Por Jéssica Colaço, da Plataforma Márcia Travessoni
A experiência de viver em família sempre teve um conceito expandido na vida de Dora Andrade, 63. Filha da mulher mais generosa que ela afirma ter conhecido na vida – a professora Gislene Andrade -, ela se acostumou cedo a ter sempre gente em casa, em busca de acolhimento. “Tive a oportunidade de vivenciar muito cedo essa coisa de uma certa corresponsabilidade com os outros”, conta.
Aos 10 anos, Dora começou os estudos em dança e trilhou o caminho de uma bailarina de sucesso, com grandes mestres e temporadas de estudo internacionais. No início dos anos 1990, para manter as atividades do próprio grupo de dança, ela buscou ajuda do governo do Ceará, que exigiu uma condição: “era insuficiente manter o grupo, eles quiseram que a gente ampliasse a contrapartida. Como a vida inteira eu tinha trabalhado na área social, pensei em trabalhar com crianças.”
O que começou com turmas voltadas para crianças em situação de vulnerabilidade social na orla de Fortaleza, revezadas com atividades de um grupo de dança independente, acabou se transformando na Escola de Desenvolvimento e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca), com 31 anos de atuação e reconhecimento internacional por instituições como Unesco.
A entidade atende uma média de 300 crianças e adolescentes; capacita 100 mulheres na área de gastronomia; e emprega 32 funcionários. “Foi uma convocação ética, porque as circunstâncias das crianças eram muito desafiadoras, elas eram muito vulneráveis. Eu não queria fazer outra coisa da minha vida que não fosse trabalhar com essa realidade. Meninos e meninas plenos em potência e talento”, diz, com a mesma empolgação que a impulsionou décadas atrás. “Nós, da Edisca, temos uma percepção de família bem mais expandida. Percebemos essas crianças como responsabilidade nossa, que merecem e precisam ser protegidas, acompanhadas e incentivadas”, atesta.


