Por Dani Pizetta
A artista e designer Joanna Fleury tem raízes fortes, mas que parecem elásticas. Atualmente morando em Bali, Indonésia, diz que casa não é um endereço fixo, pois tudo é temporário, e a sua é mais que um lugar. É, na verdade, uma coleção de memórias e uma bagagem que vai se acumulando para enriquecer esta experiência fascinante que é a vida.
Ao lado do marido, o artista plástico Felippe Segall, e dos filhos Catarina, Rafaella, Frederico e Anna, Joanna já havia morado na Indonésia antes. A família se mudou para lá em 2018 e, enquanto visitavam o Brasil, no início de 2020, tiveram que permanecer por aqui em função do fechamento das fronteiras e das incertezas da pandemia. Três anos se passaram e, neste meio tempo, mais dois endereços temporários preencheram sua lista de moradias, ambos na Bahia. Recentemente, com o intuito de finalizar o ciclo que ficou aberto no Oriente, o casal voltou à Bali – dessa vez, apenas com Frederico e Anna.
Lá, Joanna consegue ter momentos silenciosos, introspectivos e com tempo para criar e executar sua arte. Tem feito viagens fascinantes pela Ásia, e a mais recente foi para o Nepal. “Foi um sonho realizado”, diz. “A capital Katmandu é uma cidade única e cheia de histórias! Também era um sonho ver de perto os Sadhus, considerados homens sábios que renunciam a qualquer bem material. Poder fazer um trekking sentindo a imensidão dos Himalaias, aquela beleza que me faltam palavras para descrever, é surreal. O Nepal é lindo demais. Seu povo é gentil e educado, não existe violência, e a religião é na maioria hindu, mas também budista”. Para ela, viajar não é maquiar a cultura de um lugar, ficando em bons hotéis, circulando com guia para todos os lados. Este também é um jeito válido, mas a sua forma de vivenciar a experiência é se misturar no cotidiano, ver os contrastes e observar.
O Vale de Katmandu, onde fica a capital, era dividido em três reinos, Patan, Bhaktapur e Katmandu, que hoje são três regiões – cada uma delas tem sua praça principal, chamada Durbar Square. A comida típica, a dal bath, se parece com os talis da Índia. As receitas vêm em uma bandeja de cobre com vários pratinhos, “eu sempre vou nos vegetarianos: lentilha, arroz, paneer (um queijo local), legumes e iogurte”.
Quando o assunto é hospedagem, Joanna recomenda os Heritage Hotels, casas originais restauradas com arquitetura típica Newari. Meditação, yoga e contemplação fazem parte da experiência, mas para quem gosta de massagens, Joanna diz que as do Nepal são as melhores da vida.
A artista descreve as cores do país como cintilantes, mas diz que tem um momento mágico, que acontece por volta das seis da manhã, quando se vêem as montanhas descobertas e o nascer do sol. “O sol nasce literalmente vermelho, acho que é um efeito especial gerado pelos Himalaias. A suavidade do momento nos permite olhar fixamente para ele sem que os olhos ardam; é um vermelho alaranjado e concentra toda sua majestade em si, sem se espalhar pelo céu. Sou encantada por aquele lado do mundo. O Nepal está pertinho da Índia, do Sri Lanka e faz fronteira com o Tibet e a China. Pelo Tibete, sinto certo fascínio, mesmo sem nunca ter ido. Até dei a um dos meus trabalhos feitos em Bali, o nome de Sol do Tibet. Curiosamente, andando por uma rua na cidade nepalesa de Pokhara, perguntei a uma tibetana que conheci se ela tinha a bandeira do Tibet. E não é que uma das minhas criações, do trabalho ‘FLAGS’, tinha uma semelhança forte com a bandeira deles? Senti uma conexão ainda maior e percebi que fazia sentido com os meus sentidos”.
“FLAGS”, aliás, nasceu durante a pandemia, quando Joanna começou a trabalhar com os tecidos que garimpou pelo mundo. “Estávamos vivendo um momento de fronteiras fechadas e quis desconstruir minhas próprias bandeiras. Por meio de cores, nascia um trabalho abstrato e geométrico com tecidos usados como se fossem tintas. É um símbolo da minha vida ‘nomádica’ e um processo de criação calmo, onde me recolho e gosto de estar sozinha e em silêncio absoluto”. Afinal, o silêncio, para os que trabalham com criação, é também uma grande viagem!