
Luísa Sonza é, ao mesmo tempo, cria e vítima das redes sociais. Foi por meio delas que estourou, tendo o Instagram como plataforma, e roubou as atenções no YouTube com covers de seus artistas preferidos. Pelas mesmas redes sofreu hatings, ataques machistas, discriminação de todo o tipo, só porque ousou seguir seu coração.
A idade é pouca, 22 anos, mas já tem muita história para contar – e muito a ensinar. Comecemos pelo presente. Prestes a lançar o segundo álbum de inéditas, ainda sem título, Luísa quer usar a música para tocar nestes assuntos, que até agora não haviam sido falados. Reflexo do amadurecimento pessoal e profissional, ao invés de ritmos e gêneros, pensou nos sentimentos que queria expressar. “Sofrência do desabafo”, sinaliza.
Na nova fase, promete quebrar o silêncio sobre tudo o que viveu no último ano. E não foram poucas as emoções: houve a separação de Whindersson Nunes, fenômeno da internet, o engate de um novo relacionamento, com o cantor Vitão, e todo o ódio que enfrentou por conta disso. “Tudo o que eu vivi neste último ano, tudo o que viram ou acharam que vivi estará presente”, resume.

Está, simplesmente, botando para fora muita coisa que guardou para si, foi silenciada ou não teve como sintetizar em palavras. “É o único lugar que não tem como fugir da minha verdade. Não consigo cantar nada que não seja 100% o que sou.”

Esse capítulo da história ela pretende contar sozinha e com poucas parcerias (internacionais estão sendo negociadas), além da já conhecida com Pabllo Vittar e Anitta. Colaboraram o próprio namorado, Day e Rafinha RSQ, sob direção musical de Douglas Moda.
Extremamente intensa e entregue aos sentimentos, o “modo turbo” dos palcos de Luísa tem força imbatível, que a acompanha desde sempre. Braba, como diz um de seus hits, é a artista e empresária com metas a serem traçadas, o que inclui uma carreira internacional no horizonte, já que o funk está alçando voos. No círculo íntimo, se confessa uma manteiga derretida. Gosta de viver em família, encarnando o papel de namorada do Vitão, de amiga, filha e também de mãe. Calma! Estamos falando das cachorrinhas Britney e Gisele, da raça pinscher.

Todas as bandeiras que levanta vêm da criação e da constelação familiar, composta por matriarcas. Obstinada, foi incentivada a fazer sempre o que gosta. E precisava se jogar de cabeça sem voltar atrás, mesmo que fosse um tiro no escuro. Com apoio da família, se arriscou como líder estudantil, praticou esportes, equitação, além de dançar e cantar. “Fui ensinada a estar presente. Tudo que me propusesse a fazer, teria de ir até o final”, recorda sem nenhum arrependimento.

O sonho de ser artista e morar em São Paulo parecia muito distante quando ainda morava em Tuparendi, no Rio Grande do Sul, apesar de já cantar em festivais aos 7 anos. Àquela altura, entrou para uma banda que se apresentava em eventos e casamentos. E lá se foi uma década investindo na construção da personagem que hoje esbanja carisma on stage. E muito estilo também. Luísa prioriza designers brasileiros, que estão começando, e não se incomoda de repetir roupas e acessórios. “O contrário é démodé”, diz.
O turning point na carreira veio há um ano com o lançamento de “Braba”, deixando ali sua “marquinha” no pop nacional, contrapondo-se ao seu primeiro álbum, “Pandora” (2019), ofuscado pela pressa com que ganhou a atmosfera.

Com a pandemia, veio a vontade de relaxar sem se culpar – algo que nunca tinha conseguido fazer até então. E começou a se dedicar a um novo álbum sem data certa para lançar. Entre um livro e outro, hábito que retomou no lockdown, e muitas sessões de terapia, tem tentado ficar mais distante do celular, “uma bomba de informação para a ansiedade.”

O namorado até incentiva a meditação, que ela tem tentado seguir. Sondada para o “Big Brother Brasil 21”, da Globo, negou o convite. Não quis trocar de mãos quem escreve o roteiro da sua história. Vai comendo pelas beiradas, construindo degrau por degrau a carreira perante o público. “Como meu foco é a música, foi só uma questão de estratégia”, conta.
Quando começou a despontar, teve de ser linha-dura nas entrevistas, clipes e tudo o que diz respeito à sua profissão para ganhar respeito. “No Brasil, as pessoas não conseguem distinguir vida pessoal e trabalho”, lamenta. No seu caso, teve de lidar com comentários odiosos desde o primeiro dia que pisou na internet. “Estou no lucro agora. Antes, todo mundo me odiava. Agora, só 50%”, brinca.

Para ela, as pessoas disseminam esse ódio por factóides em que acreditam. A vida do artista é quase uma novela pelas redes sociais diante de um tribunal pronto para cancelar esses atores da vida real. “Tem o vilão, o mocinho, a vilã, a mocinha. E são só seres humanos que erram e acertam”, analisa.
Dividindo-se entre sua casa e a do namorado, na capital paulista, diz que os dois são aquele típico casal que usa até aliança de compromisso. “Esse é o nível de breguice. Uma das coisas que mais amo no nosso relacionamento é que a gente vive em família”, conta ela, que chama a sogra de mãe e já compartilhou até tatuagem feita na mão. “Família é a coisa mais importante, troca profunda e espiritual”, diz, emendando que sempre sonhou com isso. “Valorizo muito essa proximidade, porto seguro um do outro.”

É o que a ajuda a seguir em frente para se revelar ao mundo como artista e ser humano. Paciência e calma para isso ela tem – e de sobra. Além de uma nobreza inabalável, poucas vezes vista no tribunal da internet.