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Empreender sempre foi um território desafiador –— um caminho onde coragem, visão e resiliência precisam caminhar lado a lado. Quando falamos de mulheres empreendedoras, esse percurso ganha ainda mais camadas. Por séculos, ideias femininas foram desacreditadas, silenciadas ou simplesmente atribuídas a outros nomes. Ainda assim, algumas das mentes mais brilhantes da humanidade foram mulheres que transformam obstáculos em invenção.

Da cientista Marie Curie, primeira pessoa da história a receber dois Prêmios Nobel, à inventora Hedy Lamarr, cuja tecnologia serviu de base para o Wi-Fi e o Bluetooth, passando por Ada Lovelace, considerada a primeira programadora da história, a inovação sempre teve assinatura feminina -mesmo quando o reconhecimento demorou a chegar.

No Brasil, esse movimento se intensifica. Vivemos um momento em que mulheres assumem protagonismo em diversas áreas, do varejo à tecnologia, da beleza à economia criativa. São líderes que direcionam equipes, criam produtos desejados, constroem marcas globais e, acima de tudo, ampliam espaços para que outras mulheres também floresçam.

Para entender esse cenário, a BAZAAR conversou com algumas das empresárias brasileiras mais influentes da atualidade, mulheres que transformaram suas histórias pessoais em negócios relevantes, inovadores e alinhados ao futuro.

Elas falam sobre propósito, sobre desafios que ainda persistem – como o acesso desigual a investimentos, o acúmulo de jornadas e o preconceito estrutural, mas também sobre como enxergam o empreendedorismo como ferramenta de autonomia e impacto. Reforçam a importância da rede: mulheres apoiando mulheres, mentoras que abrem caminhos, comunidades que se fortalecem juntas.

A nova geração de empreendedoras também traz uma visão mais humana do sucesso: negócios alinhados a valores, impacto social, sustentabilidade e bem-estar. São elas que remodelam mercados e provam, dia após dia, que inovação não é apenas tecnologia — é sensibilidade, visão e coragem para propor o novo.

Abaixo, leia um conselho de cada uma delas para outras mulheres que sonham em empreender:

Maria Eduarda Camargo, cofundadora da Pantys

Duda Camargo – Foto: Divulgação

“Se eu pudesse resumir o ato de empreender em uma palavra, seria persistência. Inovar demanda uma combinação rara de resiliência emocional e compromisso técnico. Meu conselho é: estude profundamente o problema de mercado que deseja resolver, desenvolva uma solução melhor do que qualquer outra disponível e tenha coragem de colocá-la no mercado, mesmo sabendo que nem todos vão entender de imediato. Empreender exige paciência para educar, insistência para evoluir e humildade para reconhecer o momento de ajustar as velas. A jornada não é linear, e é justamente isso que a torna transformadora. Fundar a Pantys foi compreender que o impacto real acontece quando a inovação encontra propósito. Criamos a primeira calcinha absorvente do Brasil e abrimos um mercado que não existia. Enfrentei dúvidas, resistência e muitos desafios, mas descobri a força de acreditar profundamente em uma ideia. Empreender, para mim, é isso: desafiar com responsabilidade, ciência e afeto.”

Isa Silva, estilista e fundadora da marca homônima

Isa Silva – Foto: Divulgação

“Eu empreendo desde que me conheço por gente. Sempre fez parte da minha vida me organizar, planejar e colocar em ação o que desejo. Comecei ainda estudante, trabalhando em casa, e sigo assim, dez anos depois de criar minha marca. Empreender é acreditar, ouvir seu eu interior, dizer ‘eu posso’, ‘eu consigo’, ‘eu sou boa no que faço’, ‘eu mereço ser feliz fazendo o que faço’. É decidir entregar algo incrível às pessoas –— algo que elas realmente merecem.”

Carol Cassou, cofundadora da Gallerist

Carol Cassou- Foto: Divulgação

“Para mim, empreender sempre significou criar algo em que eu e minhas irmãs acreditamos profundamente. O Gallerist nasceu de um olhar curatorial e da vontade de dar espaço ao novo, mas foi a disciplina diária que transformou essa ideia em empresa. No empreendedorismo, existe resiliência, estudo e a capacidade de se reinventar. Liderança não é controlar tudo, mas enxergar potencial –— no negócio, na equipe e em você mesma. Busque pessoas melhores do que você em áreas estratégicas e delegue de verdade. Um líder eficiente cria um ambiente onde cada profissional alcança seu máximo. Acima de tudo, tenha clareza de propósito. Quando você sabe o que está construindo, o caminho deixa de ser sobre velocidade e passa a ser sobre consistência.” 

Patricia Lima, fundadora da Simple Organic

Patricia Lima- Foto: Divulgação

“No início da minha jornada como empreendedora, precisei ressignificar padrões da indústria, questionar fórmulas prontas e assumir o risco de construir algo pioneiro. Descobri que empreender no setor da beleza exige coragem para caminhar na contramão, resiliência para educar o mercado e disciplina para sustentar escolhas sustentáveis, mesmo quando o caminho é mais lento. Com o tempo, entendi que propósito não se prova com discursos, mas com constância e entrega. Empreender com propósito começa com um ponto simples: ter absoluta nitidez da intenção. É preciso identificar qual necessidade real a sua marca atende. Depois, o propósito precisa ganhar vida nas escolhas do dia a dia. O segundo fundamento é estrutural: cuidar de toda a cadeia é honrar a essência do negócio.” 

Daniela Falcão, fundadora da Nordestesse

Daniela Falcão -Foto: Divulgação

“Dos 20 aos 50 anos, no meu período como jornalista, sempre fui CLT e gostava do conforto da carteira assinada: férias remuneradas, 13º salário, plano de saúde e a segurança de um salário certo todo mês. Também gostava de sair de férias e desligar. Quando veio a pandemia, voltei a morar no Nordeste e senti vontade de ficar por lá depois de quase 30 anos vivendo entre Rio, São Paulo e Brasília. Mas seria praticamente impossível encontrar uma posição na área de mídia em Recife ou Salvador, onde eu queria morar. Entendi que a única forma seria criar meu próprio negócio. Ao completar 50 anos, passei a refletir sobre o legado que queria deixar e sobre como desejava viver os próximos 50. Decidi reunir os talentos que desenvolvi nas redações –— conexões, criatividade para buscar recursos, experiência em eventos e projetos especiais – e lancei a Nordestesse, uma plataforma colaborativa que documenta, amplifica e fomentar o talento de criativos dos nove estados do Nordeste nas áreas de moda, design, artes visuais, gastronomia e artesanato.

Aprendi a viver sem saber exatamente como será o amanhã – mas, mesmo como na CLT, o amanhã nunca foi tão certo assim. Me inspiro nos millennials e na Gen Z, que já começam a vida profissional com mais vontade de empreender do que de ocupar um emprego formal. Também aprendi que errar faz parte – primeiro, começamos, depois melhoramos. É o meme mais verdadeiro que conheço. Comecei e sigo evoluindo. Ainda há muito aprendizado pela frente, e é genial ter 55 anos e quase todo mês fazer algo pela primeira vez ou aprender uma nova habilidade.”

Luiza Mallmann, fundadora da Ryzí

Luiza Mallmann- Foto: Divulgação

“Empreender é, antes de tudo, confiar – e não é um caminho solitário. É acreditar profundamente no que você faz e conseguir transmitir essa convicção às pessoas ao seu redor. É essencial encontrar mulheres que compartilhem do mesmo propósito e se tornem parte dessa história, porque nada se constrói sozinha. O mundo dos negócios não é leve; ele ensina muito. Por isso, a leveza precisa vir de dentro. Quando você acredita e tem pessoas ao lado que também acreditam, enfrentar os ‘nãos’ do caminho se torna mais fácil.”

Luana Génot, fundadora do ID_BR

Luana Génot- Foto: Divulgação

“Muita gente espera o momento ideal para agir: o plano perfeito, a reunião perfeita, o timing exato, os números incríveis. Mas, na prática, esse momento quase nunca chega e, enquanto esperamos, ficamos paralisados. Nas minhas vivências, percebo que o medo de ‘queimar cartucho’ muitas vezes é apenas uma forma sofisticada de deixar o medo vencer, de adiar a coragem e a cara de pau que o empreendedorismo exige, especialmente quando se começa sem tanto capital social. Porque o caminho de quem constrói seja um negócio, uma carreira ou uma mudança no mundo é feito de tentativa e erro, de suor, de saliva, de sola de sapato. Entre se preparar e se esconder atrás do perfeccionismo existe uma linha muito tênue. E é atravessando essa linha, aceitando a imperfeição do começo, que a gente realmente cria, aprende e transforma. Empreender é isso: agir antes de estar pronto e confiar que o movimento ensina aquilo que a teoria nunca vai ensinar.” 

Luciana Navarro, sócia-fundadora da Care Natural Beauty

Luciana Navarro – Foto: Divulgação

“Tenha sempre em mente por que você iniciou essa jornada e o que desejou entregar ao mundo com ela. Esse será seu ponto de apoio nos dias difíceis e seu orgulho nos dias bons. Lembre-se de aproveitar o caminho, e não apenas esperar pelo ‘ponto de chegada’ – é a jornada que de fato importa. E, por último, cuide de si mesma. O autocuidado mantém o equilíbrio necessário para tomar as melhores decisões para o seu negócio. Leve sua intuição a sério.”

Joice Sens, cofundadora e diretora criativa da LIVE!

Joice Sens- Foto: Divulgação

“Empreender é transformar propósito e atitude em movimento. O caminho não é linear; exige coragem para decisões difíceis, humildade para aprender com os erros e sensibilidade para entender o impacto que você quer gerar. Cerque-se de pessoas que compartilhem seus valores e invista tempo em construir uma cultura forte, porque são as pessoas que sustentam a longevidade de um negócio. Na LIVE!, criamos uma marca que inspira autonomia feminina e um futuro mais consciente. Aprendi que liderar é acolher, errar, recomeçar e seguir construindo caminhos para que outras pessoas também encontrem potência na própria história. Empreender exige sensibilidade tanto quanto força. É dessa dualidade que nasce a inovação: o equilíbrio entre visão e humanidade. Minha dica? Seja autêntica. Entenda sua história e permita que ela guie suas decisões. Para mim, empreender é unir alma, propósito e coragem” 

Nidia Rosenthal Szylit, proprietária da Eurico

Nídia Rosenthal Szylit – Foto: Divulgação

“A frase é clichê, mas funciona como bússola: se você quer empreender, conheça seu cliente.
Três princípios essenciais: Clientes – A satisfação deles deve ser o seu objetivo; Colaboradores –Faça com que se sintam parte do jogo, e não apenas prestadores de serviço. Traga sua equipe para vestir a camisa da empresa e respeite cada profissional. E, por fim, fornecedores — Busque boas negociações, em que eles enxerguem a possibilidade de crescer junto com você.” 

Anahi Laran e Victoria Pires, sócias-fundadoras da Torso Studios

Anahi Laran e Victoria Pires – Foto: Divulgação

“Existe um mito muito comum de que boas líderes precisam performar de uma maneira específica: com uma postura dura e inflexível; uma versão quase caricata do que significa comandar. Qualidades que tantas vezes são lidas como ‘suaves’ (e femininas, nesse caso), como sensibilidade, escuta ativa e empatia, são exatamente aquelas que, na prática, sustentam decisões mais inteligentes e relações mais humanas. A força da presença feminina no empreendedorismo se revela justamente naquilo que, por muito tempo, usaram para nos descredibilizar ou nos pediram para esconder. Nosso conselho para quem está trilhando esse caminho é reivindicar a nossa maneira particular de ocupar o mundo, sem abrir mão dessas nuances — cada vez mais entendemos que a sensibilidade não é uma fraqueza, é uma habilidade que deve ser exaltada.” 

Mayara Junges estilista e proprietária da marca Mayara Junges

Mayara Junges – Foto: Divulgação

“Sem dúvida, empreender é um desafio diário — que parece não ter fim. Mas, quando encontramos paixão no que fazemos, tudo se torna mais leve. Acredito que consistência e resiliência são fundamentais para quem deseja empreender, assim como a coragem de seguir naquilo em que se acredita, sempre.

“Minha trajetória como empreendedora e estilista começou quase por acaso. Ter um negócio acabou sendo uma extensão natural de uma paixão que sempre me moveu: a moda com propósito. Hoje, com três anos de marca, sinto que evoluí muito — como pessoa e como empreendedora. Abri espaço para novas oportunidades, novas pessoas e novos caminhos. A evolução é constante e, ao mesmo tempo, desafiadora, porque exige que eu saia da zona de conforto o tempo todo.”