
Sharon Cho é a protagonista da série “Além do Guarda-Roupa”, que estreou nesta semana no HBO Max – Foto: Divulgação
Ainda não caiu a ficha de Sharon Cho quando alertada sobre ser a protagonista da primeira série brasileira com aspiração ao k-drama. “Junta dois mundos que estão fazendo muito sucesso, o Brasil, lá fora, a Coreia do Sul, aqui”, resume a atriz de 24 anos. Ela vive uma adolescente de 17 anos em “Além do Guarda-Roupa”. A produção original da HBO Max narra a história da jovem Carol, que renega as origens sul-coreanas e descobre um portal em seu quarto com passagem direta ao país do k-pop. “Um pesadelo para ela”, diverte-se. E mais: fica próxima da banda fictícia ACT (fala-se ei-ci-ti, uma brincadeira com action). Com 10 episódios, estreou nesta semana na plataforma de streaming. “É uma época muito sensível, entrando na fase adulta, quando você está se conhecendo e tem a sensação de que o mundo está contra você. Me reconectei com esse sentimento. A gente é muito parecida ao dramatizar as coisas, ser sarcástica e se cobrar muito”, adianta.
Assim como as novelinhas coreanas e os doramas (de origem japonesa), a série brasileira bebeu da fonte da sensibilidade, ritmo e da inocência dessas obras. “Vai desenvolvendo muito diferente das novelas brasileiras. Quem curte os dramas da Coreia vai se identificar”, entrega Sharon. Como todo drama, tem triângulo amoroso, além dos romances paralelos. “Todo personagem tem sua profundidade e conflitos”. Carol é filha de uma bailarina brasileira e pai sul-coreano, que com a morte da mãe a abandona e volta para sua terra natal. Ela se aproxima da dança, enquanto renega as tradições asiáticas. “Cria esse rancor com a cultura. A principal conexão da personagem é o balé quando o ACT invade a vida dela”.

Fãs de k-pop vão adorar a série: a história conta com a banda fictícia ACT – Foto: Divulgação
Filha de imigrantes sul-coreanos, Sharon foi criada em meio à cultura daquele país. Cresceu ouvindo as músicas de lá, mas seu coração bate forte com novelas e filmes antigos como forma de representatividade. E a série acendeu a faísca para o pop coreano da atualidade. Se Carol não enxerga os idols com fanatismo, o público já pode se preparar para idolatrar Kim Woojin, JinKwon, Lee Min Wook e Yoon Jae Chan – integrantes do fictício ACT. “Estou viciada há um ano e meio (quando gravaram). Preciso de outros viciados comigo”, brinca sobre a trilha sonora original, que deve ganhar as plataformas tão logo a série for ao ar.
Sharon acredita muito na fórmula enemy to lovers explorada pela obra: “você sabe o desfecho, mas vai assistir até o final. O público vai roer as unhas até um casal ganhar um abraço no último episódio”. Se a Coreia é uma seara familiar para Sharon, tendo na comida uma relação de afeto – seus pratos favoritos são tteokbokki, kimbap (espécie de sushi) e todas as sopas possíveis – o balé teve intensivão, com filmes sobre o assunto e pesquisa de performances. “Vai ser um exemplo, pois muitas meninas amarelas vão se identificar, porque buscam fugir desse estereótipo. É sobre as nossas raízes”, pontua.
Paula Kim, uma das diretoras ao lado de Marcelo Trotta e Sabrina Greve, atuou também como consultora de roteiro. Por sua ascendência sul-coreana e pós-graduação feita naquele país, foi convidada pelos produtores Roberto Moreira e Geórgia Costa Araújo, da Coração da Selva, a embarcar no projeto, pontuando os nomes mais comuns de determinada época ou o comportamento do personagem, por conta do círculo social. “Tem coisas da cultura coreana, que quem tem essa vivência tem facilidade em apontar”, conta. A obra audiovisual foi bebericar referências, por exemplo, na banda- -fenômeno BTS. Para viver o grupo da série, importaram quatro talentos de lá e tomaram cuidado para não retratar o elenco de forma estereotipada.

Foto: Fábio Audi
“A gente está caminhando com essa produção a nível global e não se pode errar. São culturas muito distintas”, pondera. “Quando a gente filmou os coreanos em seu idioma e a Sharon falando em português, estava morrendo de medo de perder o momento do ‘corta’. Depois de um ou dois dias com todo mundo perdido, a gente se entendeu e tudo aconteceu de forma fluida”. A representatividade, para Paula, vai além de ter uma protagonista amarela, algo raro no Brasil. “É voltado ao público jovem, com produções muito quadradas à disposição. Espero que seja um produto que abra portas”, diz. “E tenha essa visibilidade para garantir uma segunda temporada”.
As produções que flertam com diferentes países e culturas são mais do que uma tendência de consumo, como explica a head de conteúdos roteirizados para a América Latina da Warner Bros. Discovery, Monica Albuquerque. E o Brasil consome “muito bem” outras línguas. “O público brasileiro é early adopter e vai atrás das novidades, tem curiosidade sobre outras culturas. O bacana desse projeto é unir isso”. De uma forma muito leve, bem-humorada e jovem, a série pontua as diferenças culturais com um jeito bem nacional. Conexão direta entre Brasil e Coreia, a plataforma de streaming vai testar esse formato e, talvez, ampliá-lo para um cross cultural entre os países de fala hispânica. Uma aproximação ousada, não só no espectro LATAM, mas no mundo.