“Sinto saudade dos encontros, das festas, dos museus, dos lugares que renovam as minhas experiências e do respiro que a rua proporciona”, conta a jornalista e artista carioca Gabriella Marinho, personalidade homenageada na coluna “Mulheres que Inspiram” desta semana.
Em confinamento desde que a pandemia pintou no horizonte, ela sabe que a vida tem sido regida à distância, arrematada por uma “ponte” ou cerceada por um “muro”. Influenciada pela mãe, a moça adicionou arte ao portfólio pouco antes de concluir a especialização em Literaturas Africanas, em 2016.
“Ali, eu comecei a entender a importância do chão de barro e as suas simbologias estéticas e filosóficas nas culturas africanas e afro-brasileiras. Nessa época, já estudava cerâmica, mas estava prestes a abandonar a prática por questões financeiras. Em vez disso, adaptei um espaço em casa para desenvolver estudos que falavam sobre a minha existência enquanto mulher negra, buscando referências e tecnologias ancestrais que, historicamente, sofrem com o apagamento. Em meus trabalhos estão presentes linguagens como escultura, pintura, poesia, fotografia e audiovisual, sempre tendo o barro como principal narrativa”, conta Gabriella Marinho.
Depois de participar da última SP-Arte Viewing Room, com obras representadas pela 01.01 Art Platform, entre as quais, destaque para Agô, cerâmicas variadas feitas a partir de um poema que se desdobra em 16 esculturas de búzios e argilas, Gabriella figura como apresentadora do podcast “Gingas, Mandingas e Confluências”, que ainda tem as presenças de Fábio Emece e de Carol Gonçalves, e aborda temas correlatos à arte.
Entre as suas atividades cotidianas, ela também atualiza o catálogo de peças do Ateliê Kianda, e está prestes a lançar a primeira edição de um curso introdutório online sobre cerâmica.
“O presente tem sido cada vez mais afastado de nós. Então, é um exercício diário percebê-lo e compreendê-lo. Temos dinamizado a forma com que visibilizamos o racismo, o machismo e a LGBTfobia com o aumento absurdo do uso da internet – isso escancara a realidade cruel em que vivemos. Acredito que para pensarmos em um futuro possível e diverso, a arte e a comunicação são ferramentas fundamentais”, diz – e emenda com um verso de sua autoria: “A vida se ressignifica ao sair do mar/ antes moeda de troca/ agora ponte oracular/ búzio é bússola que aponta pro sul/ e faz refletir sobre um futuro/ que atribui ao passado/ sua devida importância”.