Maya Gabeira, surfista de ondas gigantes, empresária, escritora e embaixadora da Unesco para o Oceano, terá sua vida retratada em documentário, que chega nas plataformas de streaming ainda neste ano. Em entrevista à Bazaar, Maya fala sobre sua trajetória profissionais, o que mudou em sua vida depois do acidente de 2013, seu lado empreendedora e seus projetos culturais.
“Há dados e precisamos nos apropriar para fazer parte da mudança necessária, porque precisa ser em uma escala muito grande”, fala a surfista sobre a importância em falarmos sobre a proteção ambiental dos oceanos. Leia a íntegra do papo abaixo:
Harper’s Bazaar – O que te atraiu no surf?
Maya Gabeira – Na minha escola, quando eu tinha 13 para 14, os meus amigos surfavam – muitos meninos. Foi quando, realmente, me interessei. Comecei em uma escolinha de surf e, uma vez que entrou na minha vida, já virou o esporte oficial. Não tinha nenhum outro que se igualasse.
HB – Houve um turning point de amadora para profissional?
MG – Não fui pelo caminho tradicional, que era a competição. O surf de ondas grandes era embrionário. Só havia sido estipulado para homens, como recordes, prêmios e patrocínios. Para mulheres, fui criando essa possibilidade.
HB – Como é ter batido recordes e estampar o nome no “Guinness Book”?
MG – Superenriquecedor. Fazer parte do processo é muito interessante, ver o crescimento e as diferenças. Entender que há um longo caminho pela frente, mas já andou pra caramba. Dá até a sensação de que se está ficando velho (risos).
HB – Aposentadoria está nos planos?
MG – Vai ter um momento que não vou surfar ondas gigantes. Surfar é um estilo de vida. Estar dentro d’água é inevitável. Vai ter um momento de transição, mas não sei em quantos anos.
HB – Sua relação com o oceano mudou a partir daquele acidente, em 2013?
MG – Em uma experiência de quase-morte, muita coisa muda. Não só com o mar, mas com a vida. É intensa, e a mudança vem gradualmente. Faz parte da recuperação, de se sentir bem de novo e superar aquele trauma.
HB – Qual sua maior assinatura no que se propõe a fazer?
MG – Resiliência. É um ponto forte, que, com certeza, foi algo essencial para chegar até aqui. Em 2022, criei uma marca de protetor solar.
HB – Como foi esse despertar como empreendedora?
MG – Tinha uma visão do que gostaria de criar, com algumas modificações, como questões ambientais, insumos rastreados e que não tivesse plástico. É um produto que uso todos os dias. Daí saiu o desejo de criar uma fórmula em que confiasse, amasse e pudesse dividir com todo o mundo na Blue Aya.
HB – Como é este seu lado empresária?
MG – A operação ainda depende de mim. Sou eu e minha mãe (a estilista Yamê Reis). Há pessoas que trabalham, mas o mais pesado somos nós duas. No momento, está à venda no e-commerce, chega em todo o Brasil, além de marketplaces. Expandir é o grande desafio. Nunca fiz isso antes, não é minha expertise nem a da minha mãe.
HB – Em 2023, você lançou “Maya e a Fera”, e está trabalhando no sucessor. Qual a história deste novo livro?
MG – A sequência é um livro para a mesma idade, chamado “Maya Makes Waves” (“Maya Tira Onda”, em tradução livre). Será lançado em agosto deste ano. É uma história de experiências da mesma protagonista, com momentos no mar, tanto do surf quanto encontros com animais marinhos, mergulhos com corais e uma mensagem de conservação para as crianças. Primeiro sai em inglês e, tomara que, no ano seguinte, saia em português.

Aos 36 anos, a surfista, empresária, escritora e embaixadora da Unesco para o Oceano vive em Nazaré, Portugal, paraíso das ondas gigantes – Foto: Divulgação
HB – Tem vontade de fazer mais coisas?
MG – Tenho um livro infanto-juvenil, “Beyond the Board”, previsto para sair em 2025. Se conseguir entregar esses dois, já vou ficar bem feliz (risos).
HB – Como usa da sua influência para levar uma mensagem de conservação ambiental?
MG – É um reflexo dos meus interesses. Passo muito tempo dentro do mar e me preocupo com aquilo que vejo. A gente está em uma situação que não se pode mais ignorar, tanto com o aquecimento global quanto na conservação dos oceanos e dos plásticos. Há dados e precisamos nos apropriar para fazer parte da mudança necessária, porque precisa ser em uma escala muito grande.
HB – Quando não está no mar, o que gosta de fazer?
MG – Eu treino, faço caminhada. Moro em um lugar com muitas trilhas. É o momento de diversão da cachorrada.
HB – Como é a troca com meninas mais jovens que veem você como referência?
MG – Adoro ver as meninas mais jovens, talentosas, ver o esporte crescendo. Não é a sensação de que elas me admiram, mas fiz parte daquilo. Sempre falo: competição, para mim, foi muito saudável. Quando o nosso ambiente ficou mais competitivo, com certeza ganhei anos de carreira. Porque vem, também, a motivação.
HB – Como você se relaciona com a moda?
MG – Adoro moda. Como moro na roça, uso coisas muito confortáveis. Repito muita roupa, sempre confortável. Quando viajo, aproveito para usar uns trench coats, calça de couro ou jeans, mas aqui eu nunca uso.
HB – Você participou do programa educacional Sea Beyond, da Fundação Prada…
MG – É uma parceria para avançar a literatura oceânica em escolas. Participo como embaixadora, projeto interessantíssimo para as crianças terem acesso ao conhecimento sobre o mar.
HB – E o documentário com seu nome, quando lança?
MG – “Maya And The Waves” deve ser lançado nos cinemas e, depois, nas plataformas este ano, sem data definida ainda. Foi um processo de dez anos e é uma biografia bem completa que fecha em 2018 para 2019.
HB – E como é ver sua trajetória nas telonas?
MG – É muito doido. Fortes emoções, de conquistas e de derrotas (gargalha).