Camila Pitanga usa vestido Dolce & Gabbana – Foto: Gleeson Paulino, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Caroline Costa, beleza por Daniel Hernandez, direção de arte Yasmin Klein, retoque Thiago Auge, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Joanna Santana e Gabriel Calixto, assistentes de foto Edson Luciano e Lucas Morato, assistente de beleza Grazi Magalhães, assistentes de produção Caio Nogueira e Junior Costa

Por Luanda Vieira

Certa vez, o ator e diretor Antônio Pitanga descreveu sua filha, Camila Pitanga, 48 anos, como quem faz uma poesia: “ela gosta que o corpo dance, que o corpo grite, que o corpo fale”. Definição com que a atriz concorda. “Eu tive o privilégio de ter uma mãe, Vera Manhães, que estimulou a liberdade do meu corpo com a dança e um pai que, quando você analisa o perfil de seus personagens, percebe uma corporalidade linda de movimento, de explosão e de pertencimento. Uma dimensão política mesmo”, diz. Não à toa, Camila interpreta os mais variados papéis como quem tem intimidade com todos eles, seja no teatro, em novelas na TV aberta, no cinema ou no streaming. A vida que ela deu à Lola, aliás, rendeu o prêmio PRODU de melhor atriz principal em telenovela contemporânea por “Beleza Fatal”, em outubro.

“Cada personagem é uma oportunidade de um mergulho novo em um tempo diferente, é como se eu ampliasse a minha escuta. Eu sinto que preciso estar muito aberta para o que eu ainda não sei e para vestir novas vidas. Claro que tudo isso com o meu olhar e a minha bagagem, que são capazes de atravessar o que eu não sou.” Agora, ela se prepara para retornar como Ellen à novela “Dona de Mim”, na Globo, em dezembro, e ensaia a peça “Lira”, dirigida por Bete Coelho, com estreia prevista para março de 2026. “Estou sendo instigada, desafiada e fortalecida”, conta.

Além de toda dedicação à arte, Camila entende que parte do seu trabalho também é social, “assim como deveria ser o de qualquer pessoa que não pensa no mundo só a partir das próprias necessidades”, diz. Confirmando a sua perspectiva, quando reflete sobre o quanto a maturidade trouxe a ela consciência em relação ao descanso e a relação disso com a produtividade, a atriz não deixa de trazer o assunto para o debate público. “Eu me tornei uma pessoa inteiramente comprometida com o meu trabalho na mesma medida que com o descanso. Embora eu possa estabelecer a hora de parar, eu sei que a maioria das pessoas não têm essa escolha. Então eu torço para que o fim da escala 6×1 decole no Congresso, porque é uma luta política necessária à população brasileira, além de ser um pleito de humanidade e respeito”, diz.

A noção política vem de berço e, consequentemente, do seu processo de autoconhecimento que vem sendo construído desde os seus 17 anos. “Os meus posicionamentos têm a ver com a coerência de uma vida inteira e, por isso, eu não faço nada para performar para ninguém. E essa é uma baita conquista minha, porque está relacionada à escolha que eu fiz lá atrás, no início da minha trajetória, de estudar Artes Cênicas na UniRio, batalhar pela minha caminhada sem ser de nenhuma patota, não deixar de me desafiar mesmo quando eu já tinha melhores condições de vida. Tudo isso me dá a possibilidade de, hoje, poder mudar a rota sem ter que agradar qualquer desejo que não seja meu. Isso é ser livre para mim, isso é o que faz sentido para a minha vida agora”, diz.

Assim como a atriz comanda a própria narrativa, também é a favor de mais pessoas negras com o papel e a caneta na mão no audiovisual e em tantas outras áreas. “A gente quer uma revisão da história do Brasil a partir de um ponto de vista preto, porque, quando você faz essa revisão do que até então era apresentado como versão oficial do País, você entende que o negro tem subjetividades, tem pontos de vista diferentes, tem estratégias plurais. E isso amplia a autoestima e o pertencimento de uma comunidade que sempre foi vitimizada ao invés de ser vista como potência”, diz. “A gente precisa ter referências para onde mirar, sabe, para se sentir imantada de tesão pela vida, mesmo com todos os dilemas. A palavra aquilombamento não deve mais ser só um conceito, ela tem que ser a prática.” Atualmente, Camila Pitanga encontra esse apetite pelo futuro na mudança que sua mãe teve em relação à Síndrome da Personalidade Paranoide, com que ela convive há quase 40 anos. “Estou vivendo um momento muito bonito que é o de poder presenciar o renascimento da minha mãe. Quando tudo parecia consolidado, ela, aos 74 anos, está fazendo uma virada de conexão e de presença que eu jamais esperaria. Não tem como eu pensar em estacionar na vida se a minha mãe está feliz”, finaliza.