No início dos anos 1980, Maria Teresa Leal, então estudante de sociologia, deu os primeiros passos em uma jornada que marcaria a história do trabalho artesanal no Brasil. O que começou como uma observação da habilidade de mulheres cearenses na comunidade da Rocinha se transformou, em 1987, na criação da Coopa-Roca, uma cooperativa que oferecia estrutura e visibilidade ao talento dessas artesãs.
“Eu já flertava com a moda, lógico. Mas, na prática, descobri todo o potencial da moda de gerar oportunidades”, analisa Maria Teresa.
Com a visibilidade conquistada em seus primeiros desfiles – o primeiro no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo no Phytoervas Fashion – e chamada a atenção de Paulo Borges, a Coopa-Roca se consolidou como referência no uso do artesanato têxtil de forma inovadora. “Os eventos de moda geraram visibilidade, mas também conexões e oportunidades”, conta.
Nos anos seguintes, a cooperativa atravessou fronteiras, realizando exposições e colaborações com marcas como Lacoste, Osklen e Christian Lacroix. “Em 2013, participamos do projeto com a Lacoste, que foi a produção limitada – superlimitada – de um projeto que unia os irmãos Campana e a Coopa-Roca. Nessa produção, integramos em torno de 120 artesãos da Rocinha”, relembra.
Mas o crescimento da cooperativa também veio com desafios. Em 2015, diante de conflitos internos que desviavam o foco da produção, Maria Teresa se afastou do projeto da Rocinha e se dedicou ao mestrado no Departamento de Artes e Design, na PUC-Rio. “Resolvi dar um tempo. Mergulhei no curso, que foi interessante porque sistematizei meus pensamentos, integrando o meu conhecimento tácito com as leituras”, explica.
E foi ao longo do curso que Maria Teresa reformulou o projeto. “No meio do caminho do mestrado, já estava conhecendo novas artesãs, já estava procurando, conhecendo e entendendo o novo modelo da Coopa-Roca. Quando sai da Rocinha, deixei a sede e o terreno, deixei o material, o estoque… Mas fui com o nome, para dar continuidade ao trabalho. Nesse momento, eu decidi que não queria ir para dentro de uma comunidade. Optei por um local no centro da cidade, de fácil acesso para as artesãs. O que descobri na Rocinha é que as mulheres que vivem ali naquele lugar se deslocam pouco. O novo local da Coopa-Roca estimula o deslocamento, uma oportunidade para elas exercitarem esse direito de ir e vir com liberdade.”
Em 2018, a iniciativa encontrou novo endereço na área central do Rio de Janeiro, na Praça Tiradentes, e passou a reunir bordadeiras e crocheteiras de diferentes localidades. O recomeço não foi simples, principalmente pós-pandemia, com a transformação da dinâmica comercial e a dificuldade de interlocução com grandes marcas.
“Depois da pandemia, a dinâmica da comunicação mudou completamente. Você não consegue mais ligar, não consegue mais falar com as pessoas. Eu não consegui mais articular oportunidades para as mulheres”, conta Maria Teresa. Ainda assim, a missão da Coopa-Roca se manteve firme: aprimorar a competência técnica das artesãs e gerar oportunidades econômicas.
Um novo começo no Distrito Reviver Cultural
Em 2024, a Coopa-Roca foi um dos 43 projetos aprovados para integrar o Distrito Reviver Cultural, programa da prefeitura do Rio de Janeiro que busca revitalizar a região central da cidade. O novo espaço, localizado na Rua da Quitanda, será a Galeria Boutique da Coopa-Roca, um espaço de promoção e comercialização do trabalho artesanal têxtil diferenciado, além de integrar diversas experiências culturais relacionadas ao setor. “Esse é um momento de virada para o negócio social. O consumo consciente está em crescimento e temos todos os requisitos para entrar em campo e fazer um bonito trabalho”, destaca.
Para dar início a essa nova fase, uma ação especial começa nesta segunda-feira: o lançamento do pingente bordado em ponto cruz, com iniciais personalizadas. “O projeto tem por objetivo fomentar o trabalho da Coopa-Roca com as artesãs para o nosso lançamento no Distrito Reviver Cultural”, explica Maria Teresa.
O pingente tem uma inicial bordada com fio francês 100% algodão, em um colar de corrente com banho de ouro amarelo 18k. A peça, que vem em uma caixa produzida artesanalmente em bronze, está à venda no site da iniciativa por R$ 689,00 (ou por R$ 657 no débito ou Pix).
A venda do pingente é apenas o início da nova fase, que tem como destino o espaço físico em uma área histórica da Cidade do Rio de Janeiro. Com isso, a Coopa-Roca se fortalece para continuar promovendo a transformação social, cultural e econômica, por meio da arte e da moda. “A moda sempre flertou com o artesanal, mas o desafio é ir além. Queremos mostrar que o trabalho artesanal têxtil pode ter permanência, sofisticação e valor real”, finaliza.