Rostos e cores cearenses: Conheça o trabalho do duo Acidum Project

Foto: Viktor Braga/Divulgação

Desde que foi criado, o Acidum Project sempre quis ser uma plataforma de arte onde ideias e conexões cearenses fossem feitas a fim de garantir um traço único, cheio de identidade e colorismo. Robézio Marqs, 44 anos, e Tereza Dequinta, de 34, estão juntos nessa empreitada há pelo menos uma década. Experimentalismo é o que rege as obras do par. “Não se limitar a uma só técnica é algo bem característico do nosso trabalho”, conta a artista, que mexe com pintura em mural, tela e até mesmo estampas para marcas de roupa ao lado do parceiro.

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Este ano, o duo está focado na série “Abstratos” e nas exposições internacionais rumo à Europa e África, no segundo semestre. Em agosto, eles viajam para Lisboa para uma residência artística na galeria Eritage, abrem sua primeira exposição individual na Europa, no mesmo endereço, em setembro, e depois criam um mural na Etiópia, em outubro – parceria com a embaixada daquele país.

As telas de “Abstratos” começaram a ser feitas em 2018 e parte já viajou para a Austrália. Vêm de fragmentos de outras pesquisas que fizeram, mas que vão além de uma leitura exata ou figurativa, como rostos e elementos que pululam em outros trabalhos, e aparecem por meio dessa nova narrativa.

“Começaram como desenhos ou colagem de recortes de outras obras, muita coisa vem do orgânico, da paisagem – colorida, excessiva e texturizada. Tem azulejo misturado com telha e alumínio, ferro e grade”, narra Robézio sobre essa “colcha de retalhos”. Acidentes e coincidências monocromáticas, feitas a lápis, ganham novo status com referências a obras do passado. Algumas serão finalizadas na residência e outras serão produzidas totalmente por lá, para acompanhar o processo da experiência.

“Quem conhece nosso trabalho, sabe que conta mais história que o figurativo”, brinca ele. Esse transitar entre a rua, a galeria e o museu, somado à experimentação desses ambientes, fortalece a assinatura no trabalho de ambos, cheios de camadas e aspiração à moda. Sem deixar de lado Fortaleza, claro, a matriz por onde tudo começa, com tempero diferente de outras capitais, como Rio ou São Paulo.

“Trazemos para o centro das obras uma metrópole periférica, associada ao litoral e ao sertão. Características específicas de uma cidade grande nordestina que estava um pouco fora da visão do que se estava falando, principalmente, sobre arte urbana e intervenção no início dos anos 2000”, explica Robézio. “A nossa urbanidade tem ainda muito ruralismo, essa relação com o litoral e tradição, também, do nosso quintal”. Eles têm ateliê em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza.

Rostos e cores cearenses: Conheça o trabalho do duo Acidum Project

Foto: Viktor Braga/Divulgação

Durante a pandemia, Robézio e Tereza se dedicaram à criação da série “Facewall” – que apesar do nome gringo é resultado da pesquisa de campo pelas feiras e ruas, com texturas, estampas, rostos e cores da capital cearense e arredores. “Dentro desse leque de possibilidades, a padronagem chama muito a nossa atenção, as cores, as cores das pessoas e a textura dos locais e da comida. Tudo se mistura”, conta Tereza.

Entre as outras linhas de pesquisa, está a série “Caretas”, após morarem no Rio e São Paulo ou fruto de viagens que fizeram para fora do país, “Flutuantes”, que mescla literatura e cinema, além da mais recente “Propheticos”, focada em figuras emblemáticas e míticas, que eles chamam de “entidade”, com elementos que trazem essa aura.

“Há uma grande descoberta de novas texturas e possibilidades dentro do nosso trabalho, pois acabamos trabalhando com stencils, cores e mescla. O abstrato é um outro tipo de possibilidade e liberdade”, arremata a artista.