
Marina Candia Figueiredo usa gola alta Intimissimi e colar Sauer – Foto: Henri Parv, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Alexandre Montanher, styling de Giusepe Botelho, maquiagem por Erika Livram, assistente de foto Faul Ferreira, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub e produtora responsável Claudia Nunes
Administradora de formação, Marina Candia Figueiredo leva o que aprendeu no setor privado para a administração pública. Pantaneira de nascimento, natural de Cuiabá (MT), é cidadã honorária de Maceió. A primeira-dama do município empresta seu rosto, cuidado e redes sociais (são quase 150 mil seguidores só no Instagram) aos projetos que ajudou a conceber.
Idealizadora e embaixadora do Banco da Mulher e do programa itinerante Saúde da Gente, entendeu que sua vocação é ouvir as dores da população e dar voz às mulheres, trazendo-as para a discussão. Dona de uma marca de moda no passado, usou seu lifestyle para alavancar as vendas em uma era pré-boom das redes sociais. Hoje, usa o mesmo approach para resgatar a autoestima de mulheres que buscam independência financeira.
Harper’s Bazaar – Como foi sair do setor privado e voltar as atenções para o público?
Marina Candia Figueiredo – Quando veio o lockdown, tomei meu primeiro baque como dona de marca de roupas (a Tugore). Logo, me casei (com João Henrique Holanda Caldas, mais conhecido como JHC). Fui para Maceió perdida profissionalmente e não me sentia capacitada para ser primeira-dama, porque não entendo nada de política. E meu marido nunca me pressionou. Sou uma pessoa muito religiosa e entendi que não precisava estar pronta. Ninguém nasce pronto politicamente falando. Tinha muito medo de rejeição e, se as pessoas não gostassem de mim, recuaria.
HB – E quando sentiu essa mudança de chave?
MCF – Quando fui para a rua, entendi que aquele era meu propósito. São muitas energias envolvidas. Poderia ouvir e viver para servir as pessoas. Era uma coisa que faltava em Maceió, uma figura de primeira-dama, uma pessoa para ouvir… Porque, às vezes, não vou resolver o problema dela, mas ela quer ser ouvida. Dou a minha atenção e carinho. Comecei a entender algumas coisas e sentir as feridas. Como poderia usar a minha posição para ajudar as outras pessoas? Porque, querendo ou não, primeira-dama é uma coisa muito figurativa, está ali porque é a esposa do prefeito. Não foi capacitada, não foi eleita nem tem uma faculdade para estar ali em específico. Mas, quando decidi, me entreguei.

Marina Candia Figueiredo usa camisa Francesca e Sandra Cavalcante – Foto: Henri Parv, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Alexandre Montanher, styling de Giusepe Botelho, maquiagem por Erika Livram, assistente de foto Faul Ferreira, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub e produtora responsável Claudia Nunes
HB – E qual a sua marca nesse sentido?
MCF – Uso onde estou para dar voz às pessoas. E sou totalmente o oposto do que, normalmente, se espera do cargo. Todo mundo chegava para mim e falava: faça ações sociais, porque muitas mulheres de prefeito são secretárias de ação social. Sou empresária. O que sei é empreender. Não tenho nada contra quem faça, porque cada um sabe o papel que lhe é designado. E pensei em resgatar a autoestima das empreendedoras. A única forma de um povo ser liberto é quando tiver autonomia financeira. Posso fazer o que for, distribuir quantas cestas básicas forem, no próximo mês vão precisar de mim.
HB – Como começou seu lado no empreendedorismo social?
MCF – Foi no Banco da Mulher. As mulheres queriam ser empreendedoras, mas não sabiam por onde começar. Precisavam dar a primeira alavancada. É muito pouco o que precisam. São manicures, costureiras, bordadeiras, artesãs. É só o básico para começar, como material de trabalho. Hoje, não exerço nenhum cargo administrativo, sou voluntária e embaixadora dos programas. Também uso as redes sociais para dar visibilidade a essas pessoas.
HB – E de onde veio o saúde da gente, o programa itinerante?
MCF – Quando comecei a visitar os bairros, tem locais que a gente não consegue chegar com o posto de saúde. Comecei a perceber que eram comunidades e conjuntos habitacionais que não tinham nem quantidade populacional para você abrir uma UBS (Unidade Básica de Saúde), mas posso ir ali fazer um atendimento em uma estrutura itinerante, e resolver a atenção primária, exames clínicos de rotina, perguntar se tem alguma queixa ou dor recorrente. E a gente vai acompanhando esse paciente. Agora, todos têm cadastro no SUS com dados atualizados no Ministério da Saúde.

Vestido À La Garçonne – Foto: Henri Parv, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Alexandre Montanher, styling de Giusepe Botelho, maquiagem por Erika Livram, assistente de foto Faul Ferreira, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub e produtora responsável Claudia Nunes
HB – Nessa pesquisa, você percebeu que havia uma vocação entre essas mulheres?
MCF – O Banco da Mulher é composto 60% pela área da Beleza. São massagistas, manicures, cabeleireiras e esse entorno. O mais importante é dar apoio àquela mulher que tem um bebê, não pode sair para trabalhar, mas pode atender na casa dela. Ela pode ser mãe e, também, empreendedora. Querem fazer bolo e vender para as vizinhas. Isso faz o dinheiro circular no próprio bairro. O nordestino e o alagoano, em especial, são muito talentosos.
HB – Você vem do agronegócio. como é ser mulher nesse mercado?
MCF – Eu amo, sou pecuarista, atuo com meu pai na empresa dele junto às minhas irmãs. A gente vende carne e soja, no Mato Grosso. É a minha paixão, não tenho vergonha. Sou pantaneira raiz! Se você entrar nas redes sociais, dá para ver. Tem uma frase muito boa, que diz: “Qualquer caminho serve para quem não sabe aonde quer chegar”. E, principalmente, para quem não sabe de onde saiu. Sei de onde saí e sei aonde quero chegar.

Marina Candia Figueiredo usa camisa Francesca e Sandra Cavalcante – Foto: Henri Parv, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Alexandre Montanher, styling de Giusepe Botelho, maquiagem por Erika Livram, assistente de foto Faul Ferreira, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub e produtora responsável Claudia Nunes
HB – E quais são as marcas locais que têm o DNA de Maceió?
MCF – Tem muita marca legal, principalmente artesãos. A Foz, estreante da SPFW, muito orgulho de tudo o que Antonio Castro está fazendo e como está representando Maceió. Faz moda nordestina mesmo. Tem outras marcas, também, como Bikini Fox, inovadora e legal. Claire, Lucia Bastos (acessórios confeccionados por mulheres), Liz Wanderley, Sandra Cavalcante… São muitas.
HB – Por fim, quem é a Marina Candia que não está nas redes?
MCF – É essa da arte do encontro, de dar voz a quem não tem. Não sou primeira-dama, eu estou. Nesse período, quero fazer a diferença. Como mãe, estou me encontrando (risos). Nasceram a mãe e a primeira-dama na mesma época. Maria Helena tem dois anos e estou me redescobrindo. Me cobro muito. Penso que poderia ser melhor todos os dias… Mas nada me faz mais feliz do que quando estou na rua e recebo um sorriso, que só o maceioense tem.