"Making the Cut": terceira temporada aborda presença digital e criatividade

Rafael Chaouiche, estilista brasileiro, e Tim Gunn – Foto: Divulgação

Desde que criou a Chaouiche, grife que leva seu sobrenome, Rafael Chaouiche já coleciona algumas experiências na televisão. Nas últimas semanas, a primeira participação internacional chegou à Amazon Prime Video: Making the Cut, reality show que tornou seu nome e label conhecidos ao redor do globo e expandiu os horizontes do designer.

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Por enquanto, o designer só tem motivos para celebrar: a última leva de episódios lançados nesta sexta-feira (02.09) mostra que o paranaense chegou ao Top 4 do programa, ou seja, se tornou um dos finalistas da competição. Seu carisma e humildade, junto à criatividade que tem de sobra, encantam os jurados e nos faz torcer cada vez mais pela sua vitória no programa.

Em entrevista à Bazaar, Chaouiche conta mais detalhes sobre a experiência e quais são seus planos para o futuro. “Consegui perceber e ter certeza de que amo ser brasileiro, coisa que, às vezes, só a distância nos faz perceber”, reflete o designer. Leia o papo completo abaixo:

Harper’s Bazaar – Você foi o primeiro brasileiro a representar nosso País em “Making the Cut”. Como foi essa experiência?

Rafael Chaouiche – Ter sido o primeiro brasileiro em uma competição norte-americana foi como uma nova universidade que a vida me deu. Aprendi muitas coisas que vou levar para toda a vida, cresci muito como profissional e, também, como pessoa. Consegui perceber e ter certeza de que amo ser brasileiro, coisa que, às vezes, só a distância nos faz perceber.

Como foi o processo de seleção?

Fiz minha inscrição para o programa em 2019, para a segunda temporada. Passei por todo processo de casting e, de repente, começou a pandemia e não pude viajar para a fase presencial. Dois anos se passaram até que tive a oportunidade de me inscrever novamente. Após a aprovação do vídeo de inscrição, o processo seletivo ainda durou cerca de três meses até ter a confirmação de que realmente iria para a competição. Quando recebi a caixa com a câmera de gravação em casa, passou um filme de todos esses dois anos de espera, estudo e preparação. Foi uma mistura de sensações e emoções!

Você já teve outras experiências na TV, colaborando com o figurino de uma novela e participando de um quadro do “Fantástico”. Como acredita que essas experiências impactaram o seu desempenho no reality show? Você se sentiu mais preparado por causa disso?

Sim e não! Já estava um pouco familiarizado em relação às câmeras e ao processo off camera, que também é demorado e cansativo. Mas, ao mesmo tempo, era tudo novo e uma verdadeira produção de Hollywood, então a dimensão e estrutura de tudo era diferente e grandiosa. Parece que minhas experiências aqui no Brasil foram como um teste preparatório para tudo que vivi lá.

Chaouiche posa ao lado das suas criações para o primeiro desafio no programa, desfilado na Rodeo Drive, em LA – Foto: Reprodução/Instagram/@rchaouiche

Os jurados do programa são grandes nomes do mundo da moda, como foi a troca com eles?  Qual convidado ficou mais animado em conhecer?

Estar à frente de nomes como Heidi [Klum], Tim [Gunn], Jeremy [Scott, diretor criativo à frente da Moschino] e Nicole Richie, além de outros convidados, foi realmente desafiador. Logo no primeiro episódio, após o desfile na Rodeo Drive, eu fui o primeiro entre os dez participantes a ser chamado pela Heidi para ser “entrevistado” por eles e explicar meus looks. Foi uma explosão de sentimentos. Era realmente incrível e emocionante toda vez em que podia ouvi-los me dando dicas, não só sobre os looks mas também com meu inglês. Além da Heidi e do Tim – que cresci assistindo, em “Project Runway” -, senti uma conexão muito especial com a Nicole. Ela tem uma energia relaxante e especial.

Como sua experiência com uma marca nacional – em um País tão difícil de empreender no mundo da moda – te auxiliou no programa? Quais características da moda e cultura brasileira você levou consigo?

Construir uma marca do zero no Brasil, nos últimos anos, foi realmente desafiador, porém me ensinou e me preparou muito para poder me virar fora, onde acredito que as dificuldades sejam ainda maiores. Aqui no Brasil, nós temos uma mão de obra muito qualificada, algo que só percebi quando não estava aqui. Além de uma boa base de criação, acredito que cheguei no programa com noções de business, já que, aqui no Brasil, trabalho tanto no ateliê quanto nas vendas e atendimento aos nossos clientes. Para um estilista, faz muita diferença não só saber criar, como também vender e apresentar seu produto.

Já no meu primeiro desfile, quis criar dois looks que representassem não só o DNA da Chaouiche como também mostrassem minhas origens, com muito brilho e muita cor. Todo mundo lá fora conhece o Brasil pelo Carnaval, então quis representar isso através do brilho e das cores na textura de umas das minhas peças favoritas, o Casaco Asas. Usei como matéria-prima a juta, planta muito explorada na Amazônia e que aqui usamos para fazer sacos de batata, e transformei isso em um casaco-casulo que representa a minha metamorfose, saindo do Brasil e voando para o mundo.

Qual foi seu desafio favorito, em que você sentiu que conseguiu colocar em prática tudo que tinha idealizado?

Para falar a verdade, amei todos os desafios, mas em especial o da Champion. Por me dar a oportunidade de criar uma coleção para uma marca norte-americana centenária.

Rafael posa com os participantes e equipe do reality – Foto: Reprodução/Instagram/@rchaouiche

Como foi o relacionamento com os outros participantes?

Dividir o workroom com outros designers incríveis, cada um com sua visão e sua maneira de construção, foi demais! Senti que tínhamos uma conexão como grupo, cada um sempre tinha algo a acrescentar. Por exemplo, às vezes, minha agulha da máquina quebrava e quem trocava para mim era o Mark [Markantonie Lynch-Boisvert], do Canadá. Quando precisei de alfinetes, quem me salvou foi a Georgea [Hardinge], de Londres, e quando não sabia alguma palavra em inglês, era sempre a Jeanette [Limas], da República Dominicana, que me dava uma luz de como falar ou me expressar. Acredito que vivemos momentos especiais juntos e pude fazer amigos para vida toda!

Agora, com a visibilidade do seriado, transmitido globalmente, você já sabe quais os próximos passos? O que vem por aí?

Confesso que ainda não… Sou do tipo “deixa a vida me levar”. Quero me manter com os pés no chão, seguindo nossa história degrau por degrau, passo a passo, como sempre foi.

Se você pudesse escolher uma pessoa para vestir, brasileira ou não, quem você escolheria?

Sou apaixonado por arquitetura e sempre busco muita inspiração arquitetônica, então, o primeiro nome que veio agora em mente foi a Kelly Wearstler. Amo o estilo dela, acho superconsistente e criativo.

Nos últimos episódios lançados, descobrimos que você já chegou ao Top 4 no programa! Como foi se superar a cada desafio para apresentar criações que surpreendessem os jurados, em um curto período?

OMG! A cada desafio em que percebia que estava mais próximo da final, ficava mais inspirado para continuar. Sempre pensava que estava lá por uma razão maior, não só pelo prêmio. Estava lá para representar meu País, minha família, minha equipe e todos os nossos clientes que sempre acreditaram e investiram em nosso trabalho. Foi muito especial e gratificante perceber que cada esforço e noites mal dormidas realmente valeram a pena!