Confira a quinta edição da coluna Le Grand BAZAAR

Por Cibele Maciet, de Paris

Olá, caro leitor da BAZAAR. Setembro chegou como uma maratona cultural e fashionista, com Paris, Madrid e Veneza pulsando entre passarelas, exposições e colaborações inesperadas. Do Brasil em cartaz na Saison Brésil–France ao desfile de Carolina Herrera na Plaza Mayor, passando pelo café-design que virou hotspot no Marais e pelo livro que revela os segredos da joalheria Codognato, a temporada mistura arte, moda e lifestyle em doses generosas. No coração de Paris, o maior RP da moda, Lucien Pagès, continua a escrever sua história entre desfiles e risadas, enquanto a Coelho Beauty defende a ideia de que o cabelo merece o mesmo cuidado que a pele. Entre bossa nova em hotéis parisienses, tartans britânicos tropicados pela FARM Rio e mestres revisitados por Yohji Yamamoto no Pompidou, a sensação é de uma rentrée vibrante, onde tradição e ousadia se encontram a cada esquina. Conto tudo isso diretamente do Marais, na capital francesa, que chamo de casa há quase dezesseis anos. Porque, afinal, tout commence à Paris. Curieux(se)? Écris-moi: @cibelemaciet

O Brasil em cartaz na França: de Lygia Pape a Avignon

De setembro a dezembro de 2025, a França segue celebrando a Saison Brésil–France, marco dos 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Nesse mês, a Bourse de Commerce – Pinault Collection inaugura em Paris uma grande exposição dedicada a Lygia Pape, um dos nomes fundamentais da arte brasileira. Em outubro, o Festival d’Avignon coloca as artes cênicas do Brasil no centro da cena europeia, enquanto em novembro o Opéra de Lyon abre sua temporada com coreógrafos brasileiros. Paralelamente, artistas do Brasil estarão em destaque no Festival d’Automne de Paris (setembro a dezembro) e na Biennale d’Art Contemporain de Lyon (outubro a dezembro). Exposições, espetáculos, dança e cinema projetam a vitalidade da cena brasileira no coração da Europa, em torno dos três eixos da temporada — clima, diversidade e democracia. bresilfrance2025.com

Casa da Alessa leva a moda brasileira ao Sofitel Scribe Paris

E não pára por aí. Nos dias 27 e 28 de setembro, o Sofitel Le Scribe Paris Opéra abre suas portas para celebrar o Ano do Brasil na França com um fim de semana inteiramente dedicado ao espírito tropical. No sábado, a partir das 18h, a noite ganha cores e ritmos com a La Nuit Brésilienne by Sofitel: desfile da marca carioca Casa da Alessa, música ao vivo, dançarinos de samba, coquetéis típicos como a caipirinha e um menu de street food brasileira que promete transportar os parisienses para o outro lado do Atlântico. No domingo, é a vez do Brunch Brésilien, embalado por música ao vivo ao som da bossa nova. No buffet, sabores autênticos com destaque para a feijoada, dividem espaço com opções frescas e tropicais. Entre sofisticação parisiense e alegria brasileira, o Sofitel Scribe promete transformar o coração do bairro da Ópera em palco de festa, sabor e música. sofitel-le-scribe-paris-opera.com

Madrid em festa: Carolina Herrera transforma a Plaza Mayor em passarela

Em setembro, Madrid se veste de festa: a Plaza Mayor, coração histórico da cidade, será transformada em passarela para o desfile da coleção Primavera-Verão 2026 de Carolina Herrera. No dia 18, as sacadas, os arcos e a energia vibrante da praça de quatro séculos de história se misturam ao frescor da moda criada por Wes Gordon, diretor criativo da maison. Mais do que um desfile, é uma declaração de amor à capital espanhola, onde tradição e modernidade se encontram sob o céu de fim de verão. Carolina Herrera, sinônimo de elegância e sofisticação desde 1981, leva à Plaza Mayor seu universo de cores, cortes impecáveis e a alegria que sempre definiu a marca. Entre perfumes icônicos como Good Girl e 212, vestidos que flutuam no imaginário feminino e a beleza ousada da linha Herrera Beauty, a apresentação promete ser um daqueles momentos que fazem história, como se a própria cidade se tornasse modelo por uma noite. carolinaherrera.com

No Marais, um café que é design, sabor e manifesto

Paris nunca cansa de reinventar o café — e o mais novo endereço que prova isso é o Café Nuances, inaugurado no coração do Marais. Sob a batuta de Harry Nuriev, do Crosby Studios, o espaço mistura minimalismo e vibração: paredes que mudam de cor, mesas em inox e cadeiras-escultura que lembram copos amassados. No cardápio, cafés vindos de terroirs preciosos: o Slow Dance brasileiro, com notas de chocolate e noz-pecã; o Roses des Sables etíope, floral e delicado; e o Meteorite, de El Salvador, que surpreende com toques de manga e amora. Para acompanhar, pâtisseries maison já disputadas no Instagram, como o croissant de matcha, o bun de pistache e o roulé de canela. Há espaço também para criações autorais, como o latte de chocolate e coco ou o matcha com jasmim. Mais que um café, é um manifesto de design e sabor, que transforma a pausa parisiense em experiência sensorial. cafenuances.com

Entre caveiras e diamantes: a filosofia secreta de Codognato

Veneza abriga há mais de 150 anos a enigmática joalheria Codognato, fundada em 1866 a poucos passos da Piazza San Marco. Dela nasceu o recém-lançado livro “A. Codognato. Memento Vivere”, publicado pela Marsilio Arte, já disponível nas livrarias especializadas. A obra mergulha no universo de Attilio Codognato, figura mítica da joalheria veneziana, que transformou serpentes, caveiras e símbolos barrocos em joias icônicas. Três ensaios críticos exploram sua visão irreverente, marcada pelo diálogo entre vida e morte, tradição e vanguarda. As mais de 150 imagens incluem cliques de Juergen Teller, Mario Sorrenti e Ruven Afanador, revelando tanto as peças quanto o imaginário da maison. Admirado por nomes como Tilda Swinton, Elton John e Alessandro Michele, Codognato foi também um colecionador de arte contemporânea, de Duchamp a Warhol, Rauschenberg e Twombly. O livro não é apenas catálogo: é manifesto estético. Entre o esplendor bizantino e a delicadeza renascentista, ecoa a filosofia do memento mori, transformando luxo em experiência existencial. @maison_codognato

Sob os holofotes: a nova estrela da beleza Dior

Há estrelas que nascem no palco e outras que brilham direto no nécessaire. A Dior lança o Rouge Dior On Stage, batom que promete redefinir o jogo da cor e da luminosidade. O novo stick se distingue pela silhueta azul-nuit, longa e afilada, marcada pelo logo CD invertido — gesto ousado que anuncia uma nova era. O segredo está na tecnologia de “duas fases”, um feito de laboratório que une pigmentos de longa fixação a óleos de brilho extremo, garantindo cor intensa e hidratação de 24 horas. Entre as dez nuances, três já despontam como protagonistas: o nude rosé Iconic Rose (120), o vermelho profundo Red Shock (550) e o tom madeira azulado Redwood Star (390). O rosto da campanha é a maravilhosa Jenna Ortega, que assume diferentes personas diante das câmeras de Gordon Von Steiner e do fotógrafo Oliver Hadlee Pearch: ora femme fatale, ora ícone pop, sempre magnética. dior.com

Quando o tartan encontra os trópicos: Barbour x FARM Rio

A campanha inglesa e os trópicos brasileiros acabam de se encontrar em uma coleção inesperada: Barbour x FARM Rio. Lançada no dia 9 desse mês, a parceria une os tartans clássicos e a alfaiataria britânica da Barbour aos estampados tropicais e cheios de “borogodó” da FARM. Fotografada nos Cotswolds com a modelo britânica Imogen Waterhouse, a coleção mistura o verde suave das colinas inglesas com abacaxis dourados, jaguares e flores exuberantes. São três estampas exclusivas — o Tartan Rose, o Tropical e o Ananas — que transformam casacos, saias e acessórios em peças de desejo global. A jaqueta quilt ganha mangas bufantes bordadas de ananás, enquanto a minissaia em patchwork traduz a alegria carioca no corte inglês. Para a FARM, é o romantismo tropical chegando à realeza do campo britânico; para a Barbour, é uma lufada de cor e leveza em mais de 150 anos de tradição. O resultado é um guarda-roupa que equilibra o charme atemporal da Inglaterra com a exuberância solar do Brasil — uma verdadeira história de amor tropical vestida de tartan. farmrio.eu

Entre Caravaggio e máquinas de lavar: o universo de Thierry Bruet

Paris se prepara para uma explosão de cores e ironia: de 12 a 25 de setembro de 2025, a Galerie MR8, no Marais, recebe a exposição “Serial Painter” de Thierry Bruet. Conhecido por reinventar a pintura figurativa com humor ácido e técnica impecável, o artista apresenta 40 telas em grandes formatos, criadas a óleo segundo a tradição dos mestres clássicos, mas sempre subvertidas por um olhar contemporâneo. Caravaggio e Bacon dialogam com escarpins, máquinas de lavar e personagens caricaturais, em um choque estético que provoca tanto riso quanto desconforto. Nascido em Paris em 1949, Bruet já expôs de Londres a Xangai e tem obras em lugares tão distintos quanto o George V e o Four Seasons de Florença. Para ele, “é importante não ser sério” — e suas telas confirmam: grotesco e elegância podem conviver lado a lado. A mostra vem acompanhada do lançamento do livro “Thierry Bruet, Être de peinture” (Gourcuff Gradenigo), com ensaios do historiador Jean-Marc Elsholz, que mergulham na filosofia por trás dessa obra tão singular. thierrybruet.com

Do perfume ao tecido: Acqua di Parma lança cápsula com La Veste

O verão mediterrâneo acaba de ganhar versão em tecido e perfume. A Acqua di Parma se une à marca espanhola La Veste, das criadoras Blanca Miró e María de la Orden, para lançar uma cápsula de pijamas exclusivos. Inspirada na coleção de verão em edição limitada da maison italiana e nas obras coloridas de Ben Arpéa, a collab traz três modelos que traduzem o espírito das férias ensolaradas. Cada peça surge em listras icônicas — amarelo, azul e vermelho — e é bordada com um tom limão, símbolo imediato da dolce vita. Disponível apenas na boutique Acqua di Parma de Saint-Tropez, a coleção é uma ode à leveza e à alegria espontânea. Desde 2018, a La Veste é referência de moda anticonvencional e vibrante, com cores vivas e produção artesanal feita na Espanha. Já a Acqua di Parma, com mais de um século de história, segue como embaixadora do savoir-faire italiano. O resultado é um encontro solar entre moda, lifestyle e fragrância — perfeito para vestir o verão com frescor e elegância. lavestelaveste.com

À mesa com estilo: Café Kitsuné lança sua primeira linha de objetos

O ritual do café da manhã ganhou nova elegância com a chegada da coleção Café Kitsuné Objets, já disponível em endereços selecionados da marca e online. Inspirada nas manhãs parisienses e na delicadeza dos domingos japoneses, a linha traduz o lifestyle franco-japonês do Café Kitsuné em peças para a mesa. O delicado xadrez verde-azulado, pintado à mão em aquarela, aparece em porta-ovos, bowls, pratos, xícaras, leiteira e até num duo de saleiro e pimenteiro. Objetos cotidianos que, aqui, viram pequenos rituais de prazer. Para completar, a maison se uniu à Sabre Paris para criar talheres exclusivos em inox bicolor, disponíveis nas versões matcha e latte. Famoso por pioneirismo no matcha em Paris e cafés de alta qualidade, o Café Kitsuné soma hoje mais de 35 endereços globais, de Seul a Bali. Com a linha Objets, leva sua estética minimalista e cosmopolita para dentro de casa — mesas onde o design conversa com o sabor. maisonkitsune.com

Do Louvre ao Pompidou: Yamamoto reinventa os mestres

De 14 de junho de 2025 a 2 de fevereiro de 2026, o Centre Pompidou-Metz recebe a exposição Copyists, realizada em colaboração excepcional com o Museu do Louvre. A mostra parte de uma tradição clássica: copiar os mestres como forma de aprendizado e criação. Mais de cem artistas contemporâneos foram convidados a revisitar obras do Louvre, propondo novas leituras entre originalidade e duplicação. Entre eles, o estilista japonês Yohji Yamamoto, que escolheu reinterpretar Portrait of a Man with His Doublet Half Open, de Lucas Franchoys (século 18). Fascinado pela “rigidez do preto e branco, dos cortes e das mangas”, Yamamoto transforma o rigor barroco em rebeldia contemporânea. “Às vezes, olhar para o passado sem se limitar a ele pode ser o maior ato de rebelião”, afirmou o criador. A reflexão ecoa sua trajetória: sempre entre moda, arte e filosofia, costurando o tempo com cortes que são gesto e manifesto. No Pompidou-Metz, o resultado é uma peça que prova como a cópia pode ser, paradoxalmente, a mais radical das criações. centrepompidou-metz.fr

L’objet du désir – a escolha que faz oh là là!

Gostei da ideia de que o cabelo merece o mesmo cuidado que a pele. Quem levanta essa bandeira é a Coelho Beauty, marca parisiense fundada em 2021 por Adrien Coelho. Agora, ele apresenta a nova gama Hair Lumière, criada para nutrir, iluminar e tratar a fibra capilar desde a raiz. A coleção reúne o Shampoing Soin Intense (€40), o Masque Intense (€52) e o inovador Fluide Multi-Moody (€45), pensado para múltiplos usos e ritmos de vida. Veganos, clean e formulados em colaboração com preparadores de farmácia em Paris, os produtos seguem a filosofia de Coelho: a skinification do cabelo — levar os rituais do skincare ao couro cabeludo. Para completar, chegam também os acessórios que já nascem icônicos, como os Clips Coelho Beauty. Três vezes vencedor do Hairdressing Awards e conhecido como “globe-trotter da beleza”, Adrien imprime à marca sua experiência em passarelas, editoriais e salões internacionais. Mais do que uma linha de produtos, a Hair Lumière é um convite a transformar o cuidado capilar em um gesto de prazer consciente, simples e sofisticado. coelhobeauty.com

O personagem extraordinaire do mês

Conheço Lucien Pagès desde 2009, quando me mudei para Paris. Nos encontrávamos entre um desfile e outro que ele já comandava — e ainda comanda. Na época, era um grande RP de moda e lifestyle; hoje, é simplesmente o maior de todos. Representa mais de 150 marcas entre Paris, Londres e Nova York — nomes como Pucci, Jacquemus e Schiaparelli — e, mesmo assim, encontrou tempo para me receber, ao lado do meu amigo, o stylist Lucio Fonseca, na semana passada em seu escritório de dois andares no boulevard Poissonnière. Simpático, disponível e generoso, Lucien nem parecia preocupado com a “cachoeira” de e-mails que o aguardava depois da nossa conversa. “Esta primeira semana de setembro é a última antes das semanas de moda, quando vou estar entre vários aviões para acompanhar meus clientes”, disse, rindo. Entre tiradas afiadas e boas risadas, percebi que ele continua o mesmo menino que um dia deixou as Cévennes, no centro da França, para tentar a vida de estilista em Paris. Viva Lucien! lucienpages.com