
Lucia Koranyi – Direção criativa: Kleber Matheus | Fotos: Pedro Bucher | Styling: José Camarano
por Gilberto Júnior
Lucia Koranyi avisa logo no começo da conversa que seu “trabalho civil” é ilustrar. E seus desenhos estão realmente por todo canto: nas roupas de marcas festejadas do Rio de Janeiro, nas capas de livro infantil (com texto da jornalista Míriam Leitão) e discos e até nas paredes de um restaurante. “Meu foco é a estamparia”, diz a carioca, de 41 anos. Formada em História, ela começou a ganhar projeção na indústria da moda em 2010, quando passou em uma seleção de estágio no ateliê de Andrea Marques. “Eu era figurinista e apaixonada pelo trabalho da estilista. Tinha feito um curso de corte e costura, mas era muito crua. Passei e fiquei oito temporadas como sua assistente. Fiquei apaixonada pelo talento e pela forma magistral que Andrea tocava o negócio.” Foi a designer, inclusive, que incentivou Lucia, craque em informática, a mergulhar no universo das prints. “Eu era estilista e ela viu em mim algo que eu mesma não enxergava. Faço muito de sua estamparia até hoje”, observa a ilustradora, que, na sequência, bateu cartão na criação de Gilda Midani, onde aprendeu sobre as mais variadas técnicas de tingimento. Sem amarras, passou a colaborar para grandes grifes, como Animale, Forum e Farm. No currículo, também constam colaborações com as etiquetas Haight, Handred e Alix Duvernoy. “Alix, além de ser amiga, é minha parceira criativa mais importante. Tenho total liberdade ao seu lado.”

Lucia Koranyi com vestido Fortuny e, na parede, mural de Mana Bernardes e flores Juup
Apaixonada por Miuccia Prada, Alexander McQueen, Hussein Chalayan e Dries Van Noten, Lucia foi aquele tipo de criança interessada em moda e no mundo das artes de uma forma geral. Usava as páginas do caderno do colégio para extravasar esse amor. “Sempre fui interessada em roupas e afins. Compro minhas peças em brechós, mas também ganho dos meus clien- tes”, conta ela, que na adolescência estudou pintura no Parque Lage. “Aliás, duas experiências nesse meio formaram e moldaram quem eu sou: cursos com o Charles Watson e uma residência com a Cristina Canale, que é uma das minhas artistas contemporâneas preferidas.” Craque na pintura da cerâmica e da porcelana, Lucia, desde a pandemia, vem concentrando seus esforços em telas. Porém, as obras não estão à venda. “E nem sei se um dia estarão. São exercícios e experimentos que ainda não sei aonde vão dar”, esclarece. “Pintar é
muito gostoso, o que não significa que seja fácil. Pelo contrário. Muitas vezes, é um buraco. Vivo insegura e mudando de ideia, apanhando da tinta a óleo. Se paro e olho, sempre aprendo algo. É um privilégio enorme poder trabalhar com o que se ama. Ainda mais quando o que se ama é pintar. E a pintura me ajuda à beça a lidar com minha ansiedade. É preciso esperar secar, não tem jeito. É necessário foco, e bastante paciência.”
Dividida entre a cidade e a roça, a carioca adora Copacabana, porém não sabe viver longe de sua casa na Serra da Mantiqueira, uma cadeia montanhosa que se estende pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. “Essas idas e vindas se refletem na minha maneira de viver. Na roça, acordo às 5 horas, pinto em pedaços de madeira, cascas de bambu… São telas pequenas que faço de observações. Minha alimentação é 100% orgânica; e quase sempre vegetariana. Sou muito saudável. No Rio, tomo chope e frequento festas de música eletrônica. E as telas que faço são enormes e abstratas.” Nômade, Lucia vive nesse endereço em Copacabana há dois anos. “Nunca fico parada muito tempo na mesma casa”, comenta. “Os móveis são todos de leilão, menos a cadeira assinada por Rafael Triboli, meu ex-namorado e grande amigo. Ele é uma pessoa incrível e um artista autoral de muito bom gosto.” E de bom gosto, Lucia entende.

Lucia Koranyi com vestido Alix Duvernoy e sapatilhas Andrea Marques