Eu sou dessas que fugiram dos Jogos Olímpicos de Paris. Moradora da cidade há muitos anos, achei insana a ideia de ficar por aqui durante o evento esportivo. Ruas bloqueadas sob vigilância policial, nossa prefeita Anne Hidalgo nadando no Sena (como havia prometido!), trânsito infernal, shows na agitada Place de la République, a abertura de novas lojas pipocando por todos os lados, os preços aumentando vertiginosamente…Sim, caro leitor da BAZAAR, depois de quinze anos morando aqui, me tornei essa pessoa que reclama, como reza a cartilha francesa. E com orgulho!
O destino escolhido foi a Provença, região no sudoeste do país, como muitas vezes já fiz. Praias charmosas permeadas de rochedos, campos de lavanda perfumados, castelos medievais e pontes romanas…Tudo feito para apetecer. E, principalmente, sol, muito sol.
Minha primeira parada foi Les-Baux-de-Provence, cidadela situada no alto de um promontório rochoso que oferece uma vista incrível de paisagens milenares repletas de vinhedos e oliveiras – a cidade faz parte do seleto grupo dos Mais belos vilarejos da França. Por ali, nada mais, nada menos que vinte e dois elementos arquitetônicos classificados como Monumentos Históricos, incluindo um castelo. E não é que encontrei turistas brasileiros por lá? Dado curioso: eles estavam tentando encontrar um restaurante para tomar um… cafezinho. Quem sabe, sabe.
Curiosidades à parte, logo ali do lado, as Carrières des Lumières, um símbolo da região. Localizadas desde 2012 no coração dos Alpilles, em um lugar carregado de mistério, o Val d’Enfer, as Carrières apresentam exposições digitais e imersivas em grandes rochedos. Vale a pena dar uma checada nos espetáculos que acontecem ao cair da noite!
Domaine de Manville
Para dormir (e não somente!), escolhi o Domaine de Manville, hotel que ocupa um espaço de 40 hectares. Originalmente uma fazenda, hoje é uma propriedade familiar cercada por oliveiras, ervas silvestres aromáticas e campos verdes a se perder de vista. Com um grande spa, sala de fitness, campo de golfe de 18 buracos – o primeiro na região a obter a certificação de desenvolvimento sustentável -, bistrô e um restaurante estrelado, o Alpiho, o hotel captura a essência da região dos Alpilles. Ali, come-se muito bem (o Fleur de courgettes farcies aux couteaux, palourdes marinières au pesto do Bistrô é de comer ajoelhado e rezando de olhos fechados embaixo da mesa!), lagarteia-se ainda melhor nos transats da piscina e descansa-se divinamente em uma das nove vilas de luxo do local.
Château de Fonscolombe
Next stop, o romântico Château de Fonscolombe, em Le Puy-Sainte-Réparade, pertinho de Aix-en-Provence. A uma hora de carro de Baux-de-Provence, ele data do século 18 e pertenceu a uma família de botânicos e diplomatas, os Marqueses de Saporta e de Fonscolombe.
Projetado como uma residência onde todos os espaços se conectam, os séculos de história se refletem em cada cômodo e nos cinquenta quartos e suítes. Para se ter uma ideia do refinamento, os salões históricos do local são revestidos com couros de Gênova e papéis de parede chineses do século 18, e a residência, uma construção de estilo italiano Quattrocento, foi completamente restaurada sob a supervisão dos Bâtiments de France em 2017. Para curtir o pôr-do-sol à sombra de imensas árvores, a mesa do restaurante Le Temps Suspendu é um deleite!
Château La Coste
A quinze minutos de Fonscolombe, uma visita imperdível para quem transita pela Provença, o Château La Coste, – o equivalente francês do Inhotim–, o hot point do momento. Situado entre Aix e o Parque Nacional do Luberon, o Château é uma vinícola onde vinho, arte e arquitetura se cruzam. Desde sua abertura em 2011, o domínio proporciona uma visita (a pé ou em mini carros disponibilizados com guias) para descobrir cerca de quarenta obras de arte instaladas na natureza, além de cinco galerias, tudo isso no meio de 200 hectares de vinhedos cultivados de forma orgânica.
Nesse verão europeu, uma mostra especial dedicada ao artista Damien Hirst foi montada. Para a ocasião, obras do artista britânico foram distribuídas pela vinícola provençal e em seus pavilhões. Pequeno conselho de marinheiro de primeira viagem: se for seguir o percurso à pé, vá de tênis, mesmo se o calor estiver escaldante…Para finalizar o passeio, nada melhor do que o restaurante italiano Vanina, dentro do domínio. Peça a Salade de Figues, Roquefort frais, pignons et basilic. Veramente molto buona!
Hotel Capelongue
A quarenta minutos dali, direção Bonnieux, vila pitoresca do Petit Luberon, em frente à vila de Lacoste (atenção, não é o Château La Coste!). Localizada ao norte de Lourmarin, o local oferece uma vista panorâmica de tirar o fôlego. Suas ruas íngremes e sinuosas revelam mansões impressionantes, vestígios de muralhas, fontes e lavadouros. A cidadezinha é repleta de tesouros e surpresas, como a Ponte Julien, estrutura romana situada no traçado da Via Domitia, a grande estrada romana que ligava a Itália à Espanha, passando pela Província de Narbona. Sua construção, que foi concluída no ano 3 a.C;, resistiu ao tempo e à história.
Essa belezinha de vilarejo abriga o delicioso Capelongue, um hotel do grupo Beaumier, que reabriu suas portas no início de maio após extensas renovações. Suas construções históricas dos séculos 17 e 18 foram restauradas pelo escritório Jaune Architecture. A missão delas? Redefinir o domínio como uma vila, respeitando a arquitetura tradicional local, sem cair no lugar comum provençal. Dito e feito.
Sem falar de todo o resto, as duas piscinas, longa e espaçosas, os 57 quartos, descolados em tons de ocre, caramelo e creme, com pitadas de literatura (livros antigos achados em brocantes sobre a Provença) e de arte (quadros e gravuras belíssimas). Mas a maior revelação do hotel é o novíssimo restaurante La Bergerie, uma ode à Provença e seus produtos de terroir. O pôr-do-sol visto das mesas do espaço é icônico!
A cozinha ao fogo de lenha de Mathieu Guivarch também é um must. Com uma lareira central em destaque, o braseiro serve uma ampla sala aberta e um terraço espaçoso. Peça os Artichauts grillés à la cheminée et son aïoli maison, um desbunde. O domínio também conta com o sofisticado La Bastide, pilotado pelo chef Noël Bérard, com uma estrela no Michelin.
Le Moulin
A meia hora de Bonnieux está Lourmarin, que exibe com orgulho seu castelo renascentista do século 12 no centro da vila, suas ruelas pitorescas sombreadas por arvores majestosas, suas lojinhas, galerias de arte e restaurantes gourmet. A cidade parece ter saído diretamente de um cartão-postal. Estrategicamente situada entre o Petit e o Grand Luberon, a cidade está localizada em um eixo histórico importante que conecta os planaltos da Alta Provença ao Vale do Ródano.
Uma das atividades obrigatórias a se fazer When in Lourmarin: vá ao marché das sextas-feiras, abarrotado de barracas com especiarias, mel, tecidos, nougat, calissons, roupas, sapatos, tudo da região (ao menos, é o que eles dizem). Dá para ficar horas e horas admirando a população local e turistas embasbacados com sachês de lavanda, sabonetes de Marseille, azeites de variadas composições…Uma curiosidade: o escritor Albert Camus, que escreveu O Estrangeiro (1942), foi morador da vila nos anos 1950.
Em frente ao Castelo de Lourmarin, um antigo moinho que se transformou em uma pousada-mercearia de vila, com piscina. O Le Moulin é um ponto de encontro e passagem, tanto para os locais quanto para turistas. O local, très charmant, possui um restaurante muito frequentado, o Bacheto. O nome, que significa “compartilhar uma boa refeição com pessoas que amamos” em provençal antigo, oferece uma deliciosa cozinha de terroir a um preço muito razoável. Vale a pena degustar os Bougnetos de poisson, sauce Samouraï maison, além do Souris d’agneau confite aux épices & miel, fenouil cru, jus. Un vrai régal!
Conselho de amiga: não saia da Provença sem comprar os famosos calissons de amêndoas, frutas cristalizadas e um bom nougat de mel nas boutiques charmosas de Lourmarin antes de voltar para casa. Você vai lembrar de mim!