
Com quantos metros de organza se faz um vestido recheado de babados? Se for uma peça assinada por Tomo Koizumi pode consumir entre 50 e 100 metros do finíssimo tecido em uma cartela lembrando o arco-íris. O resultado, meticuloso e extravagante, chamou a atenção em sua conta do Instagram e lhe abriu as portas para um sucesso meteórico.
Em 2019, estreou fazendo barulho na semana de moda de Nova York apadrinhado por Marc Jacobs e, em fevereiro deste ano, chegou à final do Prêmio LVMH. A Japan House exibe, a partir deste mês, o motivo do sucesso desse estilista japonês de 32 anos.

Morando em Tóquio, próximo a Shibuya e Harajuku, Tomo conta à Bazaar que, por causa da pandemia, não virá para a abertura. “Mas espero ir para o encerramento”, diz ele, que aproveitou o distanciamento social para ser mais criativo. “Nada mal”, reforça, bem-humorado.

A exposição
Ao todo, a exposição intitulada “O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi”, que inaugura nesta terça-feira (20.10), vai reunir 13 peças, incluindo três novos itens feitos especialmente para a mostra, inspirados no samba e em quimonos japoneses. O estilista explica que nunca veio ao Brasil, mas os vários amigos nipo-brasileiros o aproximaram do País. “Espero deixar as pessoas felizes com o meu trabalho.”
A Japan House São Paulo, que até fevereiro mostrou as obras sensíveis e impactantes da artista Chiharu Shiota, segue apresentando talentos contemporâneos com a essência do olhar de Tomo Koizumi para a moda.
As celebridades
Além das roupas, haverá exibição do vídeo do desfile em Nova York – com participação de modelos como Bella Hadid, Joan Smalls, Karen Elson, Lexi Boling e Emily Ratajkowski, além das atrizes Rowan Blanchard e Gwendoline Christie – e detalhes que mostram um pouco dos bastidores e da trajetória peculiar do estilista.
“Suas peças são o perfeito encontro da intimidade do trabalho manual ao glamour, sofisticação e teatralidade”, comenta Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural do espaço.

Como tudo começou
Tomo descobriu o interesse por moda aos 14 anos, quando viu em uma revista fotos da alta-costura da Christian Dior assinada por John Galliano. “Aquele momento mudou minha vida e eu decidi ser estilista”, afirma ele.
Já os babados impactantes que lhe trouxeram fama surgiram há quatro anos como forma de driblar o pequeno orçamento para montar a coleção. “Eu queria fazer algo como alta-costura. Encontrei cortes de organza em muitas cores, mas em pouca quantidade. Fiz as combinações de cores por causa da limitação, e isso resultou em misturas únicas”.

A admiração por Galliano, inegavelmente um mestre em unir cores, e a graduação em Artes pela Universidade Nacional de Chiba, a sudoeste de Tóquio, além do talento natural, sustentam sua “mão” para alquimias cromáticas.
As referências, diz, são aleatórias, vindas de tudo o que já viu e reteve na memória. “Algo da minha infância, desenhos animados e cultura tradicional japonesa, pinturas modernas, budismo e shintoismo, casamentos e funerais japoneses”, enumera.

Famosa pelos looks impactantes, Lady Gaga saiu na frente ao usar um vestido de Tomo em 2016, em uma visita ao país oriental. Mais recentemente, a lista ganhou peso com nomes como Miley Cyrus, Sophie Turner e Sabrina Sato.

O vestido usado por Gwendoline em seu desfile, o mais extravagante que ele já fez, hoje faz parte do acervo permanente do MET. “Acredito que moda pode ser arte e estou sempre tentando fazer vestidos que possam ser mostrados em museus”, analisa.
Agora, com o ritmo desacelerado por causa da pandemia, o estilista conta que está encarando desafios de estilo para exercitar novos materiais. Por aqui, Bazaar já aguarda ansiosamente as novidades.