Catrina e detalhes do Jardim das Plantas, em Nantes – Foto: Arquivo Pessoal

Por Catrina Carta

A Bretanha foi definitivamente anexada à França em 1532, alguns anos depois da morte da duquesa Anne de Bretagne que, para proteger seu território de ameaças externas, chegou a se casar com dois reis franceses (Carlos VIII e Luís XII). Na época, Nantes era a capital da Bretanha e, de lá pra cá, a cidade já exerceu diferentes e relevantes papéis no desenvolvimento histórico da França.

Localizada no Loire-Atlantique, no Loire, sempre foi um importante polo comercial, além de considerada maior porto da França no século XVII e, no século seguinte, a grande responsável pelo comércio de africanos escravizados na Europa. Depois da Revolução Francesa, Nantes focou no desenvolvimento industrial, em que recebeu destaque nas áreas navais e de processamento de alimentos.

Foto: Divulgação

A partir da metade do século XX, começou o seu processo de desindustrialização que, mais tarde, rendeu a ela o posto de terceira melhor cidade para se viver na França, atrás apenas de Paris e Lyon. Há em Nantes um equilíbrio harmônico, onde passado e futuro se somam. Passeando pela cidade, é perceptível a importância que se dá aos acontecimentos históricos e tradições. No Castelo de Ducs de Bretagne, cujas muralhas são medievais do século XIII e seu interior reconstruído por Anne de Bretagne usando referências do início do período renascentista italiano, é possível percorrer a linha do tempo da cidade.

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Os nanteses também não se esqueceram do impacto que tiveram no período de escravização dos africanos e, por isso, construíram um memorial de 350 metros ao longo do Quai de la Fosse, na costa do Loire, com registros dos nomes e datas de todas as embarcações que chegavam da África, além de áudios e manuscritos de diferentes épocas que abordam o período da escravidão até a sua abolição.

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Contudo, o turismo da cidade não depende apenas de séculos passados. A partir da década de 1980, todas as fábricas dedicadas à indústria naval foram desativadas e Nantes passou a priorizar o bem-estar de seus moradores. Para tanto, sofreu uma forte renovação urbana, principalmente na Ilha de Nantes. A transformação começou a partir do ano 2000, quando a região dedicada às fábricas começou a erguer novos prédios contemporâneos que mantiveram o estilo industrial. Atualmente, a região reúne instituições de ensino, escritórios de startups, oficinas para artistas, áreas de lazer e descanso. Dentre os novos prédios, destacam-se: o Tribunal de Nantes, projetado por Jean Nouvel; a Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Paisagem; e a Escola de Belas Artes, para citar alguns.

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Arte e cultura estão enraizadas em Nantes desde o período medieval, com Anne de Bretagne. No século XIX, outra figura da cidade ficou internacionalmente reconhecida pelo universo fantástico de seus romances, Jules Verne. Portanto, não é à toa que existem inúmeros projetos e incentivos dedicados à arte na região, todos eles dentro de um único guarda-chuva – Le Voyage a Nantes.

Dentre eles, ainda na Ilha de Nantes, merece destaque o projeto Estuaire, que desde 2007 seleciona artistas plásticos para desenvolverem obras site-specific ao longo dos 60 quilômetros do Rio Loire. “Les Anneux”, de Daniel Buren, que iluminam o Rio com luzes coloridas e a “Serpent d’Ocean”, do artista Huang Yong Ping não tem como passarem despercebidas; L”es Machines de L’Île” reúne o know how industrial da cidade com sua adoração ao lúdico – trata-se de um projeto que desenvolve grandes máquinas como um carrossel com bichos aquáticos, um elefante de 12 metros, entre outras criaturas fenomenais que fazem parte de um ambicioso plano de construção de um jardim urbano, com inauguração prevista para 2027.

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Desde o verão de 2012, a cidade acolhe diversos artistas que ocupam espaços públicos da cidade. Já são mais de 120 obras fixas ao longo de um percurso de 22 quilômetros repleto de instalações artísticas, muitas delas desenvolvidas não só para serem admiradas, mas também utilizadas, como a quadra de futebol irregular e em formato de croissant, de Barré-Lambot, as diversas cestas de basquete assinadas pela agência a/LTA e o playground de Kinya Maruyama. O circuito é demarcado por uma linha verde, sem começo nem fim, facilitando o trajeto dos curiosos.

Tantas atrações, muitas delas sendo públicas, além da fácil acessibilidade e uma gastronomia surpreendente, fazem de Nantes uma cidade autêntica, vibrante e em eterna construção histórica. Sua relevância no passado é uma ponte determinante para ser considerada uma cidade do futuro, com propósitos coletivos e preocupação com seus impactos ambientais, sociais e culturais.

Lounge estrelado

A melhor forma de chegar em Nantes via Paris é através dos voos da Air France, que têm duração de aproximadamente 45 minutos. Aos viajantes de classe executiva, a companhia aérea inaugurou em agosto do ano passado, o Lounge no terminal 2F do aeroporto Charles de Gaulle, projetado por Jouin Manku.

O espaço conta com uma área de 3 mil metros quadrados distribuídos entre dois andares com uma enorme janela que oferece uma vista para a pista de voo, garantindo luminosidade, além da sensação de estar em um ambiente aberto e arejado. É possível descansar nas espreguiçadeiras e fazer um quick spa assinado pela Clarins ou repor as energias com o buffet que prioriza ingredientes locais e sazonais harmonizados com drinks e vinhos selecionados pelo premiado sommelier Paolo Basso.