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O primeiro Rock in Rio é uma lenda na história dos festivais, um evento que marcou gerações tanto pelo line-up quanto pela quantidade de público presente. Tenho para mim que a primeira vez que se pisa na Cidade do Rock vai direto para aquela caixinha de memórias afetivas. Imagina só, então, fazer parte daquela multidão, nos idos de 1985, que acompanhou a vinda do Queen ao Brasil sob o comando de Freddie Mercury, no auge da carreira, sem nenhum celular em punho? Sonho!
Lembro bem, nos idos de 2011, quando sons mais pesados dominavam o festival e acompanhei, do gramado, o auge de bandas como Coldplay, o retorno do Guns N’ Roses (sem o Slash), Slipknot, Motörhead, entre outras. E até mesmo em 2015, quando fui cobrir o evento como jornalista pela primeira vez. A vinheta, que virou um clássico na entrada do festival e acompanha os fogos de artifício ao final de cada dia, é como aquele cheiro de infância na casa dos nossos avós. Mas será que o festival ainda tem essa força, quando artistas que estão bombando em turnês de estádios e nomes tidos como apostas fazem falta no line-up? E olha que vejo tudo isso sob a perspectiva do pop. Não me peça para desenhar um caminho mais underground ou roqueiro.

Axl Rose, do Guns N’ Roses, no Rock in Rio 2011 (Foto: Getty Images)
Agora, prestes a completar 40 anos, a pergunta que fica é: será que o festival ainda tem a mesma relevância, quando nomes que estão bombando em turnês de estádios são escassos no line-up? Até algumas edições atrás, a fórmula repetia-se [edição sim, edição não], com aqueles que passavam pelo crivo primordial: a venda de ingressos. As mulheres fazem falta. Trazer Lady Gaga seria uma boa reparação histórica. Mas Beyoncé ou Rihanna já seriam suficientes para que muita gente saísse de casa para enfrentar o famoso perrengue chique, com direito a selfie e as mãozinhas para o ar naquele globo da entrada.
Desta vez, o Rock in Rio se prontificou a trazer alguns nomes que, nesta equação, parecem mostrar certa fraqueza. No ano passado, inclusive, quando entrevistava Roberta Medina, presidente-executiva da Rock World [empresa responsável pelo evento], questionei a falta de mulheres no topo do pôster do The Town, criado à imagem e semelhança do festival-irmão. “A gente fez de tudo para ter uma ou mais”, disse ela à época. “Não podemos montar um line-up por simpatia, mas de acordo com o gosto do público. E fazemos questão de ter diversidade”, explicou, na ocasião.
Com a era das redes sociais e a força dos artistas criando comunidades nichadas, a festa da música e a ideia de se conhecer novos artistas se estancou. Talvez estejamos conectados demais ou fechados demais para conhecer algum artista novo. Queremos apenas ir lá para ouvir aquele hit de novela [caso dos mais antigos] ou aquela faixa bombada que virou efêmeros passos de dança no topo das paradas virais. Este ano, apesar de o festival tentar abrir caminho para a música local com o Dia Brasil em sua programação, a falta de coesão e o quase esquecimento da região norte viraram uma crise a ser gerenciada na divulgação. Mas tenho para mim que a ausência de um artista internacional de peso pode ter ajudado a encurtar esse pedido de muitos anos.
Que o Rock in Rio recupere sua força e consiga negociar para trazer artistas inéditos, resgatando a exclusividade que sempre foi sua marca registrada. A magia do festival sempre esteve pautada pela tríade: surpreender, inovar e deixar o público boquiaberto. E o público de casa possa aproveitar a chance de se despir dos seus preconceitos e abraçar a diversidade que sobe aos palcos.

Cerca de 150 mil pessoas se espremiam em um descampado em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, na chamada Cidade do Rock (Foto: Getty Images)
Momentos memoráveis
O G1 me convidou para destacar cinco shows memoráveis nessa trajetória, em que 150 jornalistas culturais enviaram suas respostas. Entre os momentos inesquecíveis, como falei, está o *top of mind* de qualquer apreciador de festivais. Em segundo lugar, Rihanna (2015). Eu estava cobrindo o evento pela primeira vez e lembro de ter dito que a cantora de Barbados fez uma apresentação para “fãs de verdade”. Ela não vinha ao Brasil desde 2011 e, após esse Rock in Rio, nunca mais voltou. Virou magnata da beleza e deixou os fãs aguardando pelo R9 até hoje. Como ela mesma canta: “nós encontramos amor em um lugar sem esperança” (do original: “we found love in a hopeless place”).
Seguindo essa apresentação, tem o fator memória afetiva. Britney Spears, em 2001. Apesar de ter feito uma apresentação cheia de problemas, não foi menos memorável. Na quarta posição, Guns N’ Roses, em 2011. Apesar de o público ter esperado por três horas de atraso, Axl e companhia fizeram as pazes com a plateia por meio do setlist. Em quinto, eu poderia citar Prince, mas Cássia Eller entregou brasilidade com a voz rasgada que só ela sabia. Se você assistir aos vídeos daquela época, verá um público totalmente hipnotizado.
Trajetória
Com o passar dos anos, o Rock in Rio passou a ser realizado em outras praças ao redor do mundo. A primeira edição internacional foi realizada em 2004, em Lisboa, capital de Portugal. Já em 2008, o festival aconteceu de forma simultânea em dois países diferentes: Portugal (novamente em Lisboa) e Espanha (em Madri). Além disso, houve uma única edição nos Estados Unidos, em 2015, totalizando 20 edições.

Público do Rock in Rio Las Vegas, em 2015 (Foto: Getty Images)
Line-up
No primeiro fim de semana (13 a 15 de setembro), o Palco Mundo traz Travis Scott encerrando o primeiro dia. No sábado, Imagine Dragons, Lulu Santos e Zara Larsson se apresentam. Já no domingo, o rock domina com Evanescence e Avenged Sevenfold. No Palco Sunset, a sexta-feira tem MC Daniel, Orochi e MC Cabelinho. No sábado, o NX Zero faz seu retorno, e no domingo, Planet Hemp e Deep Purple fecham as apresentações.
No segundo fim de semana (19 a 22 de setembro), o Palco Mundo conta com Ed Sheeran na quinta-feira. Na sexta, as performances ficam por conta de Ivete Sangalo, Cyndi Lauper e Katy Perry. No sábado, o Brasil é destaque com Chitãozinho & Xororó, Baianasystem e Capital Inicial. O domingo será encerrado por Shawn Mendes no palco mundo, enquanto Mariah Carey sobe no palco sunset [que aumentem o volume!]. No Palco Sunset, a sexta traz Gloria Groove, Iza, Zeca Pagodinho, Alcione e Diogo Nogueira. No domingo, haverá uma homenagem a Alcione e show de Ney Matogrosso.

Este ano, Iza se apresenta no palco Sunset ao invés do Mundo, como em 2022 (Foto Getty Images)
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Harper’s Bazaar