Obra de Yacuna Tuxa – Foto: Reprodução.

O 9 de agosto celebra-se o dia internacional dos povos originários, data importante para lembrar que a produção indígena está em movimento — e que ela ocupa lugares muito além das aldeias ou dos estereótipos que a cercam. Está nas passarelas, nos palcos, nas galerias, nos estúdios de fotografia, nas redes. Atravessa linguagens, misturando referências ancestrais a questões urgentes do presente. Reunimos aqui artistas, estilistas, fotógrafos e pensadores que, cada um à sua maneira, transformam suas criações em território: ora costurando memórias, ora deslocando narrativas, sempre ampliando o campo de possibilidades para ver e entender o mundo.

 

Sarah Rocksane 

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Sarah Rocksane Araújo costura pensamento, imagem e política com a mesma firmeza com que pisa os territórios que atravessa. Doutoranda em design na USP e descendente do povo Guajajara, ela tem circulado por diferentes frentes — da comunicação à passarela — sempre com um olhar atento às relações entre moda, ancestralidade e narrativas visuais. Já atuou em marcas como Sisley Paris, Elle Brasil e Santa Resistência, foi premiada no ENERI com o Aracy de Carvalho, entrou para a lista do Papel & Caneta como uma das 30 vozes que lutam por outra forma de comunicar, integrou o júri do Clube de Criação em 2024 e, como produtora executiva de desfiles na SPFW e representante do Fashion Revolution Brasil, ajuda a mover estruturas sem deixar de afirmar de onde vem.

 

Mauricio Duarte

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Estilista manauara do povo Kaixana, ele combina técnicas artesanais amazônicas com alfaiataria urbana em peças que não repetem o passado, mas o tensionam. Seu ateliê em São Paulo se conecta diretamente com comunidades indígenas do Amazonas, com quem desenvolve bordados, trançados e fibras como o arumã — matéria viva que também apareceu em sua estreia no SPFW, ao lado de referências à belle époque amazônica. 

 

Sioduhi Lima

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Sioduhi transforma o design em ferramenta de retomada. Indígena do povo Tukano e originário da comunidade Mariwá, no Médio Rio Uaupés (AM), ele fundou o Sioduhi Studio como extensão de seu território e de sua escuta. Com formação em Administração, Gestão de Projetos e Estética da Moda, costura conhecimentos acadêmicos às práticas ancestrais do Alto Rio Negro, como o tingimento natural com casca de mandioca e o uso de fibras nativas. Seu trabalho não se resume à criação de peças: ele articula saberes, valoriza a língua tukano, movimenta economias locais e faz da moda um campo de disputa simbólica e de futuro.

 

Day Molina

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Dayana Molina carrega no corpo e na criação as camadas de uma moda que nasce da terra, da memória e do enfrentamento. Descendente dos povos fulni-ô e aymará, aprendeu a costurar com a avó e fez da prática um ato contínuo de afirmação. Criadora da Nalimo, marca de moda decolonial baseada em Pernambuco, ela propõe narrativas que partem do território e rejeitam os centros hegemônicos

 

Dandara Queiroz

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Dandara Queiroz transita entre linguagens como quem reconhece o poder de ocupar — e transformar — cada espaço. De origem indígena e criada em Três Lagoas (MS), ela estreou nos palcos paulistas como Maria Cabocla no musical Torto Arado, depois de temporadas na TV com No Rancho Fundo e Falas da Terra. Aos 27 anos, também apresenta o programa Planeta Menos 1 Lixo, onde discute consumo, descarte e consciência ambiental. Antes de se firmar como atriz, Dandara já era presença marcante na moda: foi recordista de desfiles na SPFW em 2022, estrelou campanhas para grifes como Lancôme — ao lado de Zendaya. Entre uma cena e outra, compartilha nas redes pinturas corporais feitas com jenipapo e urucum, cria acessórios e reforça o que entende como missão: visibilizar a cultura indígena em tudo o que faz — da arte ao ativismo, do corpo à palavra.

 

Seba Calfuqueo

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Seba Calfuqueo faz da arte um instrumento de fricção entre mundos. Artista visual trans e mapuche, seu trabalho parte da própria existência — atravessada por gênero, raça, classe e território — para tensionar os efeitos duradouros da ordem colonial nas sociedades indígenas e ocidentais. Em performances, vídeos, cerâmicas e instalações, Seba propõe deslocamentos: desorganiza estereótipos, desafia fronteiras e cria imagens onde o corpo indígena trans não só existe, mas reivindica espaço e complexidade. Sua prática é também uma forma de visibilizar lutas feministas e ambientais, sempre a partir de uma perspectiva decolonial ancorada na cosmovisão mapuche.

 

Gustavo H Paixão

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Gustavo Paixão encontrou na fotografia não só uma linguagem, mas um caminho de retorno. Nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro, teve o primeiro contato com a câmera durante a faculdade de Turismo na UFRRJ, mas foi em 2011 que se apaixonou pela fotografia de moda, atuando com revistas, agências e marcas até consolidar uma trajetória autoral. Em 2020, iniciou seu processo de retomada indígena, incorporando elementos da cultura originária em sua identidade visual e fortalecendo redes com outros profissionais indígenas. Hoje, seu trabalho carrega uma urgência: visibilizar narrativas e presenças indígenas dentro da moda, não como tendência, mas como fundamento.

 

Joseca Mokahesi Yanomami

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Joseca Mokahesi Yanomami transforma a memória e a cosmovisão de seu povo em imagem. Nascido em 1971 na região do rio Uxi u, na Terra Indígena Yanomami, cresceu entre os cantos dos xapiri e aprendeu a registrar, com papel e caneta, histórias e saberes que antes circulavam apenas na oralidade e nos rituais. Filho de xamã e educador, ajudou a fundar a primeira escola Yanomami de sua comunidade e a produzir materiais bilíngues, aproximando arte e ensino. Seus desenhos já percorreram instituições no Brasil e no exterior, do MASP à Bienal de Veneza, sempre reafirmando a floresta como território e a arte como ponte entre mundos.

 

Yacunã Tuxá

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Yacunã Tuxáé artista visual e ativista indígena LGBTQIA+, nascida em 1993 em Floresta (PE) e integrante do povo Tuxá de Rodelas. Formada em Letras pela UFBA e radicada em Salvador, transita entre ilustração, colagem e pintura digital para narrar histórias de mulheres e experiências indígenas contemporâneas. Sua obra já integrou exposições como Véxoa: nós sabemos (Pinacoteca) e Imagens que não se conformam (MAR), e em 2024 recebeu o Prêmio PIPA Online. Entre ancestralidade e linguagem digital, constrói imagens que expandem a presença indígena no campo da arte.

Uýra Sodoma

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Uýra Sodoma é artista indígena travesti, bióloga e mestra em Ecologia, nascida em Mojuí dos Campos (PA) e criada em Manaus. Conhecida como “a árvore que anda”, constrói personagens com tintas naturais, folhas, plumas e cascas, incorporando seres da floresta para denunciar violências ambientais e sociais. Sua atuação atravessa arte, educação e ativismo, circulando entre florestas, escolas, galerias e cidades no Brasil e no exterior. Participou de mostras como a Bienal de São Paulo, exposições no Instituto Moreira Salles e no Currier Museum of Ar.. Premiada com o PIPA 2022 e o FOCO 2023, Uýra faz do próprio corpo território de resistência e ponte entre saberes ancestrais e urgências contemporâneas.