
Marcella Terlizzi abre as portas de seu apartamento de tons claros e estilo leve e saudável, em Ipanema – Foto: Pedro Bucher
Por Ana Ribeiro
Do lado de fora, o mar de Ipanema tem dias calmos e outros mais agitados. Tem vezes em que a água está quente, em outras, mais fria. Os tons de azul da água e do céu variam de acordo com o sol. Do lado de dentro, o apartamento de 430 metros quadrados foi planejado para refletir a calmaria da natureza, os tons neutros da areia e os dias em que o mar está pacífico. Mas o casal que vive ali é bem jovem e também gosta de movimento – e o espaço se presta bem a isso. “Gosto de levar um estilo de vida saudável, minha casa é meu lugar de refúgio e autocuidado. Acordo para ver o sol nascer e para fazer yoga na sala com vista para o mar”, conta Marcella Terlizzi.
Para se tornar essa belíssima moradia, com um janelão de frente para o mar, onde fazem parte da vista a Pedra do Arpoador à esquerda e o Morro Dois Irmãos à direita, o apartamento passou por uma obra deliciosa de se concretizar, segundo Antonia Bernardes, sócia e diretora de interiores do escritório Bernardes Arquitetura. “Eles sabiam exatamente o que queriam, já moravam em um apartamento todo claro e o desejo era seguir nessa sensação de leveza e relax. Uma coisa bem carioca e mais sofisticada. Foi um projeto tranquilo de se criar e executar.”

Luminária de cobre e mesa de jantar feita de tora de madeira maciça cercada pelas cadeiras Anel, de Ricardo Fasanello. No aparador, o abajour de cerâmica do Studio Arthur Casas – Foto: Pedro Bucher
Com o décor feito a quatro mãos, por Marcella e o time da Bernardes Arquitetura, o apartamento ficou calmo e elegante. Os toques de sofisticação estão por todos os lados – inclusive, obviamente, do lado de fora. É privilégio de poucos ter uma vista a perder de vista de uma das praias mais famosas do mundo. Outra intenção dos moradores era compor o apartamento com peças de designers legais, que eles pudessem levar para a vida, seguindo sempre a indicação de tons neutros, crus – “meio off ”, como define Antonia –, para deixar o apartamento atemporal e fresco. “Como a paleta de cores seria enxuta, tivemos essa preocupação com as formas e texturas, além de usar materiais naturais como pedra e madeira, que trazem sensação de aconchego e leveza”, conta Marcella.
A experiência de Antonia no mundo da moda, universo que habitou antes de seguir a vocação familiar da arquitetura, veio a calhar. Na época em que tinha sua própria marca, que levava o seu nome, ela usava tecidos 100% naturais, como linho, algodão e seda, para criar peças de estilo imperecível. De certa forma, o pedido dos clientes do apartamento de Ipanema combinou perfeitamente com o gosto pessoal da designer. Para vestir o apartamento, ela optou por uma textura única e bem neutra, começando pelas paredes da sala, o piso, os tapetes e o mobiliário. “Fomos construindo o projeto juntos, foi um processo orgânico”, diz ela, dando uma dica de como funciona o desenvolvimento de praticamente todos os seus trabalhos.
Outra coisa que Marcella indicou logo de cara foi que não queria muita marcenaria, então Antonia usou peças de desenho simples: um bancão de madeira freijó (de tom claro) acompanhando a janela da sala, o mesão de jantar feito de tora de madeira maciça cercado pelas cadeiras Anel, de Ricardo Fasanello. A escolha das peças que compuseram os ambientes também foi conjunta. Entre os designers escolhidos estão Sergio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Jacqueline Terpins, Claudia Moreira Salles, Ingo Maurer e Arthur Casas. O sofá Curva também é um desenho do escritório de Antonia com seu irmão Thiago Bernardes e mais nove sócios. “Escolhemos confeccionar o sofá com um linhão de textura bonita”, explica a designer.

A mesa de bilhar e pingue-pongue criada pelo time da Bernardes e as poltronas triangulares de Jorge Zalszupin – Foto: Pedro Bucher
Um móvel que faz parte do momento em que o casal chama os amigos para celebrar é a mesa que se presta ao mesmo tempo a partidas de bilhar e de pingue-pongue, desenhada pela Bernardes Arquitetura e feita sob medida para o espaço. “Tudo foi desenhado para termos uma rotina gostosa e funcional. Costumo acordar aos domingos e jogar pingue-pongue com meu marido”, conta Marcella.

Uma outra visão da sala e das poltronas Zalszupin, compostas com o bar Totó, da Etel – Foto: Pedro Bucher
Ela e o marido, ambos cariocas, não têm filhos e gostam muito de receber os amigos. E de receber pessoas em casa Antonia entende bem. Filha de Claudio Bernardes e neta de Sérgio Bernardes, dois nomes que influenciaram muito o universo da arquitetura no Rio de Janeiro e no Brasil, ela conta que a casa da família em Angra dos Reis praticamente não tem paredes: todos os ambientes são integrados para as pessoas circularem e conviverem à vontade. O apartamento de Ipanema também tem espaços integrados. Nas ocasiões em que o casal convida os amigos, a calmaria se transforma em agitação e a maré mansa do espaço interno é alterada. Porque lá fora, chova ou faça sol, com vento ou sem vento, o mar sem fim do Rio de Janeiro continua sendo o cenário.






