
Cecilia Madonna Young usa casaco Fernanda Yamamoto, macacão básico.com, sapatilha Gucci e casaco de seu acervo pessoal – Foto: Christian Maldonado, com styling Izabella Ricciardi
Fotos de Christian Maldonado e styling por Izabella Ricciard
É difícil e fácil descrever a minha casa. Todo mundo que vem aqui sempre fica surpreso com a decoração. Por ter morado nela a minha vida inteira, não acho tão peculiar assim. Ela é bem cheia de coisas, isso eu posso confessar sem muito estresse. Sei que minha mãe, Fernanda Young, foi uma das acumuladoras mais irreverentes que já existiu. Quero dizer, herdei tudo – dos objetos até o hábito de não querer me desfazer de coisas que possuem algum tipo de sentimentalismo. E meu pai, Alexandre Machado, por mais que não seja tão apegado assim, tem lá suas coleções de cacarecos. Acabei copiando dele essa mania de colecionar. Mas é tudo muito normal para mim. Já me acostumei com o fato de que tenho que tomar antialérgico antes de abrir armários ou mexer em estantes (outra coisa que herdei dos meus pais: alergia extrema).

Cecilia usa casaco Miu Miu, vestido Free People, meia calça, acessórios e sapatos, tudo acervo pessoal – Foto: Christian Maldonado, com styling Izabella Ricciardi
Meus irmãos também são assim – alguns por escolha, outros por simplesmente terem caído no “fardo” de fazer parte da nossa família. O quarto da minha irmã gêmea, Estela May, é quase impossível de andar por tanta coisa espalhada no chão. As paredes são a mesma coisa – ela tem um tipo de “santuário” para estrelas da música bem em cima da sua televisão que eu acho incrível! John Lennon, Mick Jagger e Kurt Cobain. Recentemente, ela me pediu uma foto do Bob Dylan de uma revista de colecionador que tenho para colocar lá.
Meu irmão, John, está naquela fase de pré-adolescente bagunceiro. Tentou ter uma coleção de latinhas Monster mas não achamos higiênico. Uma coisa que minha mãe sempre disse é que são necessárias apenas duas coisas na vida: higiene e autoestima. Infelizmente, eu ainda estou tentando conquistar a segunda coisa dessa lista, mas sou extremamente higiênica.
Minha irmã, Catarina, tem 14 anos e basicamente herdou todas as bonecas das irmãs mais velhas e vestidos da nossa mãe. É uma loucura o armário dela – uma mistura explosiva de bonecas American Girl e vestidos sofisticados de diversos modelos e cores. Ela é a única com dignidade e magnitude o bastante para usar aquelas obras de arte de mamãe. Estela e eu somos desengonçadas demais para isso, como as gêmeas de “O Iluminado”, mas com postura ruim e histórico de bullying na escola.
Diria que as maiores coleções que meus pais conseguiram manter durante os anos são de discos de vinil, livros, robôs e sapatos. Só consigo usufruir de dois deles, já que meu pé não é tão pequeno quanto o da minha mãe (tamanho 34) e aqueles robozinhos, por alguma razão, não me emocionam tanto (desculpa, papai!). Será que posso adicionar os milhares de eletrônicos antigos que nunca foram descartados na categoria de robôs? Meu pai se orgulha ser o primeiro fã da Apple do Brasil – palavras dele que escutei milhares de vezes durante os meus 22 anos de vida. Temos até aquele iMac original azulzinho.

Cecilia veste casaco Alexandre Herchcovitch, vestido Mind7 C&A, óculos Marc Jacobs, sapato Céline, colares e acessórios acervo pessoal – Foto: Christian Maldonado, com styling Izabella Ricciardi
Sobre os livros e os discos de vinil: essas são duas coleções que tenho ajudado a aumentar cada vez mais. Livros são os essenciais que minha mãe sempre disse que nunca serão um gasto, e, sim, um investimento. Quantas vezes já me encontrei fazendo compras de madrugada em sebos online ou saindo de livrarias com uma sacola pesada, mesmo depois de me prometer que não aconteceria desta vez? Coloco a culpa em minha mãe. Sou uma leitora ávida que se envolve um pouco demais na vida de personagens fictícios.

Cecília com a irmã Catarina, roupas e acessórios do acervo da mãe – Foto: Christian Maldonado, com styling Izabella Ricciardi
Os discos são, modéstia à parte, uma coleção de variedades impressionante. Indo desde a adolescência dos meus pais até compras que fiz esse ano, tem todo tipo de música ali. De pop, rock, folk, música clássica, showtunes, rap… Tem um pouco de tudo para qualquer tipo de sentimento que aparecer. Mesmo que meu pai ache que essa coleção é, hoje em dia, inútil, ele ainda é grande fã de música e foi quem despertou essa paixão nos filhos. Ele é roteirista e sempre trabalhou de casa, o que significa que todos nós crescemos escutando a música alta dele o dia inteiro. Por mais que tenha parecido irritante em alguns momentos, eu e meus irmãos aprendemos a não conseguir existir sem música. Não existe um momento em nosso dia que não tenha algo tocando de fundo. Só, claro, quando estamos assistindo tevê. Por razões óbvias, somos todos apaixonados por cinema e televisão. Se para minha mãe os livros eram investimentos, para o meu pai são os filmes. Não há estudo melhor do ser humano do que um filme bem escrito e dirigido.

Detalhes da sala de estar, com controles remotos quebrados e um autógrafo da banda One Direction – Foto: Christian Maldonado, com styling Izabella Ricciardi
Acho que escrevi esse bando de informação aleatória para, no final, agradecer minha mãe e meu pai. Por mais que tenhamos nossos momentos difíceis, eles deram para mim e meus irmãos os melhores presentes que se pode dar a um filho: o amor incondicional e o conhecimento.

Pingente com fotos das gêmeas no quarto de Fernanda – Foto: Christian Maldonado, com styling Izabella Ricciardi
Tem uma música do Stephen Sondheim (olha, o vício familiar aparecendo) que diz que uma pessoa produz apenas duas coisas para o mundo: filhos e arte. Penso bastante nisso. Minha irmã, Estela, é cartunista e nunca vi alguém com tantas ideias borbulhando quanto nela. Você vai ver muita coisa dela por aí ainda. Eu estou para publicar meu primeiro livro ainda este ano. Veremos o que vai sair dos meus irmãos mais novos. Meus pais nos deixaram uma boa base