a minha cultura”, diz ela, muito embora seja justamente isso o que busca o seu fandom. “Temos que ficar mais conscientes e cuidadosos sobre a influência do conteúdo de qualquer cultura. Algumas pessoas parecem pensar que, se tiver uma grande relevância global, um conteúdo não pode ser visto como um tipo de apropriação cultural”.
Por trás de todo esse fenômeno, há um conjunto de fatores trabalhando em harmonia. “O K-pop, por exemplo, é sinônimo de qualidade de produção excepcional, com videoclipes visualmente impressionantes, coreografias intrincadas e cenografias deslumbrantes”, diz Corina. “O espírito de constante inovação e experimentação também mantém o gênero sempre novo e cativante, apresentando consistentemente novos formatos, conceitos musicais e tecnologias de ponta”.
E há, claro, a legião de fãs. Qualquer pessoa que passe uma mínima parcela de seu tempo nas redes sociais sabe que os adoradores da música coreana não são do tipo que você quer como inimigos. De alugar outdoors para promover as canções e compartilhar em uma velocidade quase super-humana os vídeos de seus idols favoritos a fazer tudo que for possível para aumentar os streams das bandas, os fãs de K-pop merecem ser comparados à Beatlemania dos anos 1960.
Para entender o tamanho desse poder, em 2020, eles organizaram uma campanha para interromper uma manifestação a favor do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Em um esforço coletivo, reservaram ingressos gratuitos em massa, mas sem comparecer, evidentemente, o que tornou o evento um fiasco de público.
Tamanha dedicação para impulsionar uma indústria já gigante, chamou a atenção de setores como os de beleza e moda. Ana Clara Ribeiro, advogada e pesquisadora de estratégias de Propriedade Intelectual, explica que o K-pop e o mundo fashion se tornaram almas gêmeas nos últimos anos.
Segundo ela, marcas de luxo estão cada vez mais presentes na composição dos figurinos dos idols, muitos deles escolhidos a dedo como embaixadores de labels disputadíssimas. Além de incluírem diversidade e atraírem para si a influência dos idols coreanos, a indústria da moda entendeu que pode usar a seu favor também o estilo extravagante e divertido do figurino das bandas. Que venha a grande Hallyu! É um tsunami, mas é apaixonante.