Por Juliana Lopes
A primeira história é sobre mulheres e revistas. Uma boa e muito gostosa parte da trajetória das mulheres está registrada em revistas. Documentando mulheres com o amor de uma revista, aprendemos que muitas nasceram, muitas morreram, muitas se alegraram, se magoaram e se maravilharam. Tanta coisa para perguntar no mundo das mulheres: O que é inatingível? O que é realidade? O que é fantasia? O que é estilo, styling, produção, arte e sonho? O que de fato as inspira? Qual o espírito do tempo? E assim caminhamos e mais mulheres aparecem.
Podemos dizer que as revistas, no final das contas, sempre enalteceram as mulheres. Como toda relação, precisa de ajustes contínuos. Embelezam, vestem, fotografam, colocam luz, perguntam coisas para elas. Dão valor. Dão espaço. Uma história das mulheres é essa, olhar todo o DNA visivo que uma revista cria ao longo da história. Faltaram muitas, recuperam-se outras. Esquecemos e lembramos. Mas juntas existimos. Revistas seguem sendo um espaço mágico. E tem sido, de forma maciça e apaixonada, um lugar de mulheres.
A segunda história é sobre o dia das Mulheres. Que é um dia firme no nosso calendário. Daremos sempre espaço para esse dia. Uma data criada com dores, por mulheres que lutavam por direitos, morreram por seus direitos e abriram caminhos pelos quais somos gratas: trabalhar e votar (existir). No Brasil, temos mais sorte do que as mulheres que vivem sob o agressivo Taleban, mas estamos alertas.
Sabemos que as mulheres são várias, não somos ingênuas. Mulheres que não querem saber de flores, e mulheres que amam flores, chocolate e um bilhete em forma de coração. Mulheres que entendem tudo sobre feminismo, que usam a palavra estampada no peito. Mulheres com os mesmos valores, mas outras palavras.
As outras histórias estão nas vozes, palavras e imagens das mulheres que ganham holofotes na Bazaar deste mês. Mulheres que estão em ótimos momentos, lutas, representatividade, beleza. O que temos de diferente em relação a décadas passadas? Um novo espírito do tempo, uma nova forma de encarar aparências e pensamentos vários. O que teremos no futuro? Talvez não sejamos as mesmas.
Uma das caras do nosso 2022 é Isis Valverde, cada vez mais mulherona, dona de personagens fortes, vai interpretar o ícone Ângela Diniz em filme da Globo. Ela estampa nossa capa. Duda Beat, cantora pernambucana, vai mostrar o Nordeste em turnê pela Europa. Larissa Luz, cantora baiana, aborda temas como autoestima e afetividade preta. A autora Ilana Eleá fala sobre o fim da monogamia e assume seus desejos. A cientista Ingrid Barcelos é a quebra de paradigmas em formato de mulher: preta, de origem humilde, consagrada como pesquisadora de nanopartículas. A cineasta Dainara Toffoli dirigindo Monica Iozzi como protagonista chacoalha nossos conceitos sobre maternidade. A atriz Anna Baird, burlesca, a deputada Erica Malunguinho, as ativistas Shirley Krenak e Watatakalu e a escritora Giovana Madalosso falam de suas lutas diárias contra o machismo.
E lá estamos, novamente, contando essa história de mulheres e revistas, imagens e palavras, contradições e desejos. Um caldo cultural que ficará para nossas sucessoras. Mulheres tão diferentes, mas com algo em comum. Algo que ainda não conseguimos e nem tentaremos explicar com uma só palavra.