
Naomi Campbell para ultima coleção assinada por Demna na Balenciaga – Foto: Divulgação
Por Cassio Prates e Eve Barboza
O fim de uma era na Balenciaga aconteceu no final de uma manhã em Paris , quando Demna se despediu de seu mandato de dez anos como diretor criativo da marca, apresentando a 54ª coleção de Alta-Costura da casa.
Você pode gostar ou não do trabalho do estilista, mas é incontestável o legado que ele deixa na Balenciaga: mudou a maneira como o mundo se veste, transformou produtos de massa em artigos de luxo e inverteu, em parte, o significado do consumo. Um souvenir, um uniforme e um tênis “velho” passaram a fazer parte desse imaginário — e passaram também a ser vendidos para o 1% da população. Essa lógica também chegou à alta-costura, já na sua primeira apresentação, em julho de 2021: subverter a tradição e colocar um hoodie ou jeans em execuções extremamente luxuosas nos ateliês da marca. Chocou os puristas.

Balenciaga por Demna Gvasalia Foto: Divulgação
Mas esse parece ser o prazer de Demna. O primeiro estilista que verdadeiramente trabalhou uma marca de luxo na internet e mudou diferentes paradigmas sobre como imagens e conteúdos podem ser apresentados — para o bem e para o mal (não vamos passar pano para campanhas inapropriadas e erradas). Ainda assim, é impossível negar: a década de 2010 carrega a assinatura e o pensamento de Demna e da Balenciaga na história da moda.
Hoje, seu desfile — assim como a exposição que está em cartaz na sede da Kering, em Paris — trouxe um pouco de todo esse legado. Menos street, mais formal. Talvez o tom de despedida explique. Assim como na exposição, sua voz narra as peças, e as ideias se sobrepõem aos looks. No fim, Demna agradeceu à marca pela oportunidade de deixá-lo criar.
O que permanece para a eternidade (e nesta coleção de alta-costura) são os questionamentos sobre a estética burguesa, os shapes, os materiais e as proporções desajustadas — como aquelas que vemos na rua e achamos interessantes. Homens humildes e mulheres poderosas. Só Demna consegue fazer isso. Ele também é um dos poucos capazes de reunir Isabelle Huppert, Naomi Campbell, Kim Kardashian e sua musa do início ao fim, Elisa Douglas, em um mesmo casting. Na trilha sonora, uma lista de nomes que passaram pela marca era narrada. Na própria voz de Demna, o último nome a ser dito foi o seu — como na exposição —, seguido pela música “No Ordinary Love”, de Sade.

Balenciaga por Demna Gvasalia Foto: Divulgação
A canção fala sobre entrega, sobre amar e continuar tentando. Realmente, esse não é um amor comum, tampouco perfeito — mas foi exatamente isso que o estilista fez de maneira brilhante. E continuará fazendo, agora na Gucci.