St. Andrews – Foto: Divulgação

Quem fala de Escócia, fala de chuva, uísque, tempo frio, golf, Loch Ness, kilt, e, é claro, “Outlander”, série de televisão britânica-americana baseada nos livros de Diana Gabaldon. Mas o que muita gente não sabe, é que esse pais, um dos membros do Reino Unido (ao lado da Inglaterra, da Irlanda do Norte e do País de Gales), é muito mais do que um simples clichê.

Localizado ao norte do reino, o local é composto por mais de 790 ilhas, incluindo as do Norte e as Hébridas. Um paraíso para quem gosta de natureza selvagem, paisagens deslumbrantes, vales, montanhas, lochs (lagos), castelos medievais e, o melhor, moradores acolhedores e cheios de simpatia para dar.

Geograficamente, a Escócia é dividida em três áreas, as Highlands ao norte, o Cinturão Central e as Terras Altas Meridionais ao sul. As Highlands são as terras mais altas e apresentam as maiores elevações das Ilhas Britânicas (Ben Nevis, com 1 344 metros). O Cinturão Central é plano e concentra a maior parte da população, incluindo grandes cidades como Glasgow e Edimburgo.

Do lado histórico, o país passou por muitas invasões. Desde a chegada do Império Romano no séc. I; dos Anglos e dos Saxões vindos da Alemanha no século V; dos vikings, no século XI; até o rei inglês Edward I, que reivindicou a coroa escocesa em 1296. Finalmente, a Escócia e a Inglaterra fundiram-se em uma união política em 1707, criando formalmente o Reino da Grã-Bretanha.

Apesar de falarem quatro línguas distintas, o gaélico, o inglês, o scot e o doric, o povo consegue se entender muito bem. As placas de ruas levam o inglês e o gaélico, e as pessoas lutam para manter sua identidade nacional.

Mas vamos ao que interessa: para quem tem curiosidade, como eu, por esse país cheio de charme, mistério, história e romantismo (quem não lembra de William Wallace em “Brave Heart”, dos guerreiros imortais de “Highlander” e de “Harry Potter”?), que tal arriscar um road trip de duas semanas pelo local? Em pleno verão europeu, as temperaturas giram em torno de 18° a 22°. Ok, não é o destino ideal para quem curte sol e praia, mas quem disse que temperaturas amenas são desagradáveis?

Eu encarei a aventura, e posso dizer que o caminho para chegar até lá é longo… mas que faria tudo de novo! Para quem está de férias em Paris, a ideia é pegar o trem Eurostar até Londres, numa viagem tranquila de duas horas e meia. Quanto à entrada no país, brasileiros podem entrar no Reino Unido sem visto de turista, desde que a estadia seja inferior a seis meses. Desde 18 de março, eles não impõem nenhuma restrição de entrada relativa à Covid.

Primeira parada: Londres

Café Royal, no bairro do Soho – Foto: Divulgação

Londres dispensa apresentações. Cada um teu seu spot e bairro predileto, pontos turísticos mais visados e o pub favorito. Partindo desse princípio, escolhi dessa vez ficar no cinco estrelas Café Royal, no bairro do Soho. O local, na famosa Regent Street, entre Mayfair, Soho e St. James, já hospedou Oscar Wilde, Muhammad Ali, Winston Churchill, David Bowie e David Chipperfield. Com 154 quartos e suítes, o elegante hotel foi decorado por David Chipperfield Architects, e faz bem e ligação entre o estilo contemporâneo e as grandes salas históricas das décadas de 1860 e 1920. O café da manhã, com direito a pancakes, granola, pães e sucos, é servido no andar superior à entrada do hotel, com direito à vista do lobby grandioso. A visita ao tea room Cakes & Bubbles vale à pena. Ali são servidas sobremesas assinadas por Albert Adria acompanhadas de champanhe Veuve Clicquot. Uma delícia!

Segunda parada: Edimburgo

No dia seguinte, seguimos à estação King Cross para pegar o trem até Edimburgo. Quatro horas e meia depois, chegamos em Waverley, estação do centro da cidade. Edimburgo é lindíssima, cheia de casas antigas, igrejas medievais, cemitérios góticos. A cidade é dominada pelo Castelo de Edimburgo, construído sobre uma rocha de origem vulcânica.

Para quem não sabe, a cidade é mundialmente conhecida pelo Festival de Edimburgo, que acontece no mês de agosto. A metrópole ainda possui uma das mais prestigiadas universidades da Europa e do mundo, a Universidade de Edimburgo. Ela se divide em três regiões: centro, cidade velha e cidade nova. O que mais gostei, é claro, foi a parte antiga, onde fica o castelo, além de várias igrejas, lojinhas e músicos que tocam gaita de foles. A sensação é de viajar no tempo e no espaço. A Victoria Street é uma graça, repleta de lojas com cores vibrantes, além da grandiosa Royal Mille, artéria principal da cidade, cheia de restaurantes, lojinhas e a conhecida Universidade de Edimburgo.

Para se hospedar, o Waldorf Astoria Edinburgh – The Caledonian, cinco estrelas na parte nova da cidade. Construído numa antiga estação de trem, ele ainda guarda resquícios dessa época como o grande relógio no Peacock Alley, espaço que serve o chá da tarde e o café da manhã. Os 241 quartos são espaçosos e alguns deles com vista o Castelo de Edimburgo, sempre majestoso no alto de sua montanha. Para quem quiser testar a cozinha escocesa, o Grazing by Mark Greenaway é uma boa pedida. Com ingredientes locais e pratos criados por Mark, uma sumidade no País, vencedor de vários prêmios gastronômicos, o restaurante é aconchegante e o serviço é nota dez.

Terceira parada: Inverness

A cidade é a capital das Highlands. Para ir até lá, alugamos um carro, e, é claro, com direito à volante à direita. E, acredite: pode parecer estranho no começo, mas acostumamos rapidamente! De Edimburgo até Inverness, o percurso dura, em média três horas e meia, com algumas paradas no meio do caminho. O percurso é de tirar o fôlego com as inúmeras montanhas, vales e lagos, além dos castelos que já fazem parte do cenário local. O Loch Ness, na parte sudoeste da cidade, fica de frente para o Castelo de Urquhart, construído no século XIII, um dos emblemas locais. Outro local interessante para se visitar na área é o Culloden Battlefield, campo de batalha que foi o palco, em 1746, de uma luta sangrenta entre a armada inglesa e revolucionários escoceses, os Jacobitas. Nosso herói Jamie Fraser era um deles! Ali, mais de 1.600 homens foram mortos em menos de uma hora,1.500 deles escoceses. Pedras espalhadas pelo local homenageiam os diferentes clãs dos McDonald, Fraser, McDougal, entre tantos outros que lutaram pela volta da dinastia católica Stuart ao trono britânico.

Para se hospedar, um local cheio de charme, o cinco estrelas Achnagairn Estate. Diferente de um hotel, ele abriga um castelo e doze mini manors, casas com vários quartos e tudo o que um hotel pode ter: máquina de café, amenities, quartos confortáveis e muito espaço até para grandes famílias. Chamados de self-caterings, esse tipo de acomodação é muito comum na Escócia, com a diferença que quem manda ali é o próprio hospede. Com uma cozinha toda equipada, dá para arriscar pratos rápidos, e o melhor, saindo mais em conta que um hotel.

Sonha em se casar na Escócia? Aqui é o the place to be. O castelo, construído em 1812 com 24 quartos suntuosos, é perfeito para a realização de casamentos. Todo decorado pela proprietária, a adorável Gillian Lacey-Solymar, ele conta com um salão de festas todo em madeira, um dos mais incríveis do Reino Unido. Os quartos têm temas diferentes, como chalé de esqui, fundo do mar e boudoir vitoriano. Os preços variam de acordo com a temporada, e é possível alugar somente o castelo, ou apenas um dos mini manors.

Próxima parada: Dornoch

Head to the north! Subindo um pouco mais ao norte das Highlands, um vilarejo charmoso, perfeito para os amantes de golf. Dornoch é um desses lugares que dá para se sentir quase no fim do mundo: situado na costa litorânea, ele possui apenas 2.402 habitantes. É ali que acontecem os Highland Games, com competições como levantamento de tronco de árvore, lançamento de dardo, além de parque de diversões para as crianças. Todo o vilarejo se reúne no local para o evento, que dura alguns dias. Para quem curte uísque, a Distilaria Glenmorangie fica a treze minutos de Dornoch. Com visita guiada, da para avistar os barris de preparação da bebida e ainda sair com uma bela garrafa de uísque 12 anos. Not bad! Para quem joga golf, terrenos estão à disposição ao lado do hotel. Mas, atenção, a inscrição e reserva é obrigatória.

Onde dormir? No hotel mais bacana da cidade, o cinco estrelas Links House Dornoch, um dos mais fofos que ja visitei. Dividido em duas mansões, ele conta com quinze quartos, todos com decoração à la escocesa: muito xadrez, cores terrosas e esculturas de patos e aves. Uma graça! Não dá para perder duas coisas: o restaurante Mara, com pratos deliciosos com ingredientes  “do mar, da floresta, do céu e dos campos”, como eles mesmo dizem, e o café da manhã, apetitoso e farto. No restaurante, o sommelier Douglas é pura simpatia, e no café da manhã, uma verdadeira instituição local, Fraser, o melhor manager do pedaço. Ele é dono de uma boa conversa para dar e vender!

Próxima parada: Dunkeld

Depois de conhecer as Highlands e toda sua beleza selvagem, descemos em direção a Dunkeld, cidadezinha rodeada pelo rio Tay, famoso pela pesca de salmão. Uma verdadeira belezinha com apenas uma rua principal e 1.170 habitantes. O segredo ali é aproveitar o rio para fazer passeios de barcos com as crianças ou tomar drinks no terraço do beer garden com música ao vivo The Taybank, com uma super animação e uma pizza ótima! Para se hospedar, recomendo uma pousada estilo self-catering, a Tay House. Construída em 1830, a mansão com três andares tem uma decoração vintage interessante, além de uma cozinha super equipada para cafés da manhã apetitosos. A vista da janela dá para o lindo rio Tay, e os quartos são graciosos e confortáveis. Um passeio para quem é fã de “Oultande”r: o castelo Doune, que é chamado de Leoch na série, a 46 minutos da pousada. A edificação é suntuosa e disponibiliza até um áudio com a voz de Sam Heughan (ator que interpreta o Jamie Fraser) explicando as locações que foram mostradas na série. Vale a pena a visita!

Próxima parada: St. Andrews

Descendo mais em direção ao sul, paramos na meca do golf, St. Andrews. É ali que se encontra o campo de golf mais respeitado do mundo, utilizado para as grandes competições do esporte. Com o conhecido e antigo percurso “Old Course”, o terreno é o pop star da região! Na cidade também se encontra uma das mais prestigiadas universidades da Escócia, a Saint Andrews. Mas se você não é fanático por golf e não veio para estudar, recomendo o bar e restaurante 18, no rooftop do cinco estrelas Rusack St. Andrews. Com animação para dar e vender, homens e mulheres se apinham na grade para avistar o campo de golf e os últimos jogadores que se aventuram no jogo no comecinho da noite. A cozinha do 18 é liderada pelo premiado chef Derek Johnstone e sua equipe culinária. Com carne de origem local, caça e frutos do mar frescos, tudo passa pela grelha. Uma experiência gastronômica descontraída, mas sofisticada. Os quartos são confortareis e chiquezinhos, com grandes banheiros e banheiras modernas.

Próxima parada: North Berwick

A 45 minutos de Edimburgo, a cidadezinha litorânea de North Berwick, uma preciosidade banhada pelo mar do Norte. Em dias de sol, dá para pegar praia e East Bay e West Bay, e, de quebra praticar surf e vela com os professores locais. Para dormir, o mais que simpático Marine North Berwick, que tem seus próprios campos de golf, além de um restaurante, o The Lawn, que serve os melhores fish & chips da região. O staff é supersolicito e dá para dormir como um anjo nos lençóis brancos dos inúmeros quartos do local.

Última parada: Londres

De volta à capital inglesa e ao apreciado Hotel Café Royal, depois do percurso de quatro horas e meia de trem de Edimburgo, a sensação é de missão cumprida. A Escócia é incrivelmente acolhedora, tranquila e bela, com uma natureza selvagem e diferente de tudo o que já vi nas minhas andanças pela Europa. Tha gràdh agam dhuibh, Escócia!