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Há destinos que nos convidam a silenciar. A caminhar devagar. A escutar o som das águas, a leitura sussurrada de um autor brasileiro redescoberto ao acaso. Paraty, já um clássico do charme colonial com alma tropical, ganhou um novo fôlego com o olhar do grupo OCanto — e o resultado é uma experiência de sofisticação, propósito e sensibilidade.

O ponto de partida é a Pousada Literária, no coração do Centro Histórico. É ali, entre janelas de madeira, pedras seculares e estantes preenchidas por literatura brasileira e títulos independentes, que o tempo parece mudar de ritmo. Os quartos — discretamente elegantes — misturam a estética colonial ao conforto contemporâneo. O jardim interno, com piscina, espreguiçadeiras e sombra de palmeiras imperiais, convida a um dolce far niente revisitado: com café especial na mão e poesia na cabeceira.

Livraria das Marés – Foto: Divulgação

Ao lado, a charmosa Livraria das Marés — um dos lugares mais adoráveis da cidade — oferece curadoria afetuosa e cafés artesanais que acompanham leituras de autores como Conceição Evaristo ou Manoel de Barros. E, para quem gosta de levar um pouco do Brasil profundo na bagagem, o Empório Daqui reúne produtos de agricultura familiar, iniciativas sustentáveis e arte popular, como as pimentas fermentadas, as geléias e o mel de floradas nativas. No fim da tarde, o Bar Atlântico — elegante, sem esforço — serve drinques autorais sob luz baixa e música boa.

Mas é no Quintal das Letras, restaurante da própria pousada, que a celebração dos sentidos atinge seu auge. Com três portas generosas voltadas ao Centro Histórico, o espaço é uma ode à brasilidade — do prato ao ambiente. O menu, que muda conforme a estação, mistura ingredientes da terra e do mar: moqueca reinventada, robalo com crosta de castanha, legumes orgânicos da fazenda Bananal. Tudo servido com elegância leve, como só Paraty sabe fazer.

Fazenda Bananal – Foto: Divulgação

A poucos minutos dali, está a alma do projeto: a Fazenda Bananal. Restaurada pelo grupo, a propriedade do século XVII virou modelo vivo de sustentabilidade e turismo regenerativo. São 180 hectares, sendo 70% de mata nativa preservada, trilhas educativas, hortas agroflorestais e um restaurante onde tudo vem do solo fértil ali mesmo. É um espaço onde se aprende — sem esforço — sobre compostagem, colheitas conscientes, cadeias curtas e biodiversidade. Um refúgio verde que reconecta e reeduca com delicadeza.

Para quem quer mais — ou melhor, menos — o mar de Paraty reserva sua própria epifania: a escuna Maria Panela, ancorada no Saco do Mamanguá, oferece uma experiência exclusiva de seis horas para poucos convidados. O cenário, de beleza cinematográfica, é o fiorde tropical brasileiro. Ali, os sentidos se revezam entre a contemplação das montanhas, um mergulho em águas esmeralda, e um almoço servido a bordo que reverencia a culinária caiçara com afeto e sofisticação: robalo fresco, camarões salteados, saladas com frutas nativas, patê de jabuticaba, farinha artesanal de Graúna, e sobremesas com mel de alecrim.

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A experiência é, acima de tudo, sobre tempo bem vivido. Nada é acelerado. Nada é óbvio. Tudo tem alma, contexto e intenção — do lençol ao peixe, da leitura à trilha.

Em Paraty, cercada de verde, mar e histórias, a viagem é um estado de espírito. E quando o luxo se une ao cuidado com a terra e com as pessoas, o que se encontra é algo raro: um lugar para estar — e ser.