Foto: Arquivo Pessoal

Por Larissa Chehuen

Uma vez li que a natureza é a melhor tecnologia que temos. E é verdade. Aprendi muito com os manauaras durante os dias que permaneci na Amazônia, em maio. Antes de chegar lá, jamais poderia imaginar que uma formiga serviria de repelente natural ou, ainda, que os famosos botos-cor-de-rosa seriam animais tão sociáveis. E como dica boa é dica compartilhada, trouxe cinco programas para você conseguir aproveitar o local.

Formigas Tapiba

A formiga Tapiba é utilizada pelos índios para repelir insetos. É claro que testei, e funciona mesmo. Ela exala um odor bem forte quando entra em atrito com a nossa pele. Mas, claro, só coloque a mão em um formigueiro com o direcionamento de um guia local.

Um fato curioso é que muita gente acha que a Amazônia é repleta de mosquitos. O surpreendente é que existem lugares – inclusive onde me hospedei – em que há pouquíssimos insetos. Isso varia por conta dos rios da região Amazônica, sendo eles o Rio Negro e o Rio Solimões.

Os insetos preferem águas paradas para a reprodução e o desenvolvimento de suas larvas, e as águas escuras e ácidas do Rio Negro podem ser menos favoráveis. É claro que, apesar da menor presença de mosquitos, ainda é possível encontrá-los em regiões ribeirinhas e próximas a corpos d’água, especialmente onde há vegetação densa e água parada.

Enquanto navegava pelo Rio Negro, praticamente não fui incomodada por eles, porém, não abri mão do repelente natural das formigas Tapiba e muito menos do óleo de citronela.

Comunidade Tuyuca

Foto: Arquivo Pessoal

Falando em conhecimentos adquiridos pelas comunidades indígenas, por que não visitar uma delas? Foi maravilhoso passar algumas horas com a comunidade Tuyuca, perto de Manaus. Fomos de barco até a área onde eles moram na margem esquerda do Rio Negro e foi uma experiência única. Comemos formiga (outra, não a que serve de repelente rs), participamos de um ritual, dançamos e uma indígena fez uma pintura linda em meu rosto.

Nos apresentaram um pouco sobre os instrumentos musicais, lendas e rituais, e nos fizeram sentir parte da sua comunidade. Amazônia é terra de ancestralidade e tradições dos povos originários, e conhecer de perto essa cultura que nos permeia foi um tanto quanto mágico.

Botos-cor-de-rosa

Outro programa imperdível foi o mergulho com os botos-cor-de-rosa. Este passeio é feito com um guia local, saindo de Manaus até o flutuante do Samuel, conhecido como o encantador de botos. Ele realmente conhece a dinâmica desses bichos fascinantes, inclusive me ensinou que ao dar tapas na água cria-se um som que atrai os botos para mais perto.

Fiquei um tempo nadando sozinha na água e fiz o que Samuel me ensinou e, pasmem, vários botos vieram nadar perto de mim. Ainda bem que consegui filmar e registrar para sempre esse momento único na minha vida. É importante dizer que os botos-cor-de-rosa são super dóceis e sociáveis com os seres humanos, mas claro que qualquer interação com animais selvagens deve ser feita de maneira segura e responsável, respeitando e conservando a vida desses animais.

É muito especial ver a relação íntima que os manauaras têm com a floresta e os animais, fora todo o conhecimento sobre a biodiversidade e recursos naturais da região. Esses últimos passeios que citei foram importantes para que eu pudesse valorizar ainda mais a sabedoria dos povos originários e o respeito que eles têm pela natureza. Compreender o estilo de vida daquela comunidade e o papel dela na manutenção da fauna e da flora é fundamental para que possamos entender a importância de respeitar seus territórios e seus direitos humanos.

Turismo na cidade

Outra dica muito legal é: não deixe de visitar os centros culturais de artesanato da região. Em especial, o Mercado Municipal de Manaus, que além de ter uma arquitetura icônica, tem uma variedade de produtos surpreendente. Além do artesanato, o mercado também é famoso pela venda de produtos regionais, como frutas exóticas, peixes frescos, ervas medicinais, especiarias, entre outros alimentos e produtos típicos da região amazônica.

Outro lugar imperdível é o Centro de Formação Almerinda Malaquias (FAM), que fica em Novo Airão. A Fundação foi criada no ano de 1997, por Miguel Rocha da Silva e pelo suíço Jean-Daniel Valloton, após perceberem que havia um desperdício muito grande de madeira na Amazônia na época da construção naval. Então, por meio do reaproveitamento de madeira descartada, eles criaram um centro de formação profissional, onde é ensinado o ofício da marcenaria para jovens da região, além de ser um centro de educação que atende várias crianças. Lá, inclusive, compramos vários souplats, caixas, bandejas, itens decorativos, todos feitos pelos jovens de Novo Airão e feitos com madeira local, em um trabalho interessantíssimo de mosaico com as madeiras que são naturalmente coloridas, sem qualquer uso de tinta.

Época das chuvas

Outro ponto importante para você se atentar ao visitar a Amazônia são as épocas de cheias e vazantes dos rios. São dois cenários bem diferentes, ambos com sua beleza própria, porém vão alterar o tipo de turismo que você irá fazer.

Eu fui na época das cheias, então naveguei por florestas literalmente alagadas. Você consegue navegar pelos igarapés mais profundos e áreas que não seriam acessíveis com o rio vazio. É o momento ideal para ver aves, jacarés e até mesmo os botos. Você também consegue ter acesso às comunidades ribeirinhas que permitem uma interação cultural maior.

Já na época de vazante, são formadas praias fluviais lindíssimas e é uma forma de apreciar uma paisagem diferente. Com o recuo das águas, é possível explorar trilhas terrestres que normalmente estariam alagadas. Essas caminhadas permitem uma experiência mais próxima da floresta, observando a fauna e flora em terra firme. Essa época também é propícia para a prática da pesca esportiva, na qual é possível capturar diferentes espécies de peixes, como o tucunaré, a pirapitinga e o pirarucu.

Ambas as estações têm seu encanto e oferecem experiências únicas na Amazônia. A escolha, depende dos interesses pessoais e do tipo de experiência que se busca na região. Incrível pensar que 60% de uma das maiores riquezas do mundo está aqui, bem no nosso País. Fiquei orgulhosa de poder ter essa experiência enriquecedora e conhecer de perto esse tesouro natural. Foi maravilhoso, Amazônia.