Apesar do caráter festivo, o Fashion Futures foi mais sobre reflexão do que celebração – Foto: Getty Images

Por Diogo Mesquita 

Com a frase que dá título ao texto, a jornalista e ativista Cris Guterres abriu oficialmente a noite de premiação do Fashion Futures 2024, uma iniciativa idealizada pelo Instituto C&A e que esse ano uniu forças com a Bazaar Brasil.

Circularidade e marcas com produção pautada na responsabilidade ambiental

Na primeira categoria premiada, milhares de projetos foram inscritos pelo site oficial do Fashion Futures. A banca de curadores teve a difícil missão de destacar três iniciativas, priorizando soluções sustentáveis, com foco em matérias-primas e processos desenvolvidos sob a responsabilidade ambiental e com o menor impacto negativo possível.

Quando o envelope foi aberto, encerrando o mistério, a Trama Afetiva, uma plataforma de design social e regenerativo, subiu ao palco. O projeto, iniciado em 2016, promove encontros, painéis e oficinas centrados na busca por alternativas que minimizem os resíduos na indústria da moda. Desde 2023, eles comercializam roupas produzidas com fitas de nylon extraídas de guarda-chuvas recuperados em aterros sanitários.

Jackson Araújo, diretor criativo da Trama Afetiva, agradeceu à rede que tornou o projeto realidade. A cadeia produtiva envolve mulheres egressas do sistema prisional, pessoas trans em situação de vulnerabilidade social e cooperativas de catadores de lixo. “Um rio não deixa de ser um rio quando se encontra com outros rios. Ele vira um rio mais forte. Estamos rompendo a solidão”, refletiu ele.

Diversidade, redução de desigualdades e responsabilidade social

Na categoria mais equilibrada, a banca de jurados não conseguiu escolher apenas uma iniciativa. O prêmio foi dividido entre a Bocaiuva Moda Inclusiva e as Rendeiras da Aldeia, representando todos aqueles que enxergam a moda com um olhar inclusivo, diverso e representativo, ampliando vozes de grupos sub-representados e gerando condições dignas de trabalho.

Eduardo Alves e Luane Sales, da Bocaiuva Moda Inclusiva, comemoraram o reconhecimento e agradeceram ao Instituto C&A. “Fechamos o ano com chave de ouro”, afirmou Eduardo Alves, emocionado.

Lucilene Silva, coordenadora das Rendeiras da Aldeia, destacou o trabalho do coletivo, que teve início em 2006 como um grupo de alfabetização para adultos na vila de Carapicuíba e hoje foca na arte milenar da renda como forma de empoderamento e capacitação profissional. “Buscamos melhores condições de vida e mostramos às mulheres que elas podem alcançar o que quiserem por meio de suas próprias habilidades”, reforçou.

Inovação e novos materiais

Com apenas três anos de vida, a Aiper já é reconhecida por sua inovação e conquistou o primeiro lugar entre os projetos mais inovadores do Fashion Futures. A empresa desenvolveu um processo de biopigmentos microbianos que promove tingimentos ecológicos.

Ailton Pereira, fundador da Aiper, celebrou a conquista e compartilhou sua trajetória. “Sou formado em moda, mas sempre soube que o futuro da indústria seria sustentável. Fiz um mestrado em biotecnologia para realizar meu sonho”, revelou ele.

Projetos sociais na moda

Na última premiação aberta a inscrições, o Fashion Futures reconheceu o trabalho da Oficinas Catarina Mina, que, há mais de 15 anos, promove uma moda colaborativa, valorizando não apenas os artesanatos, mas principalmente as artesãs.

Celina Hissa, idealizadora do projeto e representante de todas as artesãs que dão vida à Oficinas Catarina Mina, celebrou o reconhecimento. “Nosso trabalho com as artesãs e a arte cearense vai além da empresa, tornou-se um propósito. Artesanato é saber, artesanato é cultura”, destacou.

Marca de moda autoral do ano

Na reta final do evento, foi premiada a Dendezeiro, escolhida para representar todo um setor que luta e acredita em uma moda mais inclusiva e afetuosa.

Hisan Silva, estilista e cofundador da Dendezeiro ao lado de Pedro Batalha, subiu ao palco para falar sobre coragem, uma virtude essencial para transformar realidades. “Fui uma criança que cresceu em condições econômicas precárias. Nunca imaginei que a moda me impactaria. Achava que minhas lutas seriam outras”, lembrou.

Personalidade fashion futurista do ano

Encerrando a noite, o Instituto C&A reconheceu mais um embaixador de suas ideias. A banca avaliadora escolheu André Hidalgo, jornalista e agitador cultural, como a personalidade fashion futurista do ano, considerando critérios como liderança, impacto, influência, envolvimento direto em campanhas e projetos relacionados à sustentabilidade e inclusão.

Fundador da Casa de Criadores, que existe desde 1997, Hidalgo já revelou mais de 300 marcas e promoveu mais de 1.000 desfiles. “A Casa de Criadores existe para debater o futuro”, declarou ele, convidando o público para o próximo evento, que acontece de 5 a 10 de dezembro.

Apesar do caráter festivo, o Fashion Futures foi mais sobre reflexão do que celebração. Para o Instituto C&A, a Harper’s Bazaar e todos os impactados pela premiação, o futuro da moda não apenas existe, ele resiste!