Gisela Dantas Rodenburg – Foto: Fe Pinheiro

Por Ana Ribeiro 

“Minhas roupas de frio pensam que eu morri”, brinca Gisela Dantas Rodenburg, numa tarde de sábado, encalorada em sua casa no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. De fato, sua assumida “alma de cigana” a levou a trocar de cidade, de país e de continente até se acomodar nessa casa gostosa em um dos bairros mais lindos do Rio. A antiga moradora, uma designer, deixou para trás sua coleção de revistas de moda dos anos 1990, que Gisela não cansa de folhear. No dia da nossa conversa, me mostrou um editorial em preto e branco assinado pelo fotógrafo Steven Meisel que a impressionou. “Tem coisas que ficam datadas e outras que serão para sempre modernas”, avalia. Em um desses movimentos misteriosos da vida, as revistas que encontrou na mudança são uma convergência do passado, do presente e, muito provavelmente, do futuro próximo de Gisela. Baiana de Salvador, ela se mudou para o Rio ainda criança. Quando começou a se interessar por moda, um dos programas era ir até a banca e “implorar” para sua mãe comprar alguma revista importada. “Eram caríssimas, mas eu ficava fascinada”, lembra. “Tinha a Wallpaper, a Harper’s Bazaar, a Vogue Italia, aquelas edições gigantes da W Magazine”, lembra. Mal sabia ela que logo seria o objeto do seu trabalho, e mesmo ela própria, a estampar as páginas dessas mesmas revistas. Mas vamos começar pelo começo. Gisela estudou Relações Internacionais em Boston. Fez especialização em Moda na Parsons School, em Nova York. Teve uma experiência como PR na Chanel e conheceu Robert Burke, que apontou o caminho a seguir no mercado da moda, uma fórmula que mistura criatividade, empreendedorismo e o lado business do negócio. Ela se mudou para Londres e foi sócia do designer de sapatos Fabricio Viti. Voltou ao Brasil em 2022 e hoje atua como Chief Marketing Officer da Azzas 2154, conglomerado que inclui 34 marcas, entre elas Arezzo, Hering, Cris Barros e Farm, com valor de mercado que gira em torno de 3,5 bilhões de reais.

Inquieta, agitada e falando rápido, como é seu estilo, Gisela me conta como relaciona seu conhecimento de moda, sua posição profissional e suas escolhas para se vestir. “Gosto de escolher minha roupa na hora, conforme estou me sentindo no momento. A roupa tem de se encaixar bem em você, nunca estou fantasiada de nada. Sou fã da bailarina, que está ali penando, mas a gente só vê leveza e graça. Acho que tudo em que você vê o esforço perde o encanto.” Mãe de três meninas, as gêmeas Stella e Bianca, de 11 anos, e Lara, de 2, ela vê que a maternidade se deu de duas maneiras diferentes na sua vida. Para começar, as mais velhas nasceram em Londres, onde moraram até os 9 anos de idade. Lara nasceu no Brasil, é fruto de seu casamento com o atual marido, Newton, e pegou uma versão mais relax de Gisela como mãe. “Com as gêmeas, eu era marinheira de primeira viagem e levava muito a sério certos rituais que considerava importantes. Era rigorosa quanto a horários, tinha hora para tudo. Agora, tenho outra idade (ela está com 40 anos) e uma outra flexibilidade. Mas ser mãe implica ter culpa. Você sempre tem culpa por alguma coisa. Em vez de ficar feliz de não ter tantas paranoias, às vezes me questiono se estou sendo tão boa mãe como antes. Acho que é isso: a gente vira mãe e imediatamente vira culpada.”

Gisela Dantas Rodenburg – Foto: Fe Pinheiro

Outra diferença é que, no Brasil, ela tem mais ajuda. Sua própria mãe mora no Rio, assim como duas irmãs. A vida é agitada, e para fazer caber tanta incumbência não tem mistério: ela acorda cedo e dorme tarde. Um dia típico na vida de Gisela é tomar café da manhã com as meninas, levar para a escola, fazer exercício (pratica yoga e capoeira), ir para o escritório. “Não gosto de trabalhar de casa”, explica. Na hora do jantar em família, desliga o celular. Só depois de levantar da mesa é que liga de novo. Nas horas vagas, um dos programas favoritos é passear com as filhas. E ainda gosta de ler revistas. Ela nota muitas diferenças entre o conteúdo das publicações do passado e as atuais. “Não sou daquelas que acha que o politicamente correto é chato. Penso o contrário, que é importante a gente ter consciência das coisas. Antigamente, as revistas femininas martelavam na nossa cabeça um ideal de perfeição. Ninguém fica melhor quando quer parecer com o outro. Você só fica melhor quando abraça você mesma.”